Meu saudoso tio Paulo Bezerra, um verdadeiro “sábio” nova-cruzense, com a mente cheia de ideias empreendedoras, mas de poucas posses, dizia sempre:
“QUEM TEM DE TER, TEM QUE SE DANA. MAS QUEM NÃO TEM DE TER, SE DANA E NÃO TEM.”
Pois bem. Joaquim, um português trabalhador e com espírito empreendedor, realizou o antigo sonho de se mudar para o Brasil, onde tentaria ganhar a vida. Juntou todas as suas economias e se estabeleceu numa capital nordestina.
Seu primeiro empreendimento foi uma padaria, sonho que sempre alimentou, como bom português. Mas, não obteve sucesso. Abriu um mercadinho, também não deu certo.
Como a cidade tinha um elevado índice de prostituição, Joaquim conseguiu um sócio e os dois investiram num motel, ao qual deram o nome “fantasia” de “Motel Nossa Senhora dos Prazeres”.
O nome provocou a revolta da população católica da cidade, e o Clero impetrou um mandado de segurança, obtendo o fechamento imediato do motel.
Dois anos depois, Joaquim resolveu investir novamente num motel, com um nome diferente, que não ferisse o espírito religioso e conservador dos moradores da cidade.
Após ouvir a opinião de alguns amigos, o proprietário resolveu “batizar” o novo motel com um nome que não tivesse qualquer relação com santos, anjos ou arcanjos. Dessa forma, estaria evitando um novo problema com a população católica e com a Igreja.
Tomou, então, as medidas necessárias, para instalação do novo empreendimento, e marcou a data da inauguração. Para garantir o sucesso do evento, expediu, previamente, convites e cortesias, para as pessoas mais influentes da cidade, especialmente os homens.
Joaquim guardou segredo quanto ao nome do novo motel, fazendo suspense e deixando para revelar a surpresa na hora da solene inauguração. Tinha certeza de que, desta vez, o motel seria um sucesso e o nome agradaria a “gregos e troianos”.
No dia da inauguração, a cidade amanheceu com diversos “outdoors” espalhados em suas ruas, onde se podia ler a seguinte frase:
“PAI, LEVA A MÃE TAMBÉM PARA O MOTEL…”
As pessoas conservadoras não gostaram desse apelo e se posicionaram contra a irreverência do proprietário.
A conselho de amigos, na festa de inauguração, haveria, até, uma bênção, ministrada por um padre novato na cidade, com ideias de “vanguarda” e modernista.
Finalmente, chegou o grande momento, com um público presente, bem acima do esperado. Até as beatas resmungonas deram o ar de sua graça, atraídas pela notícia de que haveria uma bênção, ministrada pelo novo padre da cidade, que, ao que se dizia, era um verdadeiro portento.
Iniciada a solenidade de inauguração, houve a bênção e o descerramento da cobertura da grande placa luminosa, onde se destacava o nome “MOTEL FADOS E FODAS”.
As pessoas mais atentas não contiveram o riso, ao aparecer o nome do motel, iluminado e em letras garrafais., podendo ser visto à longa distância.
Como Joaquim era português, quis homenagear o Fado, música típica de sua terra. Não obstante, não atentou para o fato de que “Foda”, no Brasil, é tida como uma palavra obscena e desrespeitosa.
Mais uma vez, o empreendimento de Joaquim foi de “água abaixo.” A população conservadora da cidade ficou, novamente, indignada com o nome do motel, e o desrespeito que isso representava às famílias decentes.
Houve um “abaixo-assinado”, encaminhado à autoridade competente, e a história se repetiu, sendo, novamente, determinado o imediato fechamento do motel.
Para desespero de Joaquim, o “MOTEL FADOS E FODAS” funcionou apenas vinte e quatro horas.
Um fracasso total, causado pela infeliz escolha do nome.