Hélder Pessoa Câmara nasceu em Fortaleza, CE, em 7/2/1909. Religioso franciscano, bispo e arcebispo emérito de Olinda e Recife. Patrono Brasileiro dos Direitos Humanos e indicado várias vezes ao Prêmio Nobel da Paz, teve atuação destacada na redemocratização do País.
Filho de Adelaide Pessoa Câmara e Eduardo Torres Câmara Fº, manifestou vocação sacerdotal ainda criança. Teve os primeiros estudos em casa, com a mãe professora, e ingressou no Seminário Diocesano de Fortaleza, aos 14 anos, em 1923, onde eram abominados o Iluminismo, a Revolução Francesa e o Comunismo. Ao final do curso sofreu uma crise vocacional e pensou em não prosseguir na carreira religiosa. Mas foi persuadido pela mãe e pelo reitor Pe. Tobias a continuar.
Foi ordenado padre em 1931, aos 22 anos, com autorização especial da Santa Sé, por não ter a idade mínima exigida. Logo após sua primeira missa, foi designado a coordenar os Círculos Operários e iniciar a organização da JOC-Juventude Operária Católica. No ano seguinte foi fundada a Legião Cearense do Trabalho, a fim de combater o individualismo e recuperar o cooperativismo. A Legião se declarava anticapitalista, anticomunista e antiburguesa e a JOC seguiu esta orientação ideológica. Em pouco tempo reuniu 2 mil rapazes pobres com a oferta de alfabetização e recreação.
Em 1932 foi criada a AIB-Ação Integralista Brasileira, liderada por Plínio Salgado, cujo lema “Deus, Pátria e Família” atraiu-o para o movimento. Assumiu o cargo de Secretário do Setor de Estudantes da AIB no Ceará, animado com um dos textos intitulado “Cristo e o Estado Integral”. Dedicou-se ativamente ao movimento político e mais tarde desligou-se da AIB após perceber suas implicações ideológicas, em meados de 1937. Em seguida aderiu ao humanismo integral de Jacques Maritain. Seu empenho visava maior participação da igreja no meio social, reduzir a pobreza e alavancar a educação, chegando a ser Secretário de Educação do Ceará. Pouco depois foi transferido para o Rio de Janeiro, onde teve como diretor espiritual o Pe. Leonel Franca, criador da primeira universidade católica do País, a PUC/RJ.
Em 1939 foi nomeado chefe do Instituto de Pesquisas Educacionais da Secretaria Geral de Educação e Cultura e atuou noutras áreas, como na Fundação Nacional de Imigração, em apoio à imigração de refugiados no pós-guerra. Nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro, em março de 1952, foi ordenado bispo no mês seguinte. No mesmo ano conseguiu aprovação do Monsenhor Giovanni Batista Montini, subsecretário de estado do Vaticano e futuro papa Paulo VI, na criação da CNBB-Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, da qual foi secretário-geral até 1964.
O Monsenhor Montini apoiou também a criação do CELAM-Conselho Episcopal Latino-Americano, em 1955, com sede em Bogotá. A 1ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano foi realizada no Rio de Janeiro, tendo Dom Hélder como articulador. Na condição de presidente e vice-presidente do CELAM, participou de todas as conferências até 1992. Com sua capacidade de articulação foi possível a realização do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, em 1955, no Rio de Janeiro, contando com a presença de cardeais e bispos de todo o mundo. A partir daí passou a ajudar os pobres com a Cruzada São Sebastião, da qual resultaram alguns conjuntos habitacionais. Em 1959, fundou o Banco da Providência, auxiliando as pessoas mais carentes.
Participou do Concílio Ecumênico Vaticano II, em 1961, na condição de padre conciliar em 4 sessões do concílio e foi um dos propositores do “Pacto das Catacumbas”, em 1965, que teve forte influência na “Teologia da Libertação”, movimento católico caracterizado pela preocupação social com os pobres e a libertação política do povo oprimido. Por essa época, diante da conturbada situação sociopolítica, suas atividades entraram em conflito com as posições do Cardeal Dom Jaime Câmara, tornando difícil sua permanência no Rio de Janeiro. Em 12/3/1964, a poucos dias do Golpe Militar, foi designado arcebispo de Olinda e Recife, cargo exercido até 1985.
Nesta diocese estabeleceu uma administração em setores pastorais; criou o Movimento Encontro de Irmãos; o Banco da Providência; a Comissão de Justiça e Paz e fortaleceu as comunidades eclesiais de base. Exerceu forte resistência o ditadura militar e tornou-se líder contra o autoritarismo, pregando no Brasil e no exterior uma fé cristã compromissada com os mais pobres. Foi perseguido pelos militares e acusado de comunista. Após o AI-5, em 1968, foi proibida qualquer referência ao seu nome. Aos 75 anos renunciou ao cargo e passou o comando da Arquidiocese a Dom José C. Sobrinho, em 1985; continuou no Recife, vivendo nos fundos da Igreja das Fronteiras e faleceu aos 90 anos, em 27/8/1999, e foi sepultado no interior na Catedral da Sé de Olinda.
Em seu centenário, em 2009, A CNBB, Arquidiocese de Olinda e Recife, Instituto dom Hélder Câmara, PUC/PE entre outras entidades, promoveram homenagens visando manter viva sua memória e legado. Recebeu 32 títulos de doutor honoris causa em todo o mundo; foi cidadão honorário de 28 cidades no Brasil e no exterior. Nos EUA recebeu o Prêmio Martin Luther King e na Noruega o Prêmio Popular da Paz. Foi indicado 4 vezes ao Prêmio Nobel da Paz. Seu acervo histórico é mantido no Instituto Hélder Câmara, em Recife. Em 2002 foi instituído o Prêmio Dom Hélder Câmara de Imprensa pela CNBB. Em 2010 o Senado Federal criou a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, para agraciar personalidades destacada nessa área. Em 2017, a Lei nº 13.581 declarou-o Patrono Brasileiro dos Direitos Humanos.
Em 2014 foi anunciada a abertura do processo de beatificação e no ano seguinte o Vaticano deu parecer favorável através da Congregação para as Causas dos Santos, recebendo o título de Servo de Deus. Em 2018, após 3 anos de investigação foi concluído o processo e remetido à Congregação. Em 2022, durante o 18º Congresso Eucarístico Nacional, foi anunciado que a documentação recebeu aprovação dos membros da Congregação e que está sendo elaborado a positio para que Dom Hélder possa ser declarado venerável. Porém, na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, ele já se encontra no calendário do santos e sua festa litúrgica é comemorada em 27 de agosto.
Dom Hélder deixou um legado de 13 livros traduzidos em diversos idiomas, dentre os quais: Revolução dentro da paz (1968). Mil razões para viver (1979) e Espiral de violência (1978). Sua trajetória religiosa foi exposta no livro de Ivanir Antonio Rampon no livro O caminho espiritual de Dom Helder Câmara, publicado pelas Edições Paulinas, em 2015.