Ao chegar da escola, Paulinho, dez anos, encontrou uma novidade no quintal da sua casa : Uma bonita galinha pedrês.
Dona Elza, sua mãe, a tinha comprado para o almoço do domingo. Seria preparada ao molho de cabidela, também conhecido por molho pardo.
Paulinho havia deixado de comer galinha, desde o dia em que presenciou a cozinheira da casa, Josefa, matar uma galinha para servir no almoço. O menino ficou traumatizado. Nunca tinha visto uma cena tão grotesca.
Ao ver a nova galinha, Paulinho entrou em pânico, e lhe veio à mente, a empregada cortando o pescoço da galinha e o sangue jorrando, aparado num prato fundo com um pouco de vinagre, e por ela batido com um garfo, para fazer a cabidela, ou molho pardo.
Desta vez, Paulinho jurou para si mesmo que iria salvar a galinha. Era uma galinha cevada, gorda, que nem se defendeu, quando o menino a segurou, levando-a para um esconderijo.
Paulinho pegou um caneco com água para dar à galinha raptada, mas antes disso, molhou a pequena cabeça da ave, dizendo que a estava batizando, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E deu-lhe o nome de Martinha.
Logo que escureceu, Martinha se aninhou no quartinho de depósito, onde Paulinho a escondeu e logo adormeceu.
O menino entrou em casa feliz da vida, jantou com os pais e irmãos e foi logo dormir. Acordou tranquilo, pois sua amiga Martinha estava batizada e protegida num esconderijo. Josefa que procurasse fazer um almoço diferente, sem galinha e sem cabidela.
Somente na hora de pegar a galinha para matar, no domingo pela manhã, a cozinheira notou o seu sumiço. A mulher fez o maior rebuliço, procurando a galinha no quintal, e em cima das árvores. Perguntou a Paulinho se a tinha visto no dia anterior e a resposta foi não.
O menino insinuou que a galinha pudesse ter sido furtada ou tivesse fugido, com o que Josefa concordou. A empregada ainda se culpou, por não ter cortado as asas da galinha, logo que ela chegou.
Dona Elza, quando soube do sumiço da galinha, ficou muito chateada, pois estava desejando comer galinha à cabidela, como também seu marido e filhos, exceto Paulinho .
Desapontada, mandou que a cozinheira providenciasse uma macarronada à bolonhesa, ou seja, com suculento molho de tomate, misturado com carne moída, para substituir a galinha à cabidela, que a família tanto esperava.
Dois dias depois, Paulinho entrou em casa, desconfiado, com a galinha debaixo do braço, para dizer à mãe que ela havia aparecido no quintal. Disse-lhe que ela agora era sua amiga e se chamava Martinha. Fez a mãe prometer que ela nunca iria para a panela.
Pelos olhinhos cheios de lágrimas do filho, Dona Elza compreendeu que ele era o responsável pelo sumiço da galinha. Emocionou-se e respeitou o seu pedido.
Martinha, a galinha pedrês, morreu de velha.