Raimundo Floriano
Odete Amaral
Odete Amaral, cantora, nasceu em Niterói (RJ), no dia 28.4.1917, e faleceu no Rio de Janeiro, no dia 11.10.1984, aos 67 aos de idade.
Filha caçula do lavrador Alfredo Amaral e Albertina Ferreira do Amaral, mudou-se com a família, em 1918, para o Rio de Janeiro, onde o pai se tornou chofer de caminhão.
Aos seis anos de idade, Odete entrou para o Colégio Uruguai, onde fez o Curso Primário. Em 1929, aos 12, empregou-se na América Fabril como bordadeira. Por sua bonita voz, era sempre convidada a cantar no teatro da escola, além de festas de aniversário.
Em 1933, aos 16 anos, fez um teste para a Rádio Guanabara, acompanhada pelo pianista e compositor Felisberto Martins, cantando o samba Minha Embaixada Chegou, de Assis Valente. Aprovada no teste, foi logo escalada para participar do Programa Suburbano, onde também se apresentavam Sílvio Caldas, Marília Batista, Noel Rosa, Almirante, Aurora e Carmen Miranda, entre outros.
Levada por Almirante, passou a cantar também na Rádio Clube. Na mesma época, participou da inauguração do Cassino Atlântico e, pouco depois, apresentava-se na Rádio Ipanema. Atuou, ainda, em várias emissoras, dentre as quais a Sociedade, a Philips e a Cruzeiro do Sul, e também no Teatro cantando a marchinha Ganhou Mas Não Leva, de Milton Amaral, numa Revista levada no João Caetano.
Em 1936, assinou seu primeiro contrato, na Rádio Mayrink Veiga. Naquele ano, gravou, na Odeon, seu primeiro disco, com os sambas, Palhaço, e Milton Amaral e Roberto Cunha, e Dengoso de Milton. Em seguida, foi levada por Ary Barroso para a RCA Victor, onde estreou com o samba Foi de Madrugada e a marchinha Colibri, ambos de Ary. Paralelamente, cantava em coros, atuando em muitos discos de colegas como Francisco Alves, Mário Reis e Almirante.
Por essa época, recebeu de César Ladeira o slogan de A Voz Tropical.
Em 1937, participou da inauguração da Rádio Nacional, onde permaneceu por dois anos, e gravou o samba Sorrindo, de Ciro Monteiro e L. Pimentel, a rumba Terra de Amores, de Gadé e Valfrido Silva, o samba-canção Só Você, de Haníbal Cruz, além da marchinha Não Pago o Bonde, J. Cascata e Leonel Azevedo, sucesso no Carnaval do ano seguinte.
Em 1938, casou-se com o cantor Ciro Monteiro, com quem teve um filho. Ainda em 1938, gravou, de Ataulfo Alves e Alcebíades Barcelos, o Bidê, os sambas Ironia e Não Mando em Mim, e, de João da Baiana, o samba É Melhor Confessar do Que Mentir.
Em 1939, mudou-se para São Paulo, contratada pela Rádio Cultura, onde atuou durante um ano e meio, percorrendo vários Estados do Brasil nos intervalos dos programas, acompanhada de Ciro Monteiro. Participou do filme da Cinédia O Samba da Vida, de Luís de Barros, e gravou, com Ciro Monteiro, os sambas Sinhá, Sinhô e Bem-querer, ambos de Aloísio Silva Araújo.
Em 1940, gravou a marcha O Gato e o Rato, de Wilson Batista, Arnô Canegal e Augusto Garcez, e os sambas Eu Já Mandei, de J. Cascata e Leonel Azevedo, e Quando Dei Adeus, de Ataulfo Alves e Wilson Batista.
Em 1941, retornou para a Rádio Mayrink Veiga, no Rio, e lá ficou por seis anos. No mesmo ano, gravou a marchinha Serenata, de Felisberto Martins e Sá Róris, o samba Pode Chorar Se Quiser, de Roberto Cunha e o frevo-canção Não Sei o Que Fazer, de Capiba. Na mesma época, passou a gravar na Odeon, onde estreou com a valsa Minha Primavera, de Gadé e Almanir Grego, e a fantasia Minha Voz, de Eratóstenes Frazão. Em seguida, gravou Não Quero Dizer Adeus, samba-choro de Laurindo de Almeida.
Em 1942, gravou os sambas Quem Não Chora, Não Mama, de Laurindo de Almeida e Ubirajara Nesdem, Caminhar Sem Destino, de Felisberto Martins e Henrique Mesquita, e Por Causa de Alguém, de Ismael Silva.
Em 1943 registrou o foxe Primavera em Flor, com música de Georges Moran sobre versos do poeta J. G. de Araújo Jorge, e os sambas Favela Morena, de Estanislau Silva e João Peres, e Resignação, de Geraldo Pereira e Arnô Provenzano.
Em 1944 gravou, de Geraldo Pereira e Ari Monteiro, o samba Carta Fatal, com o Quarteto de Bronze, a valsa Toureador, de Georges Moran e Osvaldo Santiago, e o choro Murmurando, de Fon-Fon e Mário Rossi, seu maior sucesso, que se tornou um verdadeiro clássico da MPB. Em 1945, lançou, de Haroldo Lobo e Eratóstenes Frazão, a marchinha Quem Tem Mágoa, Bebe Água.
Passou um período em que realizou poucas gravações, fazendo alguns registros no pequeno selo Star, entre eles, a marchinhas A Moleza do Faquir, de Dênis Brean e Osvaldo Guilherme, e o samba Por Que Mentir?, de Luiz Antônio e Ari Monteiro, ambos em 1948.
Atuou na Rádio Mundial de 1947 a 1951, ano em que, contratada pela Rádio Tupi, se apresentou no Programa matutino O Rio se Diverte e, à noite, no Rádio Sequência G-3. Em 1949, chegou ao fim seu casamento com Ciro Monteiro.
Em 1951, retornou à Odeon, com os choros Bichinho Que Rói, de Dênis Brean, e Mais Uma Vez, de Cachimbinho e Delore. No mesmo ano, assinou contrato com a Rádio Tupi.
Em 1952, regravou o clássico samba canção Ai, Ioiô, de Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto. No ano seguinte, gravou Carneirinho de São João, marcha junina de Luiz Vieira.
Em 1954, gravou os sambas Nasceu Pra Sofrer, de Arnô Provenzano, Isaias Ferreira e Oldemar Magalhães, e Vem, Amor, de Enésio Silva, Isaias Ferreira e Jorge de Castro. Ainda nesse ano, lançou o samba-canção Quando Eu Falo com Você, de Mário Rossi e Gadé, o choro Girassol, de Mário Rossi, o afro Pai Benedito e Iemanjá, de Henrique Gonçalves, os sambas-canções Divina Visão, de Vargas Júnior, e Cruz Para Dois, de Chocolate e Jorge de Castro, além da regravação do samba-canção Carteiro, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins.
Em 1957, assinou contrato com a gravadora Todamérica, na qual estreou com os sambas Dedo de Deus, de Raul Marques e Ari Monteiro, e Tô Chegando Agora, de Monsueto Menezes e José Batista. No mesmo ano, lançou seu primeiro LP, com arranjos do maestro Guio de Moraes, Tudo Lembra Você.
Em 1959, lançou, para o Carnaval de 1960, o samba Enquanto Houver Mangueira, de Roberto Roberti e Arlindo Marques Jr. Em 1962, assinou contrato com a Copacabana. Um de seus trabalhos mais interessantes foi o LP Do Outro Lado da Vida - Os Que Perderam a Liberdade Contam Assim Sua História, gravado com Ciro Monteiro Jr., no qual interpretaram composições de presidiários do então Estado da Guanabara e de São Paulo, entre as quais, Luar de Vila Sônia, valsa de Paulo Miranda, Nos Braços de Alguém, samba-canção de Quintiliano de Melo, e Silêncio! É Madrugada, samba-canção de Wilson Silva. Lançou, com Silvio Viana e Seu Conjunto, o LP Sua Majestade Odete Amaral - A Rainha dos Disc-Jockeys.
Em 1968, lançou, com sucesso, dois sambas clássicos da MPB, Alvorada no Morro, de Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho, e Sei Lá, Mangueira, de Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho, além de Tempos Idos, de Cartola e Carlos Cachaça, que ela gravou com Cartola, todos reunidas no mesmo disco, o histórico LP Fala Mangueira, ao lado de Cartola, Clementina de Jesus, Nélson Cavaquinho e Carlos Cachaça, mais tarde transformado em CD.
Em 1975, participou da Série MPB 100 ao Vivo, irradiada pelo Projeto Minerva, da Rádio MEC, em cadeia nacional de emissoras. Ao lado de Paulo Marques, cantava os grandes sucessos dos anos 1930. A Série, de 30 Programas, deu origem a oito LPs criados por seu produtor, Ricardo Cravo Albin. Em 1979, teve lançado seu último LP, Odete Amaral, Sempre Sambista.
Em 1977, participou do show Café Nice, ao lado de Paulo Marques e Altamiro Carrilho, com direção e narração de Ricardo Cravo Albin.
Sendo uma das cantoras populares brasileiras de voz mais pessoal e afinada, nunca chegou a atingir o estrelato de musas como Carmen Miranda, Aracy de Almeida ou as irmãs Linda e Dircinha Batista, mas é ainda hoje considerada uma das melhores intérpretes brasileiras da Década de 1930 e de todos os tempos.
Seus discos são facilmente encontráveis no mercado virtual, além de 123 títulos remasterizadas de bolachões 78 RMP.
Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi as cinco faixas abaixo:
Ali Babá, marchinha de Roberto Roberti e Arlindo Marques Júnior, gravada para o Carnaval de 1938
Não Pago o Bonde, marchinha de J. Cascata e Leonel Azevedo, grande sucesso no Carnaval de 1938 e nos posteriores:
Não Sei o Que Fazer, frevo-canção de Capiba, lançado no Carnaval de 1941:
Pavãozinho Dourado, marchinha de Roberto Cunha, lançado no Carnaval de 1940:
Quem Tem Mágoa, Bebe Água, marchinha de Haroldo Lobo e Frazão, lançada no Carnaval de 1945: