José de Oliveira Ramos
(Publicada a 15.02.2017)
Hoje é quarta-feira, 15 de fevereiro. O “Dia Internacional da Mulher” será apenas no próximo dia 8 de março. Mas, hoje também é dia da mulher, tanto quanto foi ontem, ou quanto será amanhã. Todo dia, toda manhã, toda tarde e toda noite, é dia da mulher.
Aqui neste JBF, nós colunistas nos relacionamos amigavelmente com essas mulheres: Dona Aline, Dona Sonia, Dona Violante, Dona Diana, Dona Glorinha, Dona Dalinha, e, a desconhecida mas muito “falada”, Dona Chupicleide.
Tem ainda as colunistas (que não temos proximidade nem conhecimento) e a minha eterna personagem Raimunda Buretama, minha falecida avó.
E, exceto para minha avó, faço uma pergunta:
– Por que mulher sofre tanto, e sofre sempre com prazer e por prazer?
Pois, essa mesma minha avó, que nasceu e viveu lá nos tempos do ronca, quando ela mesma descobriu que “obrar” no mato, é a coisa mais mió que inziste, tinha o costume de dizer que, “mulher que num pariu o fio por adindonde ele entrou, num é mulher”.
Pois é. Eu preciso lhes dizer que Vovó ainda era viva, quando descobriram no mundo o parto cesáreo. Antes disso, muitas mulheres que não “conseguiam parir por onde o filho “entrou”, morriam mesmo de parto” – e ainda aparecia alguém para culpar a parteira leiga.
Essa mesma Vovó garantia que, “é no parir que a mulher se realiza e dá a luz a alguém. Dá a vida!”
Essa dor, esse sofrimento, deve ter algum significado divino.
E, o que dizer da beleza e da desenvoltura da mulher bailarina?
É, aquela que encanta e hipnotiza plateias dançando ballet, clássico ou não, em danças solos ou não, acompanhada com parceiro ou com grupo?
Mas, o que enfrentam e qual será o dia-a-dia de treinos e mais treinos e apresentações dessas mulheres que, no palco e para a plateia, se realizam e transmitem a beleza de movimentos e a poesia do corpo?
Provavelmente foi por conta da compreensão desse “sofrimento prazeroso”, que o compositor e cantor Ivan Lins fez a homenagem a seguir:
Essa firmeza nos teus gestos delicados
Essa certeza desse olhar lacrimejado
Haja virtude, haja fé, haja saúde
Pra te manter tão decidida assim
Que segurança pra dobrar tanta arrogância
Que petulância de ainda crer numa esperança
Quem é o guia que ilumina os teus dias?
E que te faz tão meiga e forte assim
Coragem, coragem, coragem, mulher
Coragem, coragem, coragem, mulher
Como te atreves a mostrar tanta decência?
De onde vem tanta ternura e paciência?
Qual teu segredo, teu mistério, teu bruxedo
Pra te manter em pé até o fim?
Coragem, coragem, coragem, mulher
Coragem, coragem, coragem, mulher
Lá pelos anos 50, na minha Queimadas, povoado do município de Pacajus, onde nasci no Ceará, e quando comecei a me entender como gente, meu Avô raspava a barba uma vez por semana, com um canivete. No canivete, uma banda de Gillete Blue Blade. Apenas os barbeiros profissionais (ou quem tinha melhores posses) usavam as navalhas das marcas Corneta e Solingen.
Foi pouco antes do começo deste século, que surgiu no Brasil a moda da “depilação”. Inicialmente as mulheres adotaram a novidade. Raspavam as pernas, dos joelhos para baixo. Em seguida começaram “fazer as sobrancelhas” e depois adotaram também a moda de raspar (ou depilar) as axilas. Foi quando surgiu, também, o uso do desodorante – embora, antes, muitos tentassem evitar o odor indesejável do suor usando talco ou pó-de-arroz.
E aí mais uma vez as mulheres aconteceram. Elas resolveram subir a zona da raspagem. Passaram a raspar também as coxas – e não demorou muito passaram a podar os pelos que protegem o órgão sexual e fisiológico. Houve quem não gostasse da “raspagem” nas coxas, pois, quando os pelos voltavam a nascer, nasciam mais grossos e vigorosos. E coxa de mulher é lugar gostoso e macio.
Foi aí que surgiu a depilação, e essa passou a ser feita com base em cera apropriada. Cera quente – há quem afirme que, depilando com cera quente, os pelos demoram mais a renascer. E foi com base nessa informação de estética corporal, que a mulher passou (algumas ou a grande maioria) a fazer depilação total. Um sacrifício enorme – mas tudo em benefício da beleza e do prazer de agradar a si e ao parceiro.
Alguém pode imaginar o sacrifício que uma mulher faz, ao andar de salto alto (com tamanho e espessura igual ao mostrado na foto) num longo trecho de rua calçada com paralelepípedo?
E, como uma mulher consegue se equilibrar, calçando alguma coisa desse tipo?
E, por quê e para que isso?
É a procura constante pela beleza. Aí, a beleza é a estética. O que acaba deformando essa estética e minimizando esse prazer, é o desconhecimento dos locais apropriados para se apresentar calçada com esse tipo de calçado.
Mas elas acham que tudo vale à pena, quando a intenção é a felicidade e a beleza pessoal.
Agora, ninguém jamais se atreveu a negar que, entre todos os sacrifícios feitos pela mulher, o de “cuidar da família”, fazendo tudo por ela, é ao mesmo tempo que o maior deles, o que mais gratifica. Talvez daí tenha surgido a expressão “mãe de família”.
Não é fácil gerar, parir, criar, vigiar todos os dias e zelar por uma família – trabalho incansável que só a mulher sabe e é capaz de fazer. Sem prejuízo para os outros sofrimentos e sacrifícios inerentes à mulher, esse é o que mais dignifica.
Uma mãe é capaz de fazer qualquer coisa, qualquer sacrifício e sofrer qualquer sofrimento pelo bem e pela paz e saúde da família. Não há medidas nem limites para ela nesse particular.