OS BRASILEIROS: Cornélio Pires
José Domingos Brito
Cornélio Pires nasceu em 13/7/1884, em Tietê, SP. Poeta, escritor, compositor, jornalista, cineasta, folclorista, humorista e etnógrafo, foi um tipo de showman da cultura caipira. Foi também empresário e pioneiro da indústria fonográfica gravando seus próprios discos. Sua obra constiui-se num relevante registro do dialeto caipira.
Filho de Ana Joaquina de Campos Pinto e Raimundo Pires de Campos Camargo, teve os primeiros estudos com um mestre-escola ambulante. Em seguida, a família mudou-se para a cidade, passando a estudar no Grupo Escolar Luiz Antunes. Aos 15 anos foi trabalhar no jornal O Tietê, como aprendiz de tipógrafo e tomou gosto pela imprensa. Aos 17 foi ganhar a vida em São Paulo e trabalhou nos grandes jornais da capital. Em 1904 fez diversas reportagens sobre a Revolta da Vacina, ocorrida no Rio de Janeiro.
Pouco depois passou a viajar pelo interior fazendo shows como humorista caipira e em 1910 publicou o livro: Musa caipira, onde apresenta as primeiras “poesias dialetais” registradas em livro. No mesmo ano apresentou no Colégio Mackenzie um espetáculo reunindo catiriteiros, cururueiros e duplas caipiras. Foi a primeira apresentação da cultura capira na capital. Devido ao sucesso da apresentação, montou um show humorístico, com anedotas, causos e imitações caipiras, encerrando com duplas de violeiros e cantadores de modas.
Viajou pelo País levando seu show e difundindo a cultura caipira paulista com livros e palestras, que lhe rendeu o título de “Bandeirante do Folclore Paulista”. Durante as comemorações do centenário da Independência, em 1922, realizou diversas palestras e apresentações junto com o maestro Eduardo Souto. Em 1924 dirigiu seu primeiro filme -Brasil pitoresco-, retratando suas viagens e mostrando características e aspectos sociais de diversos grupos e comunidades do País. Publicou mais de 20 livros, incluindo As estrambóticas aventuras de Joaquim Bentinho (1924), de grande sucesso, tornando-se o maior best-seller.
Foi pioneiro na gravação de discos 78rpm, ao gravar a primeira moda de viola -Jorginho do Sertão- lançada em 1929 e passou a ser chamado de o “Pai da música sertaneja”. Ele fez a adaptação da música caipira ao formato fonográfico e à natureza do espetáculo circense, já que a música caipira é originalmente música litúrgica do catolicismo popular, presente nas folias do Divino, no cateretê e na catira. Em seu livro Conversas ao pé do fogo, vemos o etnólogo ao fazer uma descrição dos diversos tipos de caipiras, incluindo um “Dicionário do Caipira”. Noutro livro -Sambas e Cateretês- recolheu inúmeras letras de composições populares, que teriam caído no esquecimento, caso não estivessem registradas neste livro.
Sua importância como pesquisador é reconhecida no meio acadêmico, como se vê nas citações de sua obra feitas por Antônio Candido em seu livro Os Parceiros do Rio Bonito. Na gravação da música Moda de peão, ele inicia com uma explicação: “Moda de viola cantada por dois genuínos caipiras paulistas. Este é o canto popular do caipira paulista em que se percebe bem a tristeza do Índio escravizado, a melancolia profunda do Africano no cativeiro e a saudade enorme do Português saudoso da sua Pátria distante. Criado, formado nesse meio o nosso caipira, a sua música é sempre dolente, é sempre melancólica, é sempre terna. Eis a ‘Moda do Peão’".
Monteiro Lobato e Cornélio Pires foram contemporâneos e ambos trataram sobre o caipira; porém, de modos opostos. Enquanto Lobato vê o caipira como um ente vegetativo, indolente e preguiçoso, Cornélio procura valorizar sua cultura, porque entende ser essencial ao futuro do país integrar populações à margem da modernidade. A partir de 1935 iniciou um programa na Radio Difusora de São Paulo, onde apresentava seus discos, causos e duplas caipiras de violeiros. O programa tinha vasta audiência no Estado e no Brasil. No mesmo ano, levou o caipira às telas do cinema, dirigindo o filme Vamos passear, com a dupla Sorocabinha e Mandy no papel principal. É o primeiro filme “sonoro” independente do Brasil.
