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Luan Silva viu no curso uma oportunidade de melhorar as condições de vida da família e virou referência entre os estudantes do Senai
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O que seria só um curso para facilitar o ingresso no mercado de trabalho virou a paixão de brasilienses que estarão na Rússia em agosto. O WorldSkills 2019, maior competição de educação profissional do mundo, receberá cerca de 1,5 mil estudantes de 70 países para a disputa de medalhas em 53 modalidades. O evento serve para premiar os melhores profissionais de técnicas da indústria — como soldagem e movelaria — e do setor de serviço — como panificadores e cabeleireiros. Mas a disputa é só uma parte da história dos competidores.
Um dos 59 brasileiros aptos para ir à Rússia é Luan Silva Braga, 20 anos, morador da Candangolândia. “Fiz o curso técnico de edificações no Senai e fiquei trabalhando por seis meses em um escritório de arquitetura. Já me interessava pela área devido ao meu avô, uma inspiração para mim. Ele era pedreiro e sempre se esforçou muito em tudo o que fez, mas acabou falecendo dois dias depois do meu aniversário de 15 anos. Achei na minha área uma maneira de honrá-lo”, conta. Filho mais velho, ele mora com a mãe e os dois irmãos e viu que, com seus serviços, poderia dar uma condição de vida melhor à família.
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Estudante de movelaria, João Victor sonha com um emprego no exterior
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Após concluir o primeiro curso, Luan decidiu entrar em uma turma de drywall e passou a tomar gosto pelas aulas de construção em placas de gesso. Apaixonado por criar, passou a colocar em prática o interesse pela arquitetura e a buscar a excelência, tanto que foi chamado pelos professores do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Taguatinga para competir regionalmente em eventos profissionais, construindo painéis. “Comecei a treinar das 8h30 às 21h, de segunda a sábado, e fui me qualificando. Depois de estar entre os melhores do país, mirei ir para a Rússia”, diz.
Preparação
O evento internacional ocorre uma vez a cada dois anos e vai para a 45ª edição em 2019. Nele, os estudantes passam por provas extensas, individuais ou coletivas, que servem como desafio para avaliar as diferentes capacidades em cada área. As atividades podem durar até cerca de 10 horas. Nas duas últimas competições, o Brasil subiu ao pódio: conquistou o 1º lugar na WorldSkills 2015, ocorrida em solo nacional, e em 2º em 2017, na edição de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Enquanto o evento aguardado não chega, uma simulação ocorre em Brasília.
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Centro de Treinamento Integrado do Senai no SIG recebe simulados da prova mundial
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A capital foi escolhida como palco de atividades semelhantes às que vão ocorrer em agosto, na Rússia. É aqui, nos Centros de Treinamentos Integrados do Setor de Indústrias Gráficas (SIG), do Guará e de Taguatinga, que competidores de todo o mundo estão se preparando para as horas de programações, construções e engenharias. “Brasília é uma ótima opção para essa simulação, porque está no centro do país, tem aeroporto próximo e o trânsito não é tão complicado. A logística ajuda muito”, explicou Jeferson Mateucci, delegado técnico assistente do Senai.
Estudo que transforma
Luan está hospedado em um hotel para participar dessas simulações, que começaram em 2 de julho e vão até sexta-feira. “Na minha categoria, são três dias de prova. Cada dia é uma luta, um suor, um cansaço. Mas, no fim, vale a pena. É isso que vai me levar ao meu sonho de cursar uma faculdade de arquitetura. Meu trabalho é uma oportunidade para abrir essas portas. Isso é uma motivação”, explica. O aluno estará acompanhado da professora Flávia Louise Arnold, 39, durante o campeonato.
Ela vê o evento como uma das metas de quem quer mudar de vida pelo estudo. “Luan vem de uma criação muito difícil. Ele vê a oportunidade de se desenvolver como profissional e ser humano com o curso”, conta. João Victor dos Anjos, 19, também se encaixa nesse contexto. Morador de Águas Lindas (GO), ele se classificou para o mundial e deixou a casa em festa. “Minha família fica muito orgulhosa com esse meu desempenho. Foi isso que me levou a viajar para fora, coisa que nenhum de nós tinha feito ainda”, lembra. A irmã, inclusive, também entrou em um curso profissionalizante, de panificação, inspirada nele.
Mas a rotina para ganhar uma medalha é dura. “Nessa semana de simulação, acordo 5h40, troco de roupa e vou fazer exercício físico. Quando termina, tomo café e já vou para o treinamento. Dou uma pausa para o almoço e depois volto. Só acabo às 19h”, detalha. O rapaz treina produzindo móveis especiais. Futuro competidor de movelaria, busca um emprego fora do Brasil. “Se Deus quiser, vou ganhar a medalha e poder ser visado por pessoas de outros países. Eles valorizam muito os medalhistas.”
O treinador dele, Marcelo Erct, 30, apoia e lembra: “Os alunos daqui atingem um nível de profissionalismo tão grande que, às vezes, viram nossos professores no Senai e ensinam com qualidade para mais outros estudantes. Isso gera um ciclo muito importante”.
Simulação
O simulado, realizado no Centro de Treinamento Integrado do Senai é uma das atividades mais importantes pré-competição, pois representa a última oportunidade de os candidatos testarem as habilidades de acordo com as exigências da prova. Por isso, 14 integrantes vindos da Suíça, Coreia do Sul, Marrocos, Japão, Rússia, Malásia e Colômbia estão em Brasília, até sexta-feira, participando das atividades de simulação no DF.