Nailde era servidora pública de nível médio, em um órgão estadual. Já com mais de vinte anos de serviço, ganhava o suficiente para se sustentar. Era solteira e morava só. Muito organizada, não contraía dívidas e juntava sempre algum dinheiro num mealheiro. Depois, abriu uma caderneta de poupança e passou a economizar mais um pouco, sem mexer nos rendimentos. Anualmente, ia ao dentista e certa vez precisou fazer uma coroa, tendo optado por um dente de ouro. Isso, na época, estava na moda.
Dois meses depois, foi passar o domingo na casa de uma irmã e, após o almoço, sentiu falta do dente de ouro. Procurou por toda a casa e nada do dente aparecer. Muito triste, Nailde teve uma intuição: Só podia ter engolido o dente, que tinha lhe custado tão caro! Era fruto de suas economias!
Não pensou duas vezes. Fez um chá de maná com sena e tomou um purgante. Rezou o resto do dia, pedindo a Deus para que tivesse de volta o seu dente de ouro, são e salvo.
Nessas alturas, as sobrinhas de 7, 9 e 11 anos, já estavam estranhando o nervosismo da tia, que, sentada em uma cadeira, no quarto, mantinha a postos, ao seu lado, um penico. Sem largar o terço, Nailde aguardava o resultado do purgante e a volta triunfante do dente.
Ao primeiro sinal de uma cólica intestinal, a moça pediu aos anjos e arcanjos, que também a ajudassem a recuperar sua joia de ouro, 18 quilates. As crianças torciam na porta do quarto, acompanhando os acontecimentos. De vez em quando, perguntavam:
– O dente já saiu, tia Nailde?
E, com voz de choro, a tia respondia:
– Ainda não!
E a alegria foi grande, quando ouviram a tia gritar:
– Graças a Deus!!! Meu dente de ouro está aqui!!!
Sob os protestos da irmã, do cunhado e das sobrinhas, Nailde, com a mão enfiada em um saco plástico, tirou o dente de ouro do penico, lavou muito bem lavado, com água e sabão, e também com álcool.
Passados alguns dias, estava ela novamente sorrindo de felicidade e exibindo o dente de ouro, que o dentista havia reposto.
Nailde pagou todas as promessas, que havia feito para que o dente retornasse às suas mãos. Entretanto, nunca mais as crianças lhe deram sossego. Quando ela se aproximava para falar com as sobrinhas, todas se afastavam, dizendo em tom de brincadeira:
– Vá pra lá, tia! Sua boca está podre!!!