OS BRASILEIROS: Castro Maya
José Domingos Brito
Raymundo Ottoni de Castro Maya nasceu em Paris, em 1894. Advogado, industrial, ecologista, colecionador de obras de arte, fundador do MAM-Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e destacado mecenas. Seu trabalho de remodelação da Floresta da Tijuca, na década de 1940, possibilitou a criação do Parque Nacional da Tijuca, em 1961. Foi um dos milionários mais conhecidos do Rio de Janeiro na década de 1920.
Filho de Teodósia Ottoni de Castro Maya e do diplomata Raymundo de Castro Maya, tradicional família carioca. Seu pai foi convidado por D. Pedro II para ser preceptor de seus netos. Passou toda infância em Paris e, aos 5 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, anos, onde ingressou no colégio jesuíta Santo Inácio. Em seguida formou-se em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Destacou-se na área industrial com a fábrica de óleos vegetais e no comércio atacadista de tecidos. Porém, ficou conhecido sobretudo como grande colecionador de obras de arte com um acervo de 22 mil peças.
Tal acervo encontra-se aberto à visitação pública nos Museus Castro Maya (Museu da Chácara do Céu e Museu do Açude), locais onde residiu nos bairros de Santa Tereza e Alto da Boa Vista, respectivamente, integrados ao IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O Museu da Chácara do Céu oferece uma das melhores vistas panorâmicas do Rio de Janeiro. Fica no alto do morro de Santa Teresa, num terreno de 25 mil m² com paisagismo assinado por Roberto Burle Marx. A área conta com um bambuzal, que funciona como uma espécie de isolante acústico, garantindo um silêncio absoluto. O Museu do Açude é outro belo recanto incrustado no alto da Boa Vista numa área de 151 mil m². Definidos pelo trinômio Museu-Natureza-Cidade, o visitante fica em dúvida sobre qual aspecto deve ser melhor apreciado: a natureza ou o conjunto de peças artísticas ali instalado.
A única função pública que exerceu em vida se deu a convite do então prefeito do Rio de Janeiro Henrique Dodsworth. Devido ao seu interesse em manter a beleza natural da cidade, recebeu a missão de coordenar os trabalhos de remodelação da Floresta da Tijuca, uma área de quase 40 km². Tal trabalho foi realizado em 4 anos com a condição de que não fosse remunerado. Recebia o salário mensal de um cruzeiro e os cariocas deram-lhe o apelido de “One dólar man”
Sua contribuição, além da doação de seu acervo ao patrimônio público, foi significativa no campo cultural. Criou a Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, em 1943, com a edição de livros raros, e a Sociedade dos Amigos da Gravura, em 1952. Foi também um dos principais incentivadores da criação do MAM e seu primeiro presidente, em 1948. Nas comemorações do IV Centenário do Rio de Janeiro, coordenou a comissão organizadora dos festejos. Como executivo, foi membro da Câmara do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e do Conselho Federal de Cultura, para o qual foi nomeado em 1967.
A riqueza artística de seus museus já contou com obras de Picasso, Matisse, Salvador Dali e Monet, que infelizmente foram roubadas em 2006. Mas conta ainda com alguns quadros de Portinari e a maior coleção de obras de Jean-Baptiste Debret, constituída de 451 aquarelas, 58 desenhos e 29 gravuras, retratando a vida no Brasil colonial. Entre os artistas brasileiros, encontram-se obras de Di Cavalcanti, Alfredo Volpi, Iberê Camargo, Antônio Bandeira, José Pancetti, Manabu Mabe, Poty, Aldemir Martins... Entre os estrangeiros, temos Joan Miró, Modigliani, Edgar Degas e George Seurat entre outros. Faleceu em 1968 e o poeta Drummond chamou-o de “O carioca da perfeição”.
Deixou publicado um único livro, espécie de relatório poético sobre o trabalho realizado na Tijuca -A floresta da Tijuca-, pu- blicado em 1967 pela Bloch Editores, considerado hoje um livro raro. Não encontramos biografia do refinado colecionador e mecenas, exceto um ensaio realizado por Vera de Alencar, publicado em 2002 pela Editora Nova Fronteira: Castro Maya: Bibliófilo. Para compensar esta lacuna, temos uma bela cinebiografia, um documentário de Silvio Tendler, realizado em 2016: Castro Maya: carioca da perfeição, apresentado no link
https://www.youtube.com/watch?v=segGCSFL5IQ