03 de março de 2020 | 03h00
A epidemia global de coronavírus (Covid-19) iniciada na China no final do ano passado já infectou, aproximadamente, 89 mil pessoas – das quais cerca de 3 mil morreram – em 17 países, inclusive o Brasil, onde dois casos de contaminação de pacientes que viajaram à Itália foram confirmados em São Paulo, ambos sem gravidade.
A justificada apreensão quanto à evolução da nova doença tem afetado fortemente os humores das pessoas e dos mercados mundo afora (ver editorial O efeito econômico da epidemia, abaixo). Observa-se uma corrida desenfreada às farmácias em busca de máscaras cirúrgicas, que só devem ser usadas por quem apresