Animado com o papel de gerente da cadeia que divide com parceiros da Turma do Guardanapo e comparsas menos íntimos, convencido de que daqui a alguns meses estará em liberdade, o delinquente Sergio Cabral fez o diabo durante a audiência com o juiz Marcelo Bretas. Nem seus colegas do PCC foram tão longe nas afrontas a um magistrado. Desde o começo da Lava Jato, não se tinha visto um show de atrevimento, insolência e arrogância tão assombroso quanto o protagonizado pelo chefe da quadrilha que saqueou o Rio de Janeiro.
O ex-governador gatuno declarou-se “injustiçado”, acusou o juiz de querer projetar-se às custas de um benfeitor da população fluminense, redefiniu o conceito de propina, insinuou que sabe o suficiente para roubar também a segurança de Bretas e sua família. Foi punido com a transferência para um presídio menos exposto à influência da Famiglia Cabral. É pouco. O Flagelo do Rio merece ser transformado numa das evidências ambulantes de que o cumprimento da pena deve começar tão logo a sentença seja confirmada em segunda instância.
Por falar nisso, como reagiria Gilmar Mendes se estivesse no lugar do alvo de Bretas? Veria nas provocações intoleráveis um exemplar exercício do direito de ampla defesa? Ou a beleza que há no devido processo legal? É possível que apenas concluísse que Cabral, compreensivelmente aborrecido com a prisão alongada, incorreu num desabafo tão natural quanto o revezamento das estações do ano. Tudo é possível quando está no palco o ministro da defesa dos bandidos de estimação.
Ninguém se surpreenderia caso premiasse Cabral com um habeas corpus que lhe permita aguardar em liberdade o julgamento do último recurso na última instância. Não na segunda, mas na terceira. Ou na quarta, representada pelo STF. Ou numa quinta ainda por criar.