Praia do Carmo, Olinda, atualmente, em flagrante de Alamy Stock
Na década de 20 os Banhos Salgados, logo ao amanhecer, eram recomendados para curar doenças de pele e de nervos, por conterem, as águas do mar, grande quantidade de iodo. Por esta razão, Olinda passou a ser a praia preferida pelos moradores do Recife e localidades próximas.
Os padrões das roupas de banho, na época, eram bem diferentes. Senhoras e senhoritas se vestiam obedecendo padrões rígidos, a fim de cobrirem seus corpos.
Entre as praias dos Milagres e do Carmo, onde as ondas eram mais revoltas, havia pescadores disponíveis, que por pequenas gratificações ofereciam-lhes mais segurança, através de um “varadouro”, improvisado por cordas interligadas a paus enterrados na areia, permitindo aos frequentadores a tranquilidade de ali se segurarem para não serem tragados pelas ondas.
Logo ao amanhecer chegavam as famílias. As vestimentas obedeciam a um padrão moral que hoje pareceria ridículo. Pelas fotos do Arquivo Público de Olinda se vê que os corpos das senhoras e senhoritas eram quase todos cobertos.
Roupas femininas da época. Homens do mar protegiam as senhoras contra a fúria das ondas
A partir dos anos 50, quando surgiram maiôs “Catalina” durante a difusão dos Concursos de Miss, os padrões das roupas de banho permitiram às mulheres adotar um estilo cada vez mais incongruente; ou seja, em desacordo com os padrões morais dos anos 20.
Depois de 1946, quando o Atol de Bikini ficou famoso pelas explosões atômicas, a pequena ilha de corais situada no Oceano Pacífico, inspirou os estilistas de moda e criou-se uma “vestimenta sumaríssima” que ficou conhecida como biquíni, caindo em cheio no gosto popular.
Os maiôs já haviam se reduzido bastante, deixando o corpo da mulherada à vista. Porém, os modistas foram traçando as novas roupas cada vez com menor quantidade de tecido, ao ponto de se popularizar e aportuguesar o biquíni, cujo nome foi inspirado naquele atol oceânico.
Aliás, o biquíni nem é mesmo “roupa de banho”, pois mais parece um guardanapo com dois laços, que dá a impressão de cobrir as partes pudicas de cada jovem e até das balzaquianas mais afoitas.
Nos anos 30, aos seis anos de idade, fui partícipe de um desses passeios, quando meus pais, minhas tias Laura, Tereza e a prima Nicinha utilizaram um Banho Salgado. Suas roupas cobriam até os joelhos. O pudor ainda era congruente; isto é dentro de padrões – se não de elegância – pelo menos de moralidade.
Sendo o terminal do bonde da linha Olinda-Carmo, a concentração de pessoas era maior. Somente anos mais tarde, após as obras dos arrecifes artificiais instalados para conter o avanço do mar, é que a praia do Carmo se requalificou, permitindo ao público desfrutar os Banhos Salgados sem perigo, pois hoje existe grande faixa de terra, boa arborização, barracas de lanches e muita gente bonita.
Já sob a predominância de modelos revolucionários das Roupas de Banho, a partir de 1950, começamos a observar que com apenas dois guardanapos se poderia criar um modelo de verão: um biquíni; tempo em que a incongruência passou a servir de mote para os poetas versejarem.
Aproveitando o tema, criei um mote para o poeta Carlos Antônio Rabelo glosar:
O mote:
O pano desta priquita
É bastante incongruente.
A glosa:
E porque de tão pequeno
Até para um clima quente
O pano dessa priquita
Dá num buraco de dente
Mesmo que seja bonito
Para o tamanho do priquito
É bastante incongruente.