Certa manhã, um jovem, que acabara de fazer seus exercícios em um parque, resolveu descansar um pouco, sentado em um banco que havia ali.
Enquanto descansava, observou um homem que trabalhava recolhendo folhas secas. Com um ancinho, reunia as folhas em pequenos montes. Depois, abaixava-se, pegava-as com as mãos e as punha em um saco plástico que trazia preso à cintura.
Acontece que, naquela manhã, o vento atrapalhava o trabalho do homem.
Não era uma ventania capaz de levar as folhas secas para longe, mas soprava forte o suficiente para destruir os montinhos que ele fazia.
E era um vento intermitente. Assim, em alguns momentos, o recolhedor até conseguia amontoar algumas folhas, mas, logo o vento voltava a soprar, e elas se espalhavam outra vez.
Depois de alguns minutos observando a luta do recolhedor de folhas contra o vento, o jovem percebeu que, apesar de ter o seu trabalho dificultado, o homem parecia não se abalar. A cada vez que as folhas fugiam, ele pacientemente as reunia com o ancinho, e começava tudo de novo. Sua fisionomia não expressava o menor sinal de aborrecimento.
Em um dado momento, o jovem aproximou-se do recolhedor de folhas e falou:
– O vento está fazendo o seu trabalho ser bem difícil, não? Você não se irrita com isso?
O homem sorriu antes de responder:
– Veja só… eu não posso dizer que fico feliz. Mas não tenho como parar o vento. Então, restam-me duas opções: fazer esse trabalho ou não fazer. Se escolher não fazer, vou ter que procurar outro trabalho. Pode ser que eu tenha dificuldade para conseguir um emprego, e isso vai comprometer o meu sustento e da minha família. Mesmo que eu consiga logo um emprego novo, é provável que alguma outra coisa me dificulte o serviço, como vento faz hoje em dia. Assim, acho mais inteligente continuar com esse trabalho que já venho fazendo.
– Mas eu não disse pra você deixar o emprego. Apenas perguntei se não se irrita com o vento.
– Pois era aí mesmo que eu queria chegar. Como eu não estou pensando em deixar o emprego, pelo menos enquanto não aparece outro melhor, restam-me duas opções: fazer o meu trabalho, me irritando com o vento, ou fazer a mesma coisa, sem me irritar. Se eu me irritar, o meu trabalho vai se tornar uma coisa desagradável, cansativa. De nada me adiantará repreender o vento, então, talvez eu chegue em casa mal humorado, descarregando raiva e frustração na minha mulher e nos meus filhos. No dia seguinte, é possível que já saia de casa chateado, por ter que ir para um trabalho que só me causa dissabor. Cada dia para mim será como um pesadelo. E, o vento? Vai parar de soprar por causa da minha irritação, raiva ou frustração? Não. O vento vai continuar sendo vento. Soprando e parando de soprar por razões que não têm nada a ver comigo. Então, qual a minha opção mais inteligente? Me irritar com o vento ou aceitar que ele sopre, sem me alterar?
– Sem dúvida, é mais inteligente aceitar que o vento sopre. Mas é que a irritação às vezes acontece sem a gente querer. Geralmente, quando acontece alguma coisa contra a nossa vontade, a gente fica com raiva e nem percebe…
– Pois esse é o vento que nós precisamos aprender a controlar! O que vento sopra dentro da gente. Que nos faz perder a calma quando somos contrariados. Se você não controla, ele vira ventania, vira tempestade, destrói tudo… Mas, se você o conhece e controla, pode estar o maior temporal aqui fora, dentro de nós continuará a calmaria…
– Puxa, para um recolhedor de folhas secas, o senhor é bem sábio!
– E você esperava o quê? Que eu fosse algum cabeça de vento?