Odorico e as irmãs Cajazeiras
Publicada em 1605, mas, provavelmente escrita antes disso, “Don Quixote”, a obra-prima de Miguel de Cervantes Saavedra registra passagens bem atuais e outras que estão por vir (coincidências, acredita-se). São mais de quatro séculos de vaticínios.
“A revolução dos bichos” (Animal Farm), escrita por George Orwell, e publicada em 1945, vai completar nessa segunda-feira 17, 75 anos, e nela também há passagens coincidentemente atuais.
E o que tem de atual nisso?
Poderia ser “as promessas feitas à Sancho Pança”. Não? Afinal, as eleições no Brasil já estão batendo à porta. Ou que os bichos, se revolucionem e evitem pelo menos o caminho das panelas.
Assim, imagino que não estarei exagerando, se disser que, a novela “O bem amado”, escrita em 1973 por Dias Gomes, nos transporta para o momento atual vivido pelo Brasil, mais propriamente pelos ansiosos prefeitos de centenas de “Sucupiras”, que tentam justificar parte do dinheiro surrupiado via Orçamento de Guerra, com o aval do STF (Supremo Tribunal Federal), e, além dos hospitais de campanha, se deleitam com as imagens das sepulturas enfileiradas. Muitos sonham com isso, transformando sonhos em água para lavar o dinheiro.
E pouco se importam se algum “Nezin do Jegue”, em momentos mais que sóbrios, e sem tocar fogo no álcool consumido na bodega do Jessier Quirino vai furar a quarentena e gritar a todos pulmões: “São todos uns Odoricos, esses prefeitos ladrões”!
Nezin do Jegue (Wilson Aguiar)
Don Quixote acalentava o sonho levado pelos moinhos, mas ora ouvia e ora não achava importante escutar o escudeiro Sancho Pança, à quem fizera promessas. Sonha até hoje. Mas Cervantes entregou ao mundo a ideia da perseverança, na procura da realização do sonho, ainda que esse pareça impossível ou pouco provável.
George Orwell conseguiu dizer que, “nem os bichos se conformam tanto, de forma tão degradante e resolvem partir para a revolução, tentando impor novas ideias que os libertem da submissão ou do “só servir para ser comido”. Às favas o conformismo e ao inferno a aceitação total e perene das coisas que não são boas. Isso, creio, poderia ter alguma ligação com o povo brasileiro nas últimas eleições, mudando o caminho da história. Exatamente quando o “#elenão” perderia até para a Marina.
Dias Gomes sequer faz uso do Zeca Diabo, contratado para solucionar o problema “equacionatório, imaginatório e realizatório” de Sucupira, e da consumação corruptiva de Odorico Paraguaçu. É o Brasil de hoje mostra do há 45 anos atrás.
Estranhei que, na verossimilhança não haja um mínimo de espaço onde possamos inserir as atuais decisões do STF. Seria, por acaso, a necessidade de nos apropriarmos das notícias através do Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz) ou de Neco Pedreira (Carlos Eduardo Dolabella), proprietário d´A Trombeta (TV Globo)?
Chico “Maranguape” Anysio
* * *
Eu vim da terra do Chico,
Deixei o Anysio por lá.
Ficaram também Belchior,
Fagner, Cego Aderaldo,
Sem esquecer Zé Tatá.
Terra do meu Padim Ciço,
Castello Branco, Paulino Rocha,
Não esquecendo Florinda,
Prometendo lembrar sempre
Que Zé de Alencar vem de lá.
Eu vim da terra do Chico,
Deixei o Anysio por lá.
Ficaram também, Mucuripe
O Orós, a guabiraba, e o sapoti
Mas ficou eterno o Liceu do Ceará.
Terra do peixe biquara, do Cumbuco
Louvando o Xico Bizerra de lá,
Não esqueci as rendeiras, as redes,
Macaúba, murici e o pão do aluá
Patativa, Juazeiro, Messejana e Tauá.
Eu vim da terra do Chico,
Deixei o Anysio por lá.
Tenho sofrido, aprendido, vivido
Alimentando a Fé e a certeza
Que um dia voltarei para lá.
Composição deste colunista