OS BRASILEIROS: Armando Sales de Oliveira
José Domingos Brito
Armando de Sales Oliveira nasceu em 24/12/1887, em São Paulo, SP. Engenheiro, empresário e político, tem o nome ligado a história de São Paulo, particularmente, na criação da USP-Universidade de São Paulo e do IPT-Instituto de Pesquisas Tecnológicas em 1934.
Filho de Adelaide Sá de Sales Oliveira e o engenheiro e político português Francisco de Sales Oliveira Jr., presidente da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. Teve parte dos primeiros estudos em escola pública e ingressou no curso de engenharia da Escola Politécnica. Durante o curso, trabalhou na construção de alguns trechos da Mogiana, em 1908. Destacou-se na área de projetos técnicos como engenheiro e empresário e casou-se com Raquel de Mesquita, filha de Júlio de Mesquita Filho, dono do jornal O Estado de São Paulo, de quem se tornou sócio.
Com a morte do sogro, em 1927, assumiu a presidência da sociedade anônima proprietária do jornal. Apoiou a Revolução de 1930 e teve atuação destacada na Revolução Constitucionalista de 1932. Manteve ligações com os constitucionalistas, enquanto procurava uma aproximação com o governo Vargas. Em 1933 foi designado interventor em São Paulo e promoveu uma reordenação na política do Estado com a criação do Partido Constitucionalista. A USP-Universidade de São Paulo constituiu-se na criação mais expressiva de seu governo. A proposta era tornar-se um centro de excelência acadêmica de projeção nacional, um objetivo plenamente alcançado.
Para ressaltar o objetivo, criou o IPT-Instituto de Pesquisas Tecnológicas, ao lado da Escola Politécnica. As justificativas no próprio texto do decreto são claras: “a organização e o desenvolvimento da cultura filosófica, científica, literária e artística constituem as bases em que se assentam a liberdade e a grandeza de um povo” e “somente por seus institutos de investigação científica, de altos estudos, de cultura livre, desinteressada, pode uma nação moderna adquirir a consciência de si mesma, de seus recursos, de seus destinos”. Assim, reuniu os institutos e escolas existentes, criou a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras para formar professores primários e secundários e deu no que deu: a grande USP, cujo campus hoje leva seu nome.
Além dos objetivos acima, queria preparar uma elite intelectual moderna e necessária ao País. Ainda segundo seus criadores, era necessário à “formação das classes dirigentes, mormente em países de populações heterogêneas e costumes diversos, condicionada à organização de um aparelho cultural e universitário, que ofereça oportunidade a todos e processe a seleção dos mais capazes”. Para isto, foi firmado um convênio com as universidades francesas, garantindo a vinda de professores para lecionar aqui. No ano seguinte foi eleito governador do Estado e pouco depois comunicou à Vargas seu interesse em se candidatar à presidência da República.
Foi dissuadido dessa intenção pelo presidente Vargas. Porém, não acatou o conselho, pois contava com o apoio de Flores da Cunha, governador do Rio Grande do Sul e de outros governadores da oposição à Vargas. Em 1937 homologou a candidatura na eleição que deveria ocorrer em 1938, que não se deu devido ao golpe instaurando Estado Novo em fins de 1937. Ele ficou detido por um ano em prisão domiciliar e passou a viver exilado na França até 1939, quando se mudou para os EUA. Com o Golpe de Estado, seu jornal foi confiscado pelo Governo. No exílio divulgou diversos manifestos contra a ditadura de Vargas.
Em 1943 mudou-se para a Argentina e pouco depois foi anistiado. Retornou ao Brasil em 1945, quando se encontrava doente. Ainda assim participou ativamente na política, como membro da comissão diretora que criou a UDN-União Democrática Nacional, partido reunindo os adversários do Estado Novo. Mas, logo veio a falecer em 17/5/1945. Seu nome ficou gravado no campus da USP e diversos logradouros públicos do Estado.
Deixou alguns livros publicados com relatos sobre sua trajetória política: Jornada democrática (1937), Para que o Brasil continue (1937) e Diagrama de uma situação política; manifestos políticos do exílio (1945). Alguns textos biográficos esclarecem tal trajetória: Síntese do pensamento de Armando de Sales Oliveira, de Joaquim A. Sampaio Vidal (1937), Armando de Sales Oliveira, de Cesário Coimbra, Manuel dos Reis e Moacir E. Álvaro (1946); Armando de Sales Oliveira, de A.C. Pacheco Silva (1966) e o artigo Armando de Sales Oliveira, de Ricardo Maranhão, publicado no “Suplemento do Centenário” de O Estado de S. Paulo, em 1975.
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