Menino brincando de soltar pipa
O mundo, em especial o Brasil, está enlameado. Assim, como gosto de escrever, compulsivamente, vou me voltar a partir de agora, para outras coisas: para a infância, para aqueles que ainda não foram contaminados pela idiotice dos doutores e dos adultos.
Botar a pipa no ar; relancear sem cerol na linha; jogar peteca para uns e bila ou cabiçulinhas para outros tantos; rodar e aparar pião na mão e depois na unha; fazer bola de meia ou, ainda, jogar chuço na areia molhada depois da chuva.
É melhor que perder tempo, lendo tanta merda colocada no ventilador por quem frequentou a escola e fez juramento ético. Mas perdeu a vida: nem aprendeu nem se transformou em profissional. É doente!
Pois, decidi ligar a máquina do tempo – será bem melhor, pois nunca fiz nada de que me envergonhe – e voltar a passear na infância, mais precisamente no interior, quando ainda banhava nu no açude e vestia calças de suspensórios. Quando comia (literalmente) com a mão, fazendo capitão de feijão.
A tarde, depois de fazer os deveres escolares – lembro: não havia merenda escolar, bolsa escola, ônibus escolar, uniforme e livros doados pelo Governo; mas, lembro também, nem nós nem os professores fazíamos greves – as brincadeiras de jogar castelos de castanhas de caju, soltar pião ou cuidar da fazenda imaginária, onde a boiada era toda uma obra de arte feita com sementes de mamona.
E, as vacas eram leiteiras, sim senhor. Se alimentavam também, sim senhor. E até cagavam “aqueles pratos de esterco” que, de noite eram queimados para espantar pragas e muriçocas.
Não, nenhuma vaca holandesa. Nenhum touro de raça – e a manada era aumentada com uma simples volta debaixo do pé de mamona. Apanhadas ainda verdes, as sementes eram postas à secar.
Tempos bons. Tempos de vacas não conhecer bezerro. Mas… nenhuma ia para o brejo.
O empoderamento e as palavras inúteis
A modernidade da vida ou, a vida moderna, é algo interessante. As gerações da sociedade brasileira se modernizam (mas, como a letra da música de Belchior, eternizada pela também eterna Elis Regina, “continuam como nossos pais – e as aparências não enganam”) na teoria. A prática é a repetição dos pais, antigas pra dedéu. Nada muda, nem mudará.
Quando a gente lê e conhece escritores e cronistas do naipe do genial Ariano Suassuna, também compreende a necessidade da simplicidade das coisas. Comunicar é se fazer entender – mas a geração atual insiste em tentar falar difícil, e acaba por não dizer nada. Ariano usa adequadamente os adjetivos da língua brasileira, sem deixá-los cair na mesmice da desvalorização. Sem serem gastos (e usados) de forma inadequada.
Tipo: se eu jogo fora o adjetivo “gênio”, aplicando-o à Lula, o que sobra para usar para Rui Barbosa, Ariano, Chico Anysio, Mário Lago e outros do nível?
Pois, hoje escutei numa emissora AM local, uma jovem fazendo um convite para um evento, concentrado no “empoderamento” feminino. E aí haja sair palavras que o público alvo certamente precisou recorrer ao velho Aurélio para entender o que estava sendo dito. É comum, hoje, o uso de vocabulário fútil, sem necessidade, que não diz nada além do que outro palavreado simples diria. Só se fala em “aplicativos”, “demanda”, “empoderamento”.
Que diabos significa “empoderamento”, que não possa ser substituído por “conscientização”?
Suricate Seboso mandando ver
Lembrei, também, de Patativa do Assaré:
“É melhor escrever errado a coisa certa do que escrever certo a coisa errada…”
É duro aceitar o “falar” de alguns lugares brasileiros. É duro aceitar e se acostumar com a maranhensidade do, “mamãe, ele quer me dá-lhe”. Mas, é como muitos falam, e, na terra dos sapos, de cócoras com eles. Ainda que se tenha que comer muitos mosquitos.
Mas, vamos à demanda do emponderamento com todos os seus aplicativos! Eu, se for, irei vestido com a calça Lee, americana legítima.