Peba preparado na casa de Malaquias
Volto a focar o assunto das relembranças, e reviver as coisas boas que me fizeram bem. Começo dizendo para alguns, que, Pedreiras, cidade onde nasceu o poeta João do Vale, é no Maranhão. Andei pesquisando sobre o assunto e cheguei a visitar o lugar.
Em Pedreiras existiam dois povoados com nomes interessantes, engraçados e misteriosos: Pedras Verdes e Centro dos Doidos, mas o que mais chamava a atenção de muitos era Lago da Onça. Pedras Verdes foi o primeiro nome de Pedreiras, antes da emancipação. Ali, dizem, era moradia de uma antiga tribo indígena, onde descobriram “ametista” com coloração esverdeada. Passaram a chamar o povoado de “Pedras Verdes” e, entre essas, escolheram uma maior de todas – que passaram a considerar “sagrada”. E Pedras Verdes virou Pedreiras e, mais tarde, com a quase extinção da tribo indígena, foi emancipada.
Centro dos Doidos hoje tem o nome de Alegria (o povoado ficava muito distante da sede, Pedreiras – o que ensejou a que o povo passasse a dizer que, só morava naquele povoado, quem era doido). E foi no Lago da Onça que João do Vale conheceu “Seu Malaquias”, que acabaria virando personagem e letra de um dos sucessos do “Homem do século no Maranhão”.
Peba, teiú, camaleão (iguana), veado, porco do mato, mucura, rolinha, jaçanã, avoante e tantos outros “bichinhos” silvestres, que muitos comem nos interiores – com maior ênfase no Nordeste – são comidos como meio de sobrevivência. Muitas vezes, é a única coisa que o sertanejo e sofredor homem da roça consegue “pegar” para comer. Nada disso é comido por “maldade”.
Deixando essa reflexão de lado, se você nunca comeu peba (tatu), tenha certeza que, bem preparado por quem sabe fazer isso, você está perdendo um delicioso prato da “culinária da necessidade” do Nordeste.
Lagosta com iscas de figo e batatinhas
Eu era um solteiro namorador – iniciante na arte da vida. Ano de 1965, para ser mais preciso. Já trabalhava como Teletipista na The Western Telegraph quando resolvi acrescentar alguma coisa à minha renda, pois estava me preparando para casar, o que acabou não acontecendo.
Fiz o curso de Árbitro de Futebol pela Federação Cearense de Desportos, então presidida pelo General da Reserva Remunerada, Aldenor da Silva Maia. O professor do curso foi Alzir Brilhante, Árbitro conhecido nas regiões Norte e Nordeste. Dois meses após a conclusão desse curso, ascendi ao Quadro A, que, naquela época era também o principal.
Logo fui escalado para arbitrar uma partida noturna no Estádio Presidente Vargas. Foi a minha estreia na nova carreira. Foi um bom trabalho e fui elogiado, inclusive pelo próprio Alzir Brilhante. Terminado o jogo, fui à Tesouraria e lá estava à minha disposição, o valor correspondente ao pagamento da cota da Arbitragem.
Um dinheirão para um iniciante como eu. R$2.000,00 (naquela época não lembro bem se a moeda vigente era o cruzeiro ou o cruzado). Uma excelente cota. Naquele tempo, mais que meu salário, também excelente, na própria Western.
Resolvi me premiar com o meu sucesso inicial. A Beira-Mar de Fortaleza estava muito distante de ser o ponto de atrações turísticas de hoje. Na orla, mais propriamente na Praia do Meireles, ficava o restaurante do “Alfredo – O Rei da Peixada”. Peguei o cardápio, e sem noção da quantidade de comida, pedi: Cavala ao molho de camarão; e uma Lagosta à moda da casa.
O garçom me perguntou se podia servir tão logo ficasse pronto, ou se eu ia esperar meus convidados. Disse à ele que não haveria convidados – como ele ganhava por comissão de vendas, não me disse mais nada. Era comida para um mínimo de quatro pessoas.
Para não me sentir no prejuízo – mas, satisfeito! – comi parte da cavala e a lagosta inteira. Cheguei em casa pelo início da madrugada, e tive dificuldades para dormir. Comi além da necessário. Faz tempo não faço essas extravagâncias.