ODE
Maciel Monteiro
Ao nascerdes, senhora, um astro novo
Vos inundou de luz, que inda hoje ensina,
No fogo desses vossos olhos belos
Vossa origem divina.
O ar que respirastes sobre a terra,
Foi um sopro de Deus embalsamado
Entre as flores gentis que vos ornavam
O berço abençoado.
Ao ver-vos sua igual, no empíreo os anjos
Hinos de amor cantaram nesse dia;
E o que se escuta, se falais é o eco
Da angélica harmonia.
Gerada para o céu, que o céu somente
Da criação a pompa e o brilho encerra,
Das mãos do criador vos escapastes;
Caístes cá na terra.
Um anjo vos seguiu para guardar-vos;
E, quais gêmeos, um noutro retratado,
Quem pode distinguir o anjo que guarda
Do anjo que é guardado?
Só um raio do céu arde perene
Sem que o tempo lhe apague o furor santo!
Por isso os vossos dons são sempre os mesmos,
O mesmo o vosso encanto.
Em vós é tudo eterno. E, se na fronte
(Tão bela sempre em tempos tão diversos)
Uma c'roa murchar-vos, é decerto
A coroa de meus versos,
Dos meus versos! Ah! Não! Que inextinguível
É o incenso queimado à divindade:
E ao canto que inspirais, vós dais, senhora,
Vossa imortalidade.