OS BRASILEIROS: Dyonélio Machado
José Domingos Brito
Dyonélio Tubino Machado nasceu em Quaraí, RS, em 21/8/1895. Escritor, poeta, ensaísta, jornalista, psiquiatra, político e um dos pioneiros da psicanálise no Rio Grande do Sul. Foi também um autor destacado na 2ª geração do Modernismo brasileiro.
Filho de Elvira Tubino Machado e Sylvio Rodrigues Machado, morto num duelo quando ele era uma criança, fato que o marcou por toda a vida. Para ajudar no sustento da família, vendia bilhetes de loteria junto com o irmão. Contudo, continuou estudando e se dando bem na escola. Auxiliava os alunos mais atrasados e com isso conseguiu gratuidade na escola para si e o irmão. Aos 12 anos conseguiu um emprego como auxiliar no jornal O Quaraí e passou a conhecer a intelectualidade local. O gosto pelo jornalismo estimulou-o a fundar um jornal intitulado O Martelo por volta dos 16 anos, demonstrando certo interesse pelo comunismo
Em 1921 mudou-se para Porto Alegre e fundou o jornal A Informação, ligado ao Partido Republicano. Pouco depois publicou o ensaio Política contemporânea: três aspectos e ingressa na Faculdade de Medicina, em 1924. Diplomado em 1929, foi trabalhar no Hospital Psiquiátrico São Pedro. Em seguida, passou 2 anos no Rio de Janeiro, onde se especializa em psiquiatria e neurologia e publica sua tese de doutorado: Uma definição biológica do crime. De volta à Porto Alegre, foi um dos responsáveis pela divulgação da psicanálise no Rio Grande do Sul. Em 1934 traduziu o livro Elementos de psicanálise, de Edoardo Weiss e fez dessa especialidade sua profissão.
No entanto, manteve o interesse pelo jornalismo, que foi estendido à literatura. Assim, participou de um círculo de amigos conhecido como “a turma da Praça da Harmonia”. A estreia literária se deu em 1927 com uma coletânea de contos: Um pobre homem. Por insistência do amigo Érico Veríssimo, escreveu o romance Os Ratos, em 1935, e ganhou o Prêmio Machado de Assis, tornando-se sua obra prima. No mesmo ano, devido à “Intentona Comunista”, foi preso por 2 anos e na cadeia adere ao PCB-Partido Comunista Brasileiro. Em 1942 publicou O louco do Cati, mais um romance muito bem recebido pela crítica e público.
Eleito deputado constituinte, pelo PCB, em 1947, manteve-se até ser cassado com a dissolução do partido. Afastou-se da política e do mercado editorial por quase 20 anos, dedicando-se à medicina e escrevendo romances. Além da medicina e da literatura, foi um entusiasta do jornalismo. Participou da fundação da pioneira ARI-Associação Rio-Grandense de Imprensa, em 1935, e foi colaborador dos jornais Correio do Povo e Diário de Notícias. Em 1946, junto com Décio Freitas, fundou a Tribuna Gaúcha, porta-voz do PCB. Em 1966, com a reedição de Os Ratos, voltou a cena literária com a publicação de Deuses econômicos (1976), Endiabrados (1980), Ele vem do fundão (1982) e O estadista, publicação póstuma em 1995.
Sua obra, após um período de esquecimento, foi resgatada no meio acadêmico a partir de 1990, devido ao caráter psicológico arraigado em suas obras, particularmente em Os Ratos e O Louco do Cati. Foi considerado um “escritor maldito” bem antes do tempo em o termo foi aplicado a alguns escritores na década de 1970. Ele mesmo confirmou esta impressão ao declarar “Eu sou um rebelde. Eu não sou do público. Sou incapaz de escrever algo pensando no que vão achar, qual será a impressão que causará. Sou incapaz de ser vendido à editora, ou ao público”, publicado no livro O cheiro da coisa viva, em 1995, pela Graphia Editorial.
Independente da fama de maldito, fato é que Os Ratos e O Louco do Cati encontram-se no cânone da literatura brasileira, conforme diversos críticos e estudiosos que se debruçaram em sua obra através de teses e dissertações acadêmicas. Faleceu em 19/6/1985 e seu último livro – Proscritos- teve publicação póstuma em 2014 pela editora Siglaviva. Entre as biografias do autor, contamos com uma “intelectual”, escrita por Marinês Dors: Dionélio Machado (1895-1985): os múltiplos fios da trajetória ambivalente de um intelectual, na forma de uma dissertação de mestrado realizada na UNISINOS-Universidade do Vale dos Sinos, em 2008 e outra, digamos, “literária”, escrita por Maria Zenilda Grawunder: Instituição literária: análise da legitimação da obra de Dyonélio Machado, publicada pela EDIPUCRS, em 1997.
Encontramos também um “retrato” do autor, que pode se constituir numa síntese biográfica, escrita por Jonas K. Moreira Dornelles: Dyonélio Machado como figura pública e intelectual brasileiro – notas para compreensão, na forma de um artigo publicado na revista Opinião Filosófica, vol. 10, nº 2, de 2019, a disposição na Internet: https://opiniaofilosofica.org/index.php/opiniaofilosofica/article/view/921/756