O “QUEIMA”
Décadas atrás, entrando pelo século passado, as lojas não faziam promoções. Faziam “queimas”.
Em Natal, o povo esperava, com ansiedade, o “queima” semestral das Lojas Paulista, Casas Cebarros e outras lojas tradicionais da cidade. Era possível se comprar tecidos, lençóis, toalhas e outros artigos, por preços baratos, com pagamento à vista.
As tentadoras “parcelinhas”, dos cartões de crédito, só apareceram muito tempo depois.
A modernidade trouxe vantagens e desvantagens para o povo. Entretanto, ainda há pessoas que sentem saudade dos antigos “queimas”, quando o freguês tinha que ter o dinheiro na mão, para poder comprar.
Em 1956, o Diners chegou ao Brasil, sendo, inicialmente, um cartão de compra e não um cartão de crédito. Em 1968, foi lançado o primeiro cartão de crédito de banco, o Credicard, e em 1971 foi fundada, no Rio de Janeiro, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços – ABECS.
Antes do advento do cartão de crédito, o poder aquisitivo do povo era menor, mas, em compensação, havia mais controle entre os compradores. Com as facilidades proporcionadas pelos cartões de crédito, as pessoas passaram a ser induzidas a comprar cada vez mais, para pagar em “parcelinhas”.
Atualmente, com as constantes promoções, as lojas atraem centenas de pessoas por dia, incluindo compradores compulsivos. Confiando nas parcelinhas do cartão de crédito, nesse momento, eles esquecem suas limitações financeiras e comprometem o orçamento doméstico.
Dizem os estudiosos, que os compradores compulsivos, estimulados pelas “parcelinhas” dos cartões de crédito, entram nas lojas com o olhar sereno e depois de cinco minutos, diante das “promoções”, o “pisco” dos olhos acelera, acentuadamente. No final das compras, quando já estão no caixa, subscrevendo as dívidas contraídas, esses “piscos” atingem seu ápice, como se o “freguês” houvesse sido acometido por uma enfermidade ocular.
A inadimplência do comprador compulsivo poderá resultar em angústia e depressão, se ele tiver boa índole. Caso contrário, passará a encarar a inadimplência com naturalidade.
Os devedores compulsivos, quando se tornam inadimplentes, procuram contrair empréstimos, aumentando ainda mais suas dívidas. É o que se chama, na linguagem popular, procurar “cobrir um santo, descobrindo outro.”
O bom é evitar a tentação das promoções e das “parcelinhas” dos cartões de crédito, pois, como diz o ditado popular, “quem não pode com o pote, não pega na rodilha”.