Francesco Antonio Maria Matarazzo nasceu em 10/12/1854, em Castellabarte, Itália. Comerciante, industrial, banqueiro e filantropo. Foi um dos homens mais ricos do mundo. Criador do maior complexo industrial da América Latina no início do séc. XX. Obteve o título de Conde e teve mais de 300 fábricas em todo o País com o pomposo nome – IRFM – da família reunindo todas elas.
Filho de Mariangela Jovane e Costabile Maatarazzo, foi agricultor na Itália e herdeiro da propriedade da família na região de Compânia. Veio para o Brasil em 1881, aos 27 anos, em busca de melhores condições de vida. Trouxe consigo uma carga de 2 toneladas de banha de porco para negociar por aqui. Mas, ao desembarcar no Rio de Janeiro, a carga caiu no mar e ele ficou a ver navios, literalmente. Com o pouco de dinheiro que restou, foi para Sorocaba, virou mascate e depois abriu uma bodega de secos e molhados. Mais tarde se estabeleceu numa pequena indústria de produção de banha de porco.
Em 1890 mudou-se para São Paulo e criou a empresa Matarazzo & Irmãos. O irmão Giuseppe comandava uma fábrica de banha em Porto Alegre e Luigi lidava com um depósito-armazém em São Paulo. Além da banha, passou a importar farinha de trigo dos EUA. A empresa foi dissolvida no ano seguinte, quando foi criada a Companhia Matarazzo S.A., contando com 41 acionistas e controlando as fábricas de Sorocaba e Porto Alegre. Em 1898, a importação de farinha de trigo foi interrompida com a Guerra Hispano-Americana e ele conseguiu crédito do London and Brazilian Bank para construir um moinho de farinha de trigo, em São Paulo.
A partir daí a empresa se expandiu rapidamente com fábricas em todo o País. Chegou a ser a 4ª maior empresa do Brasil. 6% da população paulistana trabalhavam em suas fábricas. Em 1911, promoveu uma mudança no grupo de empresas, passando a tornar-se Indústrias Reunidas Fabricas Matarazzo-IRFM, uma sociedade anônima. Sua estratégia de crescimento, deu-se de um modo natural: “uma coisa puxa a outra”. Assim, para embalar o trigo, montou uma tecelagem; de sacos; para aproveitar a semente do algodão usado na produção do tecido, instalou uma refinaria de óleo; para obter as latas para embalar a banha, criou uma metalúrgica e assim por diante. O título de Conde foi dado pelo Rei da Itália, Vitor Emanuel III, por ter lhe ajudado com mantimentos durante a I Guerra Mundial (1914-1918).
Admirador de Benito Mussolini, contribuiu financeiramente com o fascismo e muitos de seus operários eram imigrantes italianos. De certo modo era visto com desconfiança pela elite tradicional e pela nascente classe média urbana. No entanto participou ativamente do convívio social, se instalou num belo palacete na Avenida Paulista e em 1928 foi um dos fundadores do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo-CIESP e pouco depois da FIESP-Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, em 1931. Faleceu em 10/12/1937, como o homem mais rico do País, italiano mais rico do mundo, detentor da 5ª maior fortuna do planeta, com um patrimônio avaliado na época em 20 bilhões de dólares.
Foi agraciado com títulos nobiliárquicos e comendas: Conde, concedido pelo rei Vitor Emanuel III, da Itália, em 1917; Cavaleiro Magistral da Ordem Soberana e Militar de Malta; Cavaleiro de Grã-Cruz do Grande Cordão da Ordem da Coroa da Itália; Cavaleiro da Ordem de Mérito do Trabalho, Cruz do Cavaleiro da Ordem do Mérito da República da Hungria; Cavaleiro Oficial da Ordem do Cruzeiro do Sul e Presidente Honorário do Palestra Itália (atual Palmeiras). Após sua morte o império de empresas foi se desfazendo na mão dos tantos herdeiros (13 filhos). Mas ainda existem empresas descendentes do império Matarazzo.
A decadência do império é atribuída a má administração dos negócios e aos conflitos familiares. Alguns analistas ressaltam o modelo empresarial engessado, a falta de foco e a perda de certas oportunidades, como o convite feito pelo então presidente Juscelino Kubitschek à família para participar da primeira montadora de automóveis no Brasil, a Volkswagen. Não obstante o tamanho da riqueza, era um homem discreto nos gastos pessoais. Conta a história que numa viagem à Itália, encomendou um terno ao seu alfaiate, que lhe perguntou qual a razão de pedir apenas uma peça, quando seu filho havia encomendado sete há pouco tempo. A resposta foi curta e esclarecedora: “Ele tem pai rico, eu não”.
Seu caráter filantrópico foi reconhecido em grandes obras, como a fundação, em 1904, do Hospital Humberto Primo, conhecido como Hospital Matarazzo, com o slogan “A saúde dos ricos para os pobres”. Teve sua história marcada por um período de prestígio, com a maternidade sendo considerada a melhor da América do Sul na década de 1970. Atualmente, sua descendente Carola Matarazzo dirige o Movimento Bem Maior, cuja missão é alavancar a “filantropia estratégica e colaborativa, para o enfrentamento de desigualdades e promoção da justiça social”.
Duas biografias dão conta de seu legado: Matarazzo: a travessia, de Ronaldo Costa Couto, publicada pela Editora Planeta, em 2004. Conta sua travessia da Itália para o Brasil e a travessia de um mascate ao homem mais rico do País. Outra mais antiga, é um estudo sociológico relatando sua vida e seu império empresarial: Conde Matarazzo, o empresário e a empresa: estudo de sociologia do desenvolvimento, de José de Souza Martins, publicado pela Editora Hucitec, em 1973.