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Lis permanece na UTI, mas com boa recuperação: encontro emocionante
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A história de Lis e Mel teve mais um capítulo feliz ontem. Por volta das 11h, ocorreu um dos momentos mais aguardados desde a cirurgia de separação inédita no DF das gêmeas siamesas: as irmãs se viram pela primeira vez desde 27 de abril, frente a frente, não mais ligadas pela cabeça. O momento emocionou a família e as equipes do Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB).
Recuperando-se de forma mais rápida, Mel deixou a unidade de tratamento intensivo (UTI) do HCB. Antes de ir para a enfermaria, no entanto, ela fez uma visita à irmã. Colocadas de frente uma para a outra, as duas se olharam durante um longo tempo e, depois, deram-se as mãos, para a emoção da mãe, Camilla Vieira, 25 anos, e de todos que observavam a cena.
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"Foi a coisa mais linda. Finalmente elas estavam ali, juntinhas. Elas ficaram se olhando, como se estivessem se reconhecendo"
Camilla Vieira, mães das gêmeas, com Mel nos braços
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“Nós as colocamos sentadas mais perto e pegaram na mão uma da outra. Acho que foi um momento de paz delas. Foi a coisa mais linda. Finalmente elas estavam ali, juntinhas. Elas ficaram se olhando, como se estivessem se reconhecendo”, contou Camilla ao Correio. Até um hábito que as garotinhas tinham quando ainda eram unidas pelo crânio foi retomado: assim que teve chance, Mel tentou tirar a chupeta de Lis.
“Para nós, foi maravilhoso e emocionante contemplar o reencontro delas. A sensação era de que elas estavam se perguntando ‘Quem é você?’”, disse o enfermeiro Carlos Eduardo da Silva. Ele ficou responsável por coordenar a equipe de enfermagem durante todo o procedimento de separação. “Se pararmos para pensar que, depois de uma cirurgia complexa como essa, elas estão saudáveis e ativas, ouvindo música e dançando, parece ser coisa de outro mundo”, completou.
O enfermeiro explicou que o quadro de recuperação das irmãs está dentro do esperado. Agora, a equipe de saúde acompanha o processo de rotação da pele, que, apesar de tranquilo, envolve cuidados para evitar infecções. Carlos Eduardo ressaltou ainda que o próximo passo será a reparação da estrutura óssea. “A melhora delas é nítida. Ambas movimentam os quatro membros e conseguem sustentar o corpo. Estamos com a sensação de dever cumprido”, disse o enfermeiro, orgulhoso.
Surpresas
As irmãs não se viam desde a cirurgia. No encontro de ontem, as meninas ficaram por cerca de cinco minutos juntas, acompanhadas por Camilla e pelo avô paterno, Edilson Neves, 49. Elas sorriram, mandaram beijos, deram tchauzinho e ainda arriscaram palavras como “mamãe” e “neném”. Mel estava agitada, mas mudou quando viu a irmã, assumiu um ar calmo e alegre.
A recuperação das duas surpreendeu os funcionários do HCB desde a cirurgia. No dia seguinte à operação, Lis abriu os olhos. Já Mel foi a primeira a ter os antibióticos suspensos e passou a respirar sem aparelhos em 29 de abril. Ontem, deixou a UTI. Mesmo internada na unidade intensiva, Lis apresenta quadro respiratório e neurológico estável. “Estou superfeliz pelo fato de a Mel ter saído da UTI. Falta a Lis, que, se Deus quiser, logo estará na enfermaria também”, disse Camilla.
A notícia do reencontro das gêmeas logo se espalhou pelos corredores do hospital. Quem não conteve a emoção foi o neurocirurgião responsável pela operação Benício Oton de Lima. “É difícil explicar o sentimento delas quando foram colocadas juntas. Uma agarrava a outra e brincava. As duas estavam muito felizes. É gratificante ver a recuperação das bebês. A Mel saiu da unidade de terapia intensiva e está ativa, cheia de vontades”, contou o médico, emocionado.
O processo de recuperação está sendo vitorioso, afirmou Oton. Segundo ele, a cada 48 horas, cirurgiões plásticos do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) vão até o HCB para trocar os curativos das bebês. Enquanto isso, os pais se revezam. “A família está se alternando para ficar com elas. À medida que melhoram, passam para o colo da mãe ou do pai”, relatou Benício Oton.
Preparação
Antes da operação, a equipe do Hospital da Criança passou por uma preparação árdua. Ao longo do processo, ocorreram reuniões, análises de exames, estudos de outros casos e até a construção de um molde tridimensional da cabeça das meninas. Estar forte o suficiente para enfrentar a cirurgia foi necessário para as gêmeas e para todos os envolvidos. O resultado não poderia ter sido melhor. “A primeira fase pós-cirurgia é a mais temida, porque as meninas são muito delicadas e tiveram de enfrentar um tamanho obstáculo, como se alimentar por meio de sonda”, explicou o neurocirurgião.
O Correio contou a história das gêmeas siamesas em primeira mão, em 29 de abril. As bebês, à época com 10 meses, passaram por uma cirurgia inédita na capital federal e a terceira feita no país. As meninas nasceram em 1º de junho do ano passado, no Hospital Materno Infantil (Hmib), e o caso delas foi o primeiro de gêmeos craniópagos (unidos pelo crânio) registrado no DF.
O procedimento de separação demandou mais de 20 horas, além de 50 profissionais diretamente envolvidos. Na equipe, havia servidores do HCB, cirurgiões-plásticos do Hran, além de cinco profissionais do Children’s Hospital at Montefiore, em Nova York, que acompanharam como consultores.
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O Correio contou a história das gêmeas com exclusividade em 29 de abril. As bebês, à época com 10 meses, passaram por cirurgia inédita na capital. O procedimento durou mais de 20 horas e 50 profissionais participaram |