CORDEL, SERTÃO E TELEVISÃO
Mundo Cordel traz hoje poesia de Dideus Sales, extraída do livro VEREDAS DE SOL, em cujo prefácio, de Dimas Macedo, lê-se:
Mundo Cordel traz hoje poesia de Dideus Sales, extraída do livro VEREDAS DE SOL, em cujo prefácio, de Dimas Macedo, lê-se:
Dideus Sales, andarilho e pastor de sonhos a costurar a ligação de vilas e cidades no interior do Ceará, é um legítimo representante dessa poesia popular a que me refiro. E mais do que representante, Dideus é o maior e o mais vivo dos poetas cearenses a fazer no Ceará a ponte da cultura entre o sertão e o litoral.
Jornalista, poeta e guardador de tradições sem conta da nossa borbulhante alma sertaneja, Dideus não pára de crescer e produzir. Editor da revista Gente de Ação, sediada em Aracati e que se espraia por todo o Ceará, Dideus atravessa o sertão da sua terra sempre a carregar nos bolsos (e na alma) a verve do povo cearense e as suas mais belas tradições.
Tive o prazer de adquirir a obra no dia 17 de julho de 2006, em Mossoró, das mãos do próprio autor. Já a citei aqui quando falei de Patativa. Hoje destaco:
O sertão dos tempos modernos
Para rever uns parentes
Fui visitar meu sertão.
Foi gostoso o reencontro
Mas, grande a decepção
Por constatar de pertinho
Perversa transformação.
Talvez a televisão
Grande mal venha trazendo
Quem muito bem não discerne
Escutando aquilo e vendo
O que não eleva em nada
Sempre fica absorvendo.
Os costumes dissolvendo,
Ninguém vê mais na calçada
À noite os vizinhos juntos
Contando estória, piada...
Tá tudo dentro de casa
E a televisão ligada.
Visita é indesejada
Na casinha mais singela
Sendo no horário noturno
Os donos dão pouca trela
Não querem ser perturbados
Olhando a tal da novela.
Está desprezada a sela,
O cavalo aposentado
A moto hoje é o transporte
Pra passeio e pro roçado
Pra ira à feira e à missa
Botar água e tanger gado.
Está muito transformado
Do sertão o dia-a-dia
Na fazenda já não tem
Queijo nem coalhada fria
Vendem o leite. E pro café
Compram pão na padaria.
Já não tem a poesia
Do sertão de antigamente
Quando não tinha novela
Que mostra coisa indecente
E a gente se deleitava
Com cordel e com repente.
Para tristeza da gente
No sertão já não tem mais
As brincadeiras ingênuas
Dos terreiros e quintais.
Tá farto de violência
Porém, carente de paz.
O meu sertão não é mais
Um cenário de beleza
Só se vê naqueles ermos
Desolação e tristeza
Como resposta às perenes,
Agressões à natureza.
Meu sertão sem boniteza
Pois queimaram a caatinga,
Invernos irregulares,
Quase não chove, mal pinga,
Eis a prova incontestável
Que a natureza se vinga.
Fui visitar meu sertão.
Foi gostoso o reencontro
Mas, grande a decepção
Por constatar de pertinho
Perversa transformação.
Talvez a televisão
Grande mal venha trazendo
Quem muito bem não discerne
Escutando aquilo e vendo
O que não eleva em nada
Sempre fica absorvendo.
Os costumes dissolvendo,
Ninguém vê mais na calçada
À noite os vizinhos juntos
Contando estória, piada...
Tá tudo dentro de casa
E a televisão ligada.
Visita é indesejada
Na casinha mais singela
Sendo no horário noturno
Os donos dão pouca trela
Não querem ser perturbados
Olhando a tal da novela.
Está desprezada a sela,
O cavalo aposentado
A moto hoje é o transporte
Pra passeio e pro roçado
Pra ira à feira e à missa
Botar água e tanger gado.
Está muito transformado
Do sertão o dia-a-dia
Na fazenda já não tem
Queijo nem coalhada fria
Vendem o leite. E pro café
Compram pão na padaria.
Já não tem a poesia
Do sertão de antigamente
Quando não tinha novela
Que mostra coisa indecente
E a gente se deleitava
Com cordel e com repente.
Para tristeza da gente
No sertão já não tem mais
As brincadeiras ingênuas
Dos terreiros e quintais.
Tá farto de violência
Porém, carente de paz.
O meu sertão não é mais
Um cenário de beleza
Só se vê naqueles ermos
Desolação e tristeza
Como resposta às perenes,
Agressões à natureza.
Meu sertão sem boniteza
Pois queimaram a caatinga,
Invernos irregulares,
Quase não chove, mal pinga,
Eis a prova incontestável
Que a natureza se vinga.