Não obstante ser presbiteriano, tomou contato com vários fenômenos espíritas em suas viagens e algumas comunicações com o espírito Emílio de Menezes. Passou a estudar as obras de Allan Kardec, León Denis e alguns livros do então jovem Francisco Xavier. Nos anos 1944-1947 publicou os livros "Coisas do outro mundo" e "Onde estás, ó Morte?". Era tio de José Herculano Pires, conhecido autor espírita e faleceu em 17/2/1958, quando se dedicava à redação do livro Coletânea Espírita. Pouco antes de falecer, retornoou à Tietê, adquiriu uma chácara e fundou a “Granja de Jesus”, um lar para crianças desamparadas, que não chegou a ver implantada. Sua memória é cultuada em Tietê através de um monumento (herma) na praça central, do Instituto Cornélio Pires (www.corneliopires.com.br) e da “Semana Cornélio Pires”, realizada desde 1959, na segunda quinzena de agosto. Dentre suas biografias, vale citar os livros de Jofre Martins Veiga: A vida pitoresca de Cornélio Pires (1961) e de Marcelo Dantas: Cornélio Pires, criação e riso (1976).
Cornélio Pires documentario - completo - 2018 "60 anos de morte" - YouTube
AS BRASILEIRAS: Presciliana Duarte de Almeida
2Introdução
PrescilianaDuarte de Almeida foi uma poetisa, escritora, fundadora da Academia Paulista de Letras, fundadora e diretora da revista A mensageira, considerada atualmente a primeira revista com teor feminista do Brasil,e mulher doséculo XX. Importante ressaltar que por se tratar do século passado não era comum ver mulheres ativas no campo da educação ou ocupando lugares sociais, diferentes dos afazeres do lar.Foi possível encontrar cópias da revista A mensageira no ano de 1897, buscando pela primeira ediçãofoi possível encontrar a seguinte citação,escrita pela própria Presciliana;Estabelecer entre as brazileiras uma sympathia espiritual, pela comunhão das mesmas ideias, levando-lhes de quinze em quinze dias ao remansoso lar, algum pensamento novo –sonho de poeta ou fructo de observação acurada, eis o fim, que modestamente, nos propomos. (ALMEIDA, 1897)3.Entende-se que Presciliana foi uma mulher de fibra para sua época,e que se preocupava com a vida das mulheres que se encontravam cuidando de seuslares.Pela análise da citação, é possível afirmarque Presciliana entendia que essas mulheres tinham direito a Literatura e aum pensamento novo.1Aluna do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Unidade deParanaíba. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC).2Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; pós-doutorado em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; pós-doutorado em Educação na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2014). É professora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, atuando no curso de Pedagogia e Mestrado em Educação, vinculada à linha de pesquisa História, Sociedade eEducação.3Ortografia original da época, citação direta da revista publicada no ano de 1897.
