Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial quarta, 08 de fevereiro de 2023

OS BRASILEIROS: ABDIAS DO NASCIMENTO (ARTIGO DE JOSÉ DOMINGOS BRITO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

OS BRASILEIROS: Abdias do Nascimento

José Domingos Brito

 

 

 

Abdias do Nascimento nasceu em 14/3/1914 em Franca, SP. atorpoetaescritordramaturgo, pintor, professor e político, considerado um dos expoentes da cultura negra no Brasil.  Foi um destacado ativista dos direitos humanos e líder pioneiro do movimento negro no Brasil e fundador do TEN-Teatro Experimental do Negro, Museu de Arte e Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros.

 

Filho de Georgina Ferreira do Nascimento, doceira e ama de leite e  José Ferreira do Nascimento, sapateiro e violonista,  Teve os primeiros em sua cidade natal e concluiu o curso de contabilidade no Ateneu Francano, em 1929. Em seguida mudou-se para o Rio de Janeiro e manteve contatos com um grupo de intelectuais integrantes da AIB-Ação Integralista Brasileira. Segundo seu colega, o poeta Gerardo Melo Mourão, “Abdias se dedicou exclusivamente ao problema da raça negra, da redenção dos negros brasileiros. Dizia que era a missão dele e era realmente uma coisa importante”. Tempos depois, questionado sobre sua participação na AIB, declarou

“Dentro do integralismo eu me separava do movimento negro, mantendo assim duas atividades paralelas. Logo que percebi, concretamente, o racismo dentro do integralismo, me desliguei definitivamente desse movimento político”.

 

Em 1938 concluiu o curso de Economia pela Universidade do Rio de Janeiro e passou a se interessar pelo teatro, levando-o a fundar o TEN-Teatro Experimental do Negro, em 1944. Sua primeira peça -O imperador Jones-, de Eugene O’Neill, foi encenada em maio de 1945.

No ano seguinte, foi o ator principal da peça Otelo, de Shakespeare.

Na mesma época, participou da fundação do PTB-Partido Trabalhista Brasileiro. Na condição de pioneiro do movimento negro, foi um dos organizadores da Convenção Nacional do Negro, realizado por 2 anos no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde propôs à Constituinte de 1946 tipificar a discriminação racial como crime de lesa-pátria. Pouco depois organizou o Congresso do Negro Brasileiro, em 1950, e passou a se interessar pelo estudo das ciências sociais. Ingressou no ISEB-Instituto Superior de Estudos Brasileiros e concluiu o curso de sociologia em 1956.

 

Por essa época participou da UNE-União Nacional dos Estudantes,  mas pouco depois foi alijado do movimento sob a alegação de ter sido um dos integrantes da AIB. Com o golpe militar de 1964 passou a ser perseguido e teve seu nome incluído em vários inquéritos policiais militares. Em 1968, com o recrudescimento do regime, fechou o TEN e exilou-se nos EUA, onde passou a lecionar na School of Drama da Universidade de Yale e Wesleyan Center of the Humanities. No período 1970-1982 lecionou na Universidade de Nova Yorque, chegando a tornar-se professor emérito e diretor do Centro de Pesquisas e Estudos Porto-Riquenhos. Exerceu, também, atividades acadêmicas em outros países e lecionou na Universidade de Ifé, Nigéria, em 1976-1977. 

 

De volta ao Brasil, foi cofundador do Movimento Negro Unificado e fundou o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brsileiros, na PUC/SP, em 1981 e atuou como membro do Conselho Deliberativo do Memorial Zumbi, em 1980. No exílio conheceu Leonel Brizola, junto ao qual ajudou a fundar o PDT-Partido Democrático Trabalhista, em maio de 1980, designado como vice-presidente. Em 1983 tornou-se deputado federal e assumiu a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. Sua atuação política foi centrada na defesa dos direitos humanos e civis dos negros, identificando o racismo e a discriminação racial como questões nacionais e propondo a criação de uma Comissão do Negro na Câmara.  

 

Batalhou pelo resgate histórico de Zumbi dos Palmares, como herói da Pátria e propôs o feriado nacional no dia 20 de novembro, aniversário de sua morte, como “Dia Nacional da Consciência Negra”. Apresentou projeto de lei estabelecendo mecanismos de compensação para os negros, prevendo a criação de uma cota de 20% de vagas na seleção de candidatos ao serviço público. A proposta incluía incentivos às empresas para a eliminação da discriminação racial e a incorporação ao sistema de ensino de uma imagem positiva da família afro-brasileira, bem como a inclusão no curriculum escolar de uma matéria sobre a história das civilizações africanas e do africano no Brasil.

 

Suas iniciativas em defesa dos negros foram importantes nas discussões da Assembleia Nacional Constituinte. Com a nova Constituição, promulgada em 1988, o direito brasileiro passou a ser mais bem considerado ao contemplar a natureza pluricultural e multiétnica do País. O racismo tornou-se crime inafiançável e deu-se a demarcação das terras dos remanescentes de quilombos. Teve atuação destacada na Comissão do Centenário da Abolição, em 1988 e seu desdobramento na criação da Fundação Cultural Palmares. Em 1990 foi empossado como suplente do senador Darcy Ribeiro e no ano seguinte, foi designado Secretário Extraordinário para Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras, do Rio de Janeiro, pelo governador Leonel Brizola.

 

Pouco depois, tomou posse no Senado com a saída de Darcy Ribeiro, que foi comandar o Programa Especial de Educação no governo Brizola. Em 1997, com a morte de Darcy, voltou ao Senado e ao final da legislatura 1995-1999, assumiu a Secretaria de Direitos Humanos e da Cidadania, na administração do governador Anthony Garotinho. Seu empenho no movimento negro rendeu-lhe 2 indicações ao Prêmio Nobel da Paz, em 2004 e 2009, além de diversas homenagens no Brasil e no exterior. Como pintor, teve suas obras expostas em galerias e universidades dos EUA e do Brasil. Faleceu em 23/5/2011, aos 97 anos.

 

Deixou alguns livros publicados, com destaque para Sortilégio (1957), traduzido para o inglês em 1978; O negro revoltado (1968), reeditado em 1982; Racial democracy in Brazil: myth or reality? (Nigéria, 1972); O genocídio do negro brasileiro (1978), reeditado em 3ª edição pela Ed. Perspectiva em 2016; O quilombismo (1980), reeditado em 2002; Orixás: os deuses vivos da África (edição bilingue, 1995), O Brasil na mira do Pan-Africanismo (2002). Duas biografias dão conta de seu legado: Abdias  Nascimento, da jornalista Sônia de Souza Almada, publicada pela Selo Negro Edições, em 2009 e Abdias Nascimento, a luta na política, pela Ed. Perspectiva, em 2012, da norte-americana Elisa Larkin Nascimento, sua última esposa, que ressalta “muito do debate e das políticas públicas que assistimos hoje e que foram implementadas no País devemos à sua atuação parlamentar”. Uma vista panorâmica de sua vida e legado podem ser vistos no link: http://www.abdias.com.br

 

Militância e política – Ocupação Abdias Nascimento (2016) - YouTube

 


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