Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho nasceu em Campinas, SP, em 5/1/1867. Médico pioneiro da saúde pública no Brasil, com a fundação da Faculdade de Medicina de São Paulo, e participação na criação do Instituto Butantan, Sociedade de Medicina e Cirurgia e Instituto do Câncer. Foi também pioneiro no desenvolvimento de uma cultura nacional como um dos fundadores da Sociedade de Cultura Artística, em 1912, presidindo-a até 1920.
Filho de Carolina Xavier Vieira de Carvalho e Joaquim José Vieira de Carvalho, professor de Direito, deputado do Império e senador estadual em 1891. Teve os primeiros estudos em sua cidade natal e ingressou na Faculdade Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro, onde se diplomou em 1888. Ao retornar a São Paulo, foi residir na Rua Ipiranga (atual Av. Ipiranga) no centro da cidade. Com proclamação da República, em 1889, os ideais de higiene e saúde passaram a ganhar destaque na administração pública.
Logo após o retorno, seu pai o indicou como médico da Hospedaria dos Imigrantes e influenciou em sua contratação para trabalhar na Santa Casa de Misericórdia. Em 1889 foi médico-adjunto, médico-cirurgião e vice-diretor clínico da Santa Casa. No período 1893-1913, foi diretor do Instituto Vacinogênico (atual Instituto Emílio Ribas) em 1894, foi chefe da clínica e diretor do hospital da Santa Casa e, entre 1895 e 1920, fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Por essa época era um homem público, envolto em discussões políticas e urbanas e publicava artigos em jornais com o pseudônimo de “Epicarnus”. Foi uma das figuras de maior destaque no desenvolvimento da Medicina em São Paulo no final do século XIX e início do século XX, em um momento delicado da saúde pública brasileira.
Na época São Paulo contava com problemas sociais gravíssimos e ele não se conformava com o fato da cidade não contar com uma escola de medicina. Os interessados na área tinham que se deslocar até o Rio de Janeiro. Assim, ele encabeçou uma reivindicação de seus colegas para que fosse cumprida uma lei de 1891, que previa a criação de uma escola de medicina pública em São Paulo. Após uma longa deliberação entre os médicos e a administração do Estado, o então Presidente de São Paulo -Rodrigues Alves- assinou a Lei nº 1357, implantando a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, em 1912, mais tarde incorporada à USP-Universidade de São Paulo. A aula inaugural se deu em 2/4/1913, ministrada pelo Dr. Edmundo Xavier, no salão nobre da Escola Politécnica.
Ele mesmo escolheu o corpo docente e foi seu primeiro diretor. Procurou a Fundação Rockfeller em busca de apoio na complementação da formação dos estudantes e a construção do hospital-escola ficou sob a responsabilidade do governo paulista, que só foi inaugurado em 1944, localizado atrás do edifício-sede da faculdade. Hoje é a única escola de medicina da América Latina que participa do grupo composto por 25 instituições acadêmicas de saúde e hospitais universitários da World Academic Alliance, responsável pela organização da Cúpula Mundial da Saúde, que discute soluções para os desafios da saúde global.
Sua atuação se deu no combate a algumas endemias e epidemias em território paulista, como o combate à varíola, doença responsável por grande número óbitos naquele momento; a febre amarela que se alastrava com grande velocidade entre os imigrantes; além da luta contra a epidemia de gripe espanhola, em 1918. Na ocasião, supervisionou a construção de hospitais de campanha, organizou cerca de mil leitos da Santa Casa e mobilizou professores e alunos da Faculdade de Medicina nos postos de atendimento espalhados pela cidade.
Faleceu em 5/6/1920, aos 53 anos, em decorrência de uma contaminação sofrida em uma cirurgia realizada na Santa Casa. Quando a nova sede da Faculdade foi inaugurada em 1931, seu busto em bronze foi erguido à frente do edifício, fazendo com que prédio ficasse conhecido como “a casa de Arnaldo”. No mesmo ano a Avenida Municipal, local em que a Faculdade se instalou, passou a ser denominada Avenida Dr. Arnaldo. Em 2020, no centenário de seu falecimento, sua memória foi lembrada em grandes solenidades através das instituições em que atuou e seguem, ainda hoje, ocupando papel de relevância no ensino, pesquisa e assistência médica em São Paulo.
Como biografia, contamos com o livro: Memória do Saber: Arnaldo Vieira de Carvalho, organizado por Maria Amélia M. Dantas e Márcia Regina B. da Silva e publicado pela Fundação Miguel de Cervantes/CNPq, em 2013. O livro conta com capítulo, onde André Mota nos mostra suas realizações como a “matéria-prima para construção social do ‘herói paulista da medicina brasileira’. Equiparado a Oswaldo Cruz, o herói republicano da medicina brasileira, o mito de Arnaldo foi incorporado às lutas simbólicas relativas à construção da identidade regional paulista. Contamos ainda com outro livro – A casa de Arnaldo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo -, de Berta Ricardo de Mazzieri, publicado em 2004 pela Editora Revinter, que se constitui na biografia de sua obra maior.