An. do Semin. em Educ. e Colóq. de Pesq., Paranaíba, MS, 2017, ISSN: 2446-6069138Realizando uma busca no site Googlepelo nome de Prescilianaé possível encontrá-loescrito das seguintes formas: Prisciliana, Presciliana, Prescilliana, Priscilianna. Por se tratar de pesquisa inicial, não foi possível encontrar nenhuma certificação de como se escreve corretamente seu nome.Também, não foi possível encontrar nenhuma fotografiadigna da escritora, e nem pesquisas que enfatizem a mulher e escritora Presciliana Duarte de Almeida. Dentre suas várias publicações e o tempo dedicado àLiteratura,Presciliana dedicou parte da sua escrita à Literatura Infantil escolar, tendo publicadodois livros:Páginas Infantis(1908) e O livro das aves: crestomatia4em prosa e verso(1914).Pesquisar e estudar Presciliana éumprazer, pois é importante para a área de pesquisa em Literatura Infantil dar ênfase aos escritores que antecederam Monteiro Lobato(1882-1948), preenchendo a lacuna histórica que existe dentro da área de pesquisas em Literatura Infantil.Nesse sentido, como primeira aproximação, o objetivo deste texto é o de reconstituir uma biografia de Presciliana Duarte de Almeida.1.O que é biografia?Por que realizar a biografia de uma escritora?Quando decidi realizar uma biografia da autora Presciliana Duarte de Almeida, uma inquietação surgiu em mim e em alguns colegas de pesquisa, o que seria uma biografia? Muitos podem acreditar dentro do senso comum que essa éumapergunta fácil para se encontrar resposta, mas seria fácil mesmo? Qual a importância de realizar a biografia de um autor? Para que ela serve?Respondendo a primeira pergunta sobre:o que é uma biografia? Encontrei a resposta em Burke(1997). Segundo ele: “[...] a idéia de uma vida ‘escrita’pode ser encontrada na Idade Média. O termo biographia foi cunhado na Grécia no fim do período antigo. Antes disso, falava-se em escrevervidas. [...]” (BURKE, 1997, p. 91, grifos do autor)Buscando a resposta para a minha segunda inquietação, após realizar leituras de alguns autores, achei de forma mais clara o entendimento que Burke(1997)traz, buscando na história o porquêque se realizavam escritas de biografias. Segundo Burke(1997, p. 87): 4Segundo o dicionário crestomatia significa: coletânea de trechos em prosa ou verso escolhidos da obra de um ou mais autores, com finalidade didática.
An. do Semin. em Educ. e Colóq. de Pesq., Paranaíba, MS, 2017, ISSN: 2446-6069139No mundo antigo predominaramgovernantes e filósofos, mas havia também um pequeno espaço disponível para generais e literatos. ComélioNepos escreveu não apenas sobre comandantesmilitares como Aníbal, mas também sobre Ático. Plutarco escreveu sobre Cícero,enquanto Suetônio e o gramático Donato escreveram sobre Virgílio. NoRenascimento, [...],foram escritas biografias de governantes comoAlfonso de Aragão e Cosimo de Medici, de escritores como Dante e Petrarca,de filósofos como Ficino e Pico e de condottiericomo NiccoloPiccinino eBraccioMontone. A escolha de capitães de soldados mercenários como heróispode parecer estranha hoje em dia, mas as biografias de Gattamelata porDonatello e de Colleoni por Verrocchio nos lembram que os condottieri, comoos príncipes, mereciam estátuas em lugares públicos. O repertório agora seexpandia para incluir mulheres e artistas (entre eles o compositor Josquin dês Prez, cuja vida foi escrita pelo humanista suíço Glareanus). Os protagonistas debiografias incluíam ainda indivíduos de outras culturas, como no caso dos sultãesde Giovio, ou do Átila(1537)do húngaro MiklósOláh, um discípulo de Erasmo;do Maomé(1543) do alemão Widmanstetter; ou do Tamerlão(1553) dePerondinus.Por último, responderei a pergunta:paraque serve escrever a biografia de um autor?Na linha cronológica da Literatura Infantil, temos muitos espaços em branco, muitas lacunas a serem preenchidas. A história da Literatura Infantil Brasileira,segundo os estudos realizadosse iniciacom Figueiredo Pimentel(1869 –1914), havendoum saltocronológicopara Monteiro Lobato, e depois,para a época da ditadura militar, momento em que se consagravam autores como Ana Maria Machado, Cecília Meirelles entre outros.Resgatarautores e principalmente autoras que antecederam Monteiro Lobato, que é considerado por grandes pesquisadores o Pai da Literatura Infantil no Brasil, é algo fundamental para a área de pesquisas em Literatura voltada para as criançasem nosso país. Mostrar e relembrar que houveautores e principalmente autoras,que foram importantes na sua época e que influenciaram toda uma sociedade com seus livrosé o que se pode alcançar com o que apresento neste texto.Esse é o caso de Presciliana Duarte de Almeida, mulher do século XX, que influenciou diretamente toda a história da Literatura Infantil antes de Lobato, mulher que dedicou parte de sua história como escritora e poetisa preocupando-se em levar textos para leitura decrianças com seus poemas.Buscando uma explicação em Burke, ele afirma que: “[...]Algumas coleções de biografias tinham um objetivo didático: não apenas as vidas de santos, mas também as vidasde artistas [...].”(BURKE, 1997, p. 87).2.Quem foi Presciliana Duarte de Almeida?
