Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial domingo, 13 de outubro de 2024

OS BRASILEIROS: Emiliano Mundurucu (CRÔNICA DO COLUNISTA JOSÉ DOMINGOS BRITO)

OS BRASILEIROS: Emiliano Mundurucu

José Domingos Brito

Emiliano Felipe Benício Mundurucu nasceu em 1791, em Pernambuco. Militar e ativista político, é considerado a primeira pessoa na história dos EUA a desafiar a segregação racial em um tribunal. Foi também o primeiro negro a ingressar em uma loja maçônica de Boston que até então só aceitava brancos.

 

 

O sobrenome “Mundurucu” foi incorporado ao seu nome em 1823, seguindo um costume entre revolucionários nas colônias americanas de adotar nomes de povos originários das Américas como manifestação de uma nova identidade nacionalista e independente da Europa. Os mundurucus são um grupo indígena brasileiro que habita as áreas do sudoeste do estado do Pará.

Emiliano participou da Revolução Pernambucana de 1817 e foi major do batalhão de pardos durante a Confederação do Equador, em 1824. Chegou a ser indicado pelo governo regencial para comandar o Forte do Brum, mas não assumiu o posto devido à resistência movida pelo preconceito racial da elite pernambucana. Foi um militar muito influenciado pela revolução haitiana (1791-1804) Acreditava que uma grande revolta dos negros deveria ser realizada no Brasil, tal como se deu no Haiti. Assim, ficou conhecido e chamado de “haitianista”, causando temor nas elites.

O historiador Marco Morel, em seu livro A Revolução do Haiti e o Brasil escravista (Jundiaí, SP: Editora Paco, 2017), conta que Emiliano ensaiou uma ação militar no Recife enquanto recitava versos que exaltavam o então líder haitiano Henri Christophe. Em 1824, durante a Coonfederação do Equador, foi preso junto com figuras como Frei Caneca e recebeu sentença de morte. No entanto, conseguiu fugir e refugiou-se em Boston. Em 1825 fez uma breve visita ao Haiti e no ano seguinte desembarcou na Venezuela e alistou-se no exército do bolivarianos, onde ficou apenas um ano e retornou à Boston em 1827.

Em Massachusetts, em 1832, foi vítima de segregação racial ao embarcar num vapor com sua mulher Harriet e sua filha de 1 ano. Foram impedidos pelo capitão do navio de ocupar um espaço restrito às pessoas brancas. Ele argumentou que havia comprado a passagem mais cara, que lhe daria direito àquela área, mas o capitão do navio negou, alegando que sua esposa era negra, e eles tiveram que viajar num espaço menos confortável. Mundurucu advertiu o capitão: “go and get a writ out immediately”, algo como “Nos vemos no tribunal”. Ele ajuizou uma ação contra o capitão Edward Barker, por quebra de contrato, e o caso foi noticiado em alguns jornais dos EUA

O historiador Lloyd Belton registrou: “É incrível que um imigrante negro brasileiro tenha sido a primeira pessoa na história dos EUA a desafiar a segregação em um tribunal. E é ainda mais incrível que ninguém saiba quem ele é… a atitude desafiadora de Mundurucu inspirou diretamente outros ativistas negros”. No julgamento ele foi representado por juristas de peso, entre eles, David Lee Child, renomado abolicionista. Em 1833, o júri condenou o cap. Baker a pagar uma indenização de US$ 125 dólares a Mundurucu, mas o capitão conseguiu reverter a decisão na Corte Judicial Suprema de Massachussets.

Após o episódio, o navio Telegraph passou a ter a segregação racial escrita e exposta, definindo que os negros só podiam comprar as passagens mais baratas e confinadas em local mais exposto do navio. Segundo a historiadora Caitlin Fitz, Mundurucu foi pioneiro na ação judicial impetrada, decorrente de sua atitude tomada durante a viagem no navio. Ela lembra que a partir daí os ativistas passaram a ter argumentos mais amplos contra o racismo nos processos judiciais, ou seja, indo além da queixa de quebra de contrato.

Em 1837 foi anistiado no Brasil e retornou à Pernambuco, onde tentou reconquistar seu posto no Exército e assumir o comando do Forte do Brun. Sua posse foi impedida pelo presidente da província Vicente Tomás P.F. Camargo, alegando que ele não era qualificiado para tal comando. Assim, foi travada uma polêmica através de cartas publicadas no Diário de Pernambuco, onde ele afirma o interesse em “deprimir minha reputação tanto civil, quanto militar”. A polêmica se extendeu por alguns meses, através da imprensa, e ele decidiu retornar aos EUA em 1841, onde se tornou um eminente abolicionista e faleceu, em Boston, em 1863, aos 72 anos.

Clique aqui e acesse o Livro de história em quandrinhos: “Mundurucu na Confederação do Equador”, editado pela CEPE-Companhia Editora de Pernambuco


Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros