O ROUXINOL E O ANCIÃO
Patativa do Assaré
Meu filho querido escuta,
Com verdade absoluta
Quero dar-te uma lição.
Guarda na tua memória
Esta proveitosa história
Do Rouxinol e o ancião.
Um ancião imprevidente
Criava, muito contente,
Na gaiola o rouxinol.
E extasiado escutava
Quando o pássaro cantava
Nas horas do pôr-do-sol.
O bom velho estudou tanto,
Aquele sonoro canto
de melodia sem par,
Com tal cuidado e vantagem
Que daquela ave a linguagem
Aprendeu a decifrar.
Um certo dia ele lendo
Naquele canto e fazendo
Os seus estudos sutis,
Viu que o pobre, com saudade,
Reclamava a liberdade
Para poder ser feliz.
Cantava e fazia acenos,
Pedindo ao senhor, ao menos,
Um pouco de permissão.
Voar um pouco queria,
E de novo voltaria
Para dentro da prisão.
O dono, com muita pena
Daquela prisão pequena
Uma portinhola abriu,
E o preso, as asas abrindo,
Voou, subindo, subindo,
E no espaço se sumiu.
Mas ó, que fatalidade!
Nessa curta liberdade
Para voar na amplidão,
Foi cair tão inocente
Irremediavelmente
Nas garras de um gavião.
O garrancho esfomeado,
Segurando o desgraçado
Ligeiro a terra baixou,
E o ancião sem conforto,
Vendo o passarinho morto,
De arrependimento chorou.
Meu filho, és um passarinho
A quem paternal carinho
Envolve na santa paz.
Nessa poesia rasa,
A gaiola é nossa casa
Onde feliz viverás.
Enquanto os conselhos sábios
Escutares de meus lábios
Ouvindo minhas lições
Como filho obediente,
Não cairás facilmente
Nas garras das seduções.
Um belíssimo poema para que nunca esqueçamos da nossa casa materna!