An. do Semin. em Educ. e Colóq. de Pesq., Paranaíba, MS, 2017, ISSN: 2446-6069140Foram poucos os livros e artigos encontradosque citam Presciliana Duarte de Almeida, ou que possibilitam um encontro com sua biografia. Pretendo realizar esse levantamento até o final da pesquisa, que será em julho do ano de 2018; porém os livros, artigos e textosque encontrei até o momento trazem praticamente asmesmas informaçõessobre a vida easobrasda autora.Segundo Nelly Novaes Coelho(1984),Presciliana Duartede Almeida foi:Figura feminina de destaque no movimento cultural literário e educacional paulista, no entre séculos. Presciliana Duarte de Almeida nasceu em Pouso Alegre (MG), em 3 de junho de 1867. [...]. Em S. Paulo, vem a falecer aos 77 anos, a 13 dejunho de 1944, sendo enterrada no Cemitério do Araçá. (COELHO, 1984, p. 790).Buscando por Presciliana naenciclopédia Itaú Culturalfoi possível encontrar a seguinte informação:Presciliana Duarte de Almeida nasceu em Pouso Alegre –MG no ano de 1867,efaleceu em 1944, na cidade de São Paulo –SP, publicou seu primeiro livro em 1890, intitulado de Rumorejos, trabalhou como colaboradora dos periódicos Almanaque Brasileiro Garnier, A estação, Rua do Ouvidor e A Semana. Fundou a revista A Mensageira em 1897, e foi diretora da mesma até o ano de 1900, Tornou-se colaboradora da revista Educaçãono ano de 1902, e da revista Alvorada, que era do Grêmio Literário dos alunos do Ginásio Silvio de Almeida, em 1909. Também em 1909 é membro –fundador da Academia Paulista de Letras;em 1906 lança Sombraslivro de poesias, Paginas Infantis em 1908, em 1910 o Livro das Aves e Vetiver em 1939.Outra informação interessante, que foi possível localizar na Enciclopédia Itaú é que Presciliana também assinava com outro nome que era: Perpétua do Vale.Para minha surpresa, em setembro do ano de 2016, ao participar do 7º SLIJ5, evento de Literatura Infantil e Juvenil, realizado na cidade de Florianópolis/SC, a pesquisadora Marisa Lajolo trouxe um poema6de Presciliana, e fez umacomparação com os e-books757º Seminário deLiteratura Infantil e Juvenil, II Seminário Internacional de Literatura Infantil e Juvenil e Práticas de Mediação Literária. Linguagens poéticas pelas frestas do contemporâneo.6Trata-se do poema que pode ser encontrado no livro Páginas infantis de 1910, p. 11-12, a saber: “–Para mim livrobonito/É aquele que tem figuras/Para você não é, Carlitos?”7Livros digitais que são utilizados pelos jovens atualmente.
