João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, MG, em 27/6/1908. Escritor, médico, diplomata, poeta, romancista, contista e poliglota, é considerado um dos maiores escritores da literatura brasileira. Além de criar, dar forma e voz ao ser-tão expressivo na escrita, registrou um modo de ser-tão peculiar dos lugares mais afastados dos centros urbanos.
Filho de Francisca Guimarães Rosa e Flordualdo Pinto Rosa, começou a estudar línguas, sozinho, aos 7 anos (francês); aos 9 encarou o holandês; com uns professores; em seguida pega o alemão e prossegue. Mais tarde declarou: “Eu falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração”.
Este gosto pela linguagem propiciou-lhe um estilo literário marcado pela influência da falar popular e regional que, somados à erudição do autor, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas. Seus contos e romances têm como ambiente o sertão brasileiro, onde os personagens utilizam uma linguagem “simples”, própria do interior, i,é do sertão.
Na infância, foi morar com os avós em Belo Horizonte, onde concluiu os primeiros estudos. O curso secundário se deu em São João del-Rei e retornou à capital. O tio Adonias, rico fazendeiro, patrocinou seus estudos no Colégio Arnaldo. Em 1925 ingressou na Faculdade de Medicina com apenas 16 anos. Ainda estudante, participou de um concurso literário da revista O Cruzeiro, em 1929. Enviou 4 contos: Caçador de camurças, Chronos kai anagke (tempo e destino), O mistério de Highmore Hall e Makiné. Todos foram premiados e publicados em 1929-30 e foram escritos com a intenção de ganhar uma bolada de 100 contos de réis.
Em 1930 casou-se com Lígia Cabral Pena, com quem teve duas filhas e no mesmo ano recebeu o diploma de médico. Passou a exercer a profissão em Itaguara, onde permaneceu por 2 anos.
Consta que foi aí que passou a ter contato com os elementos do sertão, servindo-lhe de referência e inspiração a sua obra. Em seguida serviu como médico voluntário durante a Revolução Constitucionalista de 1932, e depois tornou-se oficial-médico, por concurso, da Força Pública do Estado de Minas Gerais. Atuando em Passa Quatro (MG), manteve contato com o futuro presidente Juscelino Kubitschek, médico-chefe do Hospital de Sangue.
Em 1933 foi para Barbacena, ocupando o cargo de médico no 9º Batalhão de Infantaria. No ano seguinte decidiu seguir a carreira de diplomata; prestou o concurso do Itamarati e passou alguns anos atuando em países da Europa e América Latina. Foi cônsul-adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, de 1938 a 1942, onde conheceu sua segunda esposa: Aracy de Carvalho, da Embaixada, que ficou notabilizada pela ajuda que prestou a muitos judeus para fugir do Holocausto durante a 2ª Guerra Mundial. Por esta ação humanitária e de coragem, ela ganhou o reconhecimento do Estado de Israel e é a única mulher brasileira homenageada no “Jardim dos Justos entre as Nações”, no memorial oficial de Israel para lembrar as vítimas judaicas do Holocausto.
De volta ao Brasil, serviu como diplomata nas embaixadas brasileiras do em Bogotá e Paris. Em 1937, recebeu um prêmio da ABL – Academia Brasileira de Letras, pelo livro de poesia Magma, considerado por ele mesmo uma obra menor. No mesmo ano, participou de outro concurso com o livro de contos Sagarana, que foi revisto e publicado em 1946. Aí incluiu o conto A hora e a vez de Augusto Matraga, adaptado para o cinema em 1965, sob a direção de Roberto Santos. A publicação deste livro garantiu-lhe um lugar de destaque no panorama da literatura brasileira, pela linguagem inovadora, pela singular estrutura narrativa e a riqueza de simbologia dos seus contos.
A partir dali o regionalismo estava novamente em pauta, mas com um novo significado e assumindo a característica de experiência estética universal. O nome “Sagarana” foi criado por ele mesmo, com a junção das palavras “saga”, que designa as epopeias escandinavas, e “rana”, que vem do tupi e quer dizer “semelhante a”, ou seja, “próximo a uma saga”. (continua no próximo domingo)