O vaqueiro e seus desafios
O galo cantou – mais um dia amanheceu. A mesa está posta para o café da manhã. É a repetição do dia a dia, na grande fazenda ou no mais humilde dos casebres.
Leite, coalhada, queijos e manteigas – todos produtos bovinos que tiveram a prestimosa e indispensável ajuda do “Vaqueiro” – aquele que tange, chicoteia, e, às vezes, também esporeia o boi e a vaca. É uma das muitas formas de “ordenar” a quem escuta mas não responde.
É o mister do Vaqueiro, a cada começo de dia. Seja na fazenda ou na misteriosa caatinga, cheia de garranchos, espinhos e cascavéis – tudo pronto a repelir e resistir, numa obediência apenas ao destino da caatinga.
E é ali, onde não há esconderijo, que o boi, a vaca, o garrote e o bezerro procuram se esconder do domínio humano.
A escuridão noturna se aproxima. Berrantes anunciam a hora da volta para os currais. Faltam bois, faltam bezerros e faltam rês (vacas) para o descanso preparatório para a ordenha da madrugada expulsa pela claridade de mais um dia – é a alvorada com o galo a cantar.
O sertanejo é antes de tudo um forte?
Imaginem o sertanejo Vaqueiro.
A vitória confronta desafios para “pegar” o boi
Oração do Vaqueiro
Deus pai todo-poderoso, luz do Universo. Vós que sois o criador da vida e de todas as coisas, concedei derramar sobre nós, teus filhos, cavalos, e vaqueiros que aqui estamos, as tuas bênçãos e a tua divina proteção.
Dai-nos Senhor:
– A saúde e o vigor, para que possamos competir com garra em busca da vitória…
– A lealdade, para que busquemos o podium com determinação e coragem, mas com respeito pelos nossos adversários, vendo em cada um deles um amigo e um companheiro de jornada…
– A prudência, para que não venhamos a nos ferir no ardor da disputa…
– A paciência, para que entendamos que a vitória, símbolo do sucesso, é o resultado do trabalho árduo e deve ser conquistada degrau a degrau…
– A humildade, para façamos de cada sucesso um estímulo para caminharmos sempre em frente e cada tropeço um aprendizado de que pouco sabemos, e é preciso aprender mais…
– A gratidão, para que, no momento da vitória, saibamos que a conquista só foi possível pelo trabalho e dedicação de muitos: cavalos, treinadores, tratadores, juízes, locutores, vaqueiros, promotores, veterinários, motoristas e até o do público que vem nos assistir…
Senhor, dai-nos também:
– A bondade, para tratarmos nossos animais com respeito, amor e atenção, jamais esquecendo de agradecer a eles pelo trabalho realizado…
– A generosidade, para que no futuro, quando nosso inseparável amigo de tantos galopes da vitória estiver velho e cansado, não mais podendo nos auxiliar nas conquistas, receba de nós o amor e os cuidados para que possa terminar seus dias com dignidade e, chamado por vós, galope feliz sentindo em seu dorso o nosso carinho e nossa saudade, pelos verdes campos de tua divina morada…
Pai, dai-nos finalmente:
– O patriotismo para que se um dia lograrmos merecer representar o nosso pais pelas pistas de vaquejadas do mundo, saibamos, como tantos outros, honrar o seu nome, sua gente e suas tradições.
– A virtude, para que jamais nos afastemos dos nobres ideais da vaquejada e para que antes de campeões, possamos ser cidadãos de bem…
E a fé, para crermos que tudo vem de vós, Senhor do Universo e nosso Pai eterno. Que assim seja! (Transcrito do Wikipédia)
A vitória reúne amigos (homens e animais)
É uma festa popular que atravessa séculos. Contando com o apoio religioso da Igreja Católica, todos os anos, no mês de agosto o município maranhense de Vargem Grande reúne centenas de milhares de fiéis, dando um colorido especial e uma verdadeira cascata de vozes diferentes em cantorias, repentes, orações – é a comemoração da devoção que se tem à São Raimundo Nonato dos Mulundus, o “Santo Vaqueiro”.
Faz tempo a cidade de Vargem Grande se apequena, nesses dias. A barafunda e a enorme confusão na cidade, com bois, vacas, cavalos, vaqueiros e fiéis, acabaram empurrando essa gente toda para a margem da rodovia numa extensão de até 40 Km, desde o povoado Paulica até os primeiros batentes da Igreja católica.
Tudo muda na cidade. A vida muda na cidade – só o Vaqueiro continua Vaqueiro, o irreverente e heroico trabalhador da caatinga repleta de espinhos e cascavéis.