An. do Semin. em Educ. e Colóq. de Pesq., Paranaíba, MS, 2017, ISSN: 2446-6069141Pode-se encontrar um poucomaisde Presciliana no livro Literatura Infantil Brasileira de Leonardo Arroyo. Segundo Arroyo, Presciliana foi uma das percussoras da Literatura Infantil e tem grande importância na área.Em Zalina Rolim, Presciliana Duarte de Almeida, Francisca Julia e Olavo Bilac, entre os precursores de nossa literatura infantil, encontramos as mais válidas vozes da poesia para criança no Brasil. São quatro autores que nos deixaram uma obra clássica, classicamente poética, para a infância mostrando assim os verdadeiros critérios de composição de uma lírica capaz de ser longamente amada pelas crianças. (ARROYO, 1988, p. 217).No livro Panorama Histórico da literatura infantil Juvenilde Nelly Novaes Coelho(1991), no tópico Livros e Autoresencontramos a seguinte citação sobre Presciliana e sua obra Páginas Infantis (1908);Figura feminina de destaque no movimento cultural, literário e educacional paulista, no entre séculos, a mineira Presciliana Duarte de Almeida (1867/1944) teve ação importante na divulgação das novas idéias feministas e educacionais. Incentiva a criação da revista estudantil A Aurora(no Ginásio Silvio de Almeida –SP), escreve peças de teatro que leva a encenação pelos escolares e, em 1908, publicaPáginas Infantis, coletânea de estorietas referendadas por uma carta –prefácio de João Kopke. Em 1914, escreve o livro de leitura O Livro das Aves (crestomatia em prosa e verso), adotado em várias escolas paulistas.(COELHO, 1991, p. 219).O site da Universidade de Campinas (UNICAMP) tem um tópico dedicado às memórias da Literatura Infantil. Nele,é possível encontrar a seguinte informação sobre a autora pesquisada:Presciliana Duarte de Almeida nasceu em Pouso Alegre (MG) em 3 de junho de 1967. Primade Júlia Lopes de Almeida e Adelina Lopes Vieira. Após casar-se muda-se para São Pauloonde funda, em 1889, a revista feministaA Mensageira.Participa da fundação da Academia Paulista de Letras em 05 de outubro de 1909 onde ocupa a cadeira nº 8, escolhendo a poetisa Bárbara Heliodora, sua trisavó, como patrona. Morreu aos 77 anos, em São Paulo, em 13 de junho de 1944.1908 -Página Infantis1914 -O Livro das Aves(UNICAMP, 2017).Realizando busca no siteda Academia Paulista de Letras deque Presciliana foi fundadora, ocupando a cadeira de número oito, foi possívellocalizar cinco resultados em Discursos e um resultado em Memória. Quando realizei a busca pelo nome escrito como Presciliana não localizei nenhuma informação, foi possível localizar essas informações a partir do momento em que digitei o nome da autora da seguinte forma: Prisciliana. Como citado anteriormente não consegui nenhuma confirmação,ainda, de como seu nome é escrito
An. do Semin. em Educ. e Colóq. de Pesq., Paranaíba, MS, 2017, ISSN: 2446-6069142corretamente, a pesquisa está em fase inicial, e esse problema é um dos que pretendo encontrar respostae solução até o final da pesquisa.Aliás, a título de curiosidade, se bem que en passant, gostaria de assinalar duas peculiaridades no nascedouro desta Academia: primeiro, o fato de haver entre os acadêmicos uma grande farturade médicos sete entre 40 membros, talvez pelo fato de o próprio fundador ter sido um ilustre profissional da Medicina; e, depois, pela presença de uma mulher, a poeta Prisciliana Duarte de Almeida, que se fez acompanhar, no colegiado, de seu primo e marido, também poeta, Silvio de Almeida. (SOUZA,2016).Ainda no discurso de Paulo Nathanael Pereira de Souza ele faz mais uma referênciaa Presciliana:Por 20 anos, Maria de Lourdes, dentro da tradição inaugurada pela presença feminina de Prisciliana de Almeida na Academia, ocupou seu posto entre os imortais, trabalhando incansavelmente, fosse a favor do fortalecimento institucional deste cenáculo, fosse na produção literária em prosa e verso de sua obra, esse legado de incontáveis e imperecíveis riquezas com que nos herdou.(SOUZA, 2016).No discurso de boas vindas da acadêmica Anna Maria Martins para desejar as boas-vindas à escritora Ruth Rocha:Na área da cultura literária, Maria de Lourdes Teixeira, a primeira mulher eleita para a Academia Paulista de Letras, abriu-nos o caminho. Prisciliana Duarte de Almeida foi fundadora. A entidade passou então a acolher escritoras, juristas, historiadoras. Espaço livre para a intelectual com trabalho de relevância no panorama cultural do país, a APL recebe a mulher com o merecido reconhecimento por sua atividade profissional.(MARTINS,2016).Segundo Paulo Bomfim, no discurso de recepção à escritora Myriam Ellis,Presciliana Duarte de Almeida foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Paulista de Letras:Quarenta cadeiras representam bem o espírito do solo onde estão plantadas. Nelas se assentam intelectuais de todos os quadrantes do país. Aqui se encontram com o gaúcho Freitas Valle, os catarinenses Affonso de Taunay e Monsenhor Manfredo Leite, os paranaenses Eurico Branco Ribeiro e Ernani da Silva Bruno, os mineiros Basílio de Magalhães, Aureliano Leite e Prisciliana Duarte de Almeida que deu à Academia Brasileira de Letras o exemplo da primeira mulher Acadêmica. Aqui estiveram também o paranaense Afranio do Amaral, o maranhense Carlos Alberto Nunes, o sergipano Cleomenes Campos, o carioca Luiz Martins, o baiano Fernando Góes, o cearense Raymundo de Menezes e, até ontem, para alegria de todos nós o alagoano Ricardo Ramos, hoje habitante de nossa saudade.(BOMFIM, 2016).
An. do Semin. em Educ. e Colóq. de Pesq., Paranaíba, MS, 2017, ISSN: 2446-6069143Em outro discurso de recepção, agora pelo acadêmico Israel Dias Novaes, para a escritora Anna Maria Martins, citando o nome de Presciliana como fundadora e primeira mulher a ocupar uma cadeira na AcademiaPaulista de Letras, ele ainda destaca que foi necessário quase meio século depois para outra mulher ocupar outracadeira na Academia.Acadêmica Anna Maria Martins: Vosso ingresso na Academia Paulista de Letras tem múltiplos significados, inclusive aquele da crescente representação feminina nos nossos quadros. Entre os quarenta patronos escolhidos figurava apenas uma mulher, Barbara Heliodora, na cadeira de nº 8, fundada por Prisciliana Duarte de Almeida, poetisas ambas. Foram necessários mais de meio século para que outra mulher viesse a formar entre os quarenta imortais: a mestra do romance urbano Maria de Lourdes Teixeira, empossada em 1969. Possivelmente, a Academia, assim tão paradoxalmente masculina, considerasse as escritoras apenas como zelosos repousos do guerreiro.(NOVAES, 2016).Juca de Oliveira em seu discurso de posse relembra e cita Presciliana Duarte de Almeida, a primeira pessoa e mulher a ocupar a cadeira de número oito que agora se destinava a ele,relembrando e realizando uma breve biografia da autora:[...]Prisciliana Duarte de Almeida, a fundadora da cadeira, poetisa, nasceu em junho de 1867. Em 1890 publicou seu primeiro livro de poesias, "Rumorejos", e a partir daí desenvolveu intensa atividade literária e cultural. Entre 1897 e 1900, fez circular em São Paulo a publicação "A Mensageira", de tendência feminista, que exerceu grande influência na emancipação da mulher brasileira. Inicialmente destinada à produção literária, seus artigos passaram a exigir mais direitos para as mulheres, ampliação do mercado de trabalho feminino e uma educação de melhor qualidade. Em 1938, aos 75 anos, editou ‘Vetiver’, seu último volume de poesia.(OLIVEIRA, 2016).Ainda em seu discurso de posse Juca de Oliveira faz outra citação de Presciliana, quando cita o teatro e afirma a importância da revista A Mensageira, fundada em 1897 pela escritora. Não fazemos teatro por dinheiro, ou por vaidade. Fazemos teatro para exercer nossa função estética e social, que é mudar o homem; torná-lo melhor, mais afetivo, mais generoso, mais solidário e sobretudo, menos predador. O teatro abre picadas, cria modelos novos de cultura, e socializa comportamentos. Para citar um exemplo, a nossa querida Prisciliana Duarte de Almeida, com absoluta certeza, engendrou sua revista "A Mensageira", inspirada pela Nora, de "A Casa de Bonecas" de Ibsen, o primeiro manifesto feminista, levado ao palco em 1978. Sem essa personagem criada por Ibsen, as mulheres não teriam atingido a posição que têm hoje na sociedade!(OLIVEIRA, 2016).
An. do Semin. em Educ. e Colóq. de Pesq., Paranaíba, MS, 2017, ISSN: 2446-6069144No tópico das Memórias,aindapesquisandono site da academia,Presciliana foi citada da seguinte forma:‘Então é bom dizer bem alto que dessa Academia fazem parte os literatos e poetas —D. Prisciliana de Almeida, Dr. Freitas Guimarães, o velho Carlos Ferreira, Benedito Otávio, Alberto Faria, Basílio de Magalhães, Dr. Raul Soares de Moura, Dr.Valdomiro Silveira, Dr.Venceslau de Queirós’, Amadeu Amaral, que é redator chefe do "O Comércio de São Paulo", e outros. E qual destes 12 literatos e poetas precisa do beneplácito do Dr. Roberto Moreira?...(ACADEMIA, 1911).Ainda no siteda academia, mas agora digitando o nome da autora da seguinte forma: Priscillianafoipossívelencontrar dois resultados:um em acadêmicos anteriores e outro em Patronos.No resultado em acadêmicos anteriores encontramos apenas as informações do número da cadeira que Presciliana ocupou, sendo a de número oito, o patrono: Bárbara Eliodora Guilhermina da Silveira Bueno, o aniversário: 1/1/11118, e a data de posse que foi em 27/11/1909, data de fundação da academia.Como citado anteriormente abusca pelo nome escrito da seguinte forma: Presciliana e Priscilianna não trouxeram nenhum resultado. Na obra de referência para a Literatura Infantil, escrita por Lajolo e Zilberman(2007, p. 28), Literatura Infantil: história & histórias, foi possível localizar a seguinte citação: “Datam desse mesmo período as antologias folclóricas e temáticas estas últimas com o objetivo de constituírem material adequado para celebração escolares: [...] Livro das aves (1914), de Presciliana D. de Almeida.” 3.Considerações finaisPresciliana Duarte de Almeida foi uma figura de extrema importância para a sua época, mulher que se preocupava com as outras mulheres que não obtiveram a mesma oportunidade que ela, mulher essa que já vinha de família de escritoras.O estudo sobre a vida e obra de Presciliana Duarte de Almeida tem extrema importância para a população acadêmica que pesquisa ou que pode vir a pesquisara área de Literatura Infantil.8Acredito que essa data não está correta, porém é a informada no site e decidi usar asinformações que o site da academia proporciona.
An. do Semin. em Educ. e Colóq. de Pesq., Paranaíba, MS, 2017, ISSN: 2446-6069145Pode –se perceber nesse breve levantamento que muitas informações são idênticas e que outras não batem, como por exemplo a publicação do livro Páginas Infantis, que alguns pesquisadores trazem como data de publicação o ano de 1908 e outros o ano de 1910. Por haverpoucosestudossobre a autora é comum encontrar essas incoerências, por isso pretendo com meu estudo e minha pesquisa, tentar dar o máximo de coerência e informações sustentáveis, nem que para isso, seja necessárioir direto a arquivos, como visitas a cidade de Pouso Alegre onde Presciliana Nasceu, ao antigo Ginásio Silvio de Almeida e à própria Academia Paulista de Letras.Temos um enorme número de pesquisas voltadas para o autor Monteiro Lobato, não desmerecendo oautor, pretendo jamais fazer isso, temos consciência da importância de Lobato para a Literatura Infantil Brasileira; mas precisamos pensar e refletir sobre os que antecederam Lobato, que talvez, de alguma forma, tiveram alguma influência não só em sua época, mas também nas histórias pensadas e escritas por Monteiro Lobato.Além da importância de se pesquisar autores que antecederam Lobato, é importante ressaltar que a Literatura Infantil tem um enorme campo de pesquisas, com fontes extremamenteinesgotáveis que precisam e devem ser exploradas.Caso não tenha tempo o suficiente para encontrar todas as respostas até o final da pesquisa, pretendo continuar pesquisando a autora, pois acredito que será de extrema importância para a área de Literatura e LiteraturaInfantil relembrar, quão importante foi a escritora Presciliana Duarte de Almeida.ReferênciasACADEMIA. A Polêmica. In: Academia Paulista de Letras. São Paulo: Academia Paulista de Letras, 2016. Disponível em: <http://www.academiapaulistadeletras.org.br/memoria.asp?materia=912>. Acesso em: 26 de maio 2017.______. Priscilliana Duarte de Almeida. In: Academia Paulista de Letras. São Paulo: Academia Paulista de Letras, 2016. Disponível em: <http://www.academiapaulistadeletras.org.br/osacademicos.asp?materia=76>. Acesso em: 26 de maio 2017.ARROYO, Leonardo. Literatura Infantil Brasileira. São Paulo: Melhoramentos. 1988. 248 p.ALMEIDA, Presciliana Duarte de. Revista A mensageira. Anno 1, n.1. São Paulo. 1987. Disponível em:
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ELA FOI E CONTINUARÁ SENDO A PRIMEIRA - Dona Presciliana Duarte de Almeida ("Perpétua do Vale"), filha do Tenente-Coronel Joaquim Roberto Duarte e de Rita Vilhena de Almeida Duarte ((Pouso Alegre, MG, 03.06.1867 - 13.06.1944, Campinas, SP, "com o corpo trasladado para a cidade de São Paulo para ser sepultado ao lado do marido Sílvio de Almeida" falecido aos 30.03.1924. Presciliana era prima pelo lado materno da também escritora Maria Clara Vilhena da Cunha (Santos, depois de casada). Suas mães eram irmãs. Maria Clara nasceu em Pelotas, RS, aos 18.11.1866. Quando juntas em Pouso Alegre as duas jovens iniciaram-se na literatura fundando o jornalzinho manuscrito "O Colibri", de pequenas tiragem e existência, que era distribuído graciosamente. - Todo esse preâmbulo precede o assunto principal: falar um pouco de dona Presciliana. Depois de Joana Paula Manso de Noronha com o "Jornal das Senhoras" (1852-1855); de Francisca Senhorinha com "O Sexo Feminino" (1860); de Revocata de Melo, com o "Corymbo", o de maior duração (1884-1944); Josefina Álvares de Azevedo com "A Família", SP/RJ, 1888-1897, entre tantos outros periódicos, para encerrar esta prosa com a preciosa revista "A MENSAGEIRA" - Revista literária dedicada à mulher brasileira, S. Paulo. Diretora: Presciliana Duarte de Almeida. Publicação quinzenal. A matéria das colaborações literárias aqui representada pelas figuras da linha de frente de nossa literatura encontra-se em seus vários segmentos. Depois de mais esse "dedo de prosa" iremos ao assunto principal: A ELEIÇÃO PARA A FUNDAÇÃO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS em 1909. Entre outras exigências a de ter obra literária publicada. Na ala feminina a mineira Presciliana Duarte de Almeida, radicada na capital paulista onde já fundara e dirigira a revista literária "A MENSAGEIRA" de 1897 a 1900 e aí publicara seu livro de versos "SOMBRAS" prefaciado pelo Conde de Afonso Celso (Afonso Celso de Assis Figueiredo, MG, 1860-1938), impresso em São Paulo por Rothschild & Comp., 1906. O trio feminino de candidatas contava mais com as paulistas Zalina Rolim (Maria Rosalina Xavier de Toledo, 1869-1961), a principal educadora paulista ao final do Séc. XIX e início do XX, foi a criadora e administradora do "Jardim de Infância"; sua obra literária "Coração" (poes.) foi publicada em S. Paulo, 1893; sua obra educativa "LIVRO DAS CRIANÇAS", em vários volumes, foi impresso em Boston (U.S.A.), em 1897, e vasta colaboração em periódicos. - Francisca Júlia da Silva (1872-1920) completa o trio feminino, como autora do livro de versos "Mármores", publicado em São Paulo, 1895, com prefácio do filólogo João Ribeiro (SE, 1860-1934), radicado no Rio de Janeiro. Das três candidatas somente dona Presciliana Duarte de Almeida, juntamente com seu marido, o filólogo Sílvio de Almeida (MG, 1867-1924) foi eleita na mesma eleição. Comentários à época "à boca pequena", maldosos ou não, falavam que ele, o marido, trabalhou muito bem com "cabo eleitoral" da mulher. - O que fica e se eterniza na História são os fatos, que colocam definitivamente dona PRESCILIANA DUARTE DE ALMEIDA como A PRIMEIRA MULHER BRASILEIRA a participar da eleição de fundação de uma Academia de Letras no Brasil e tornar-se co-fundadora. Salve o 27 de Novembro de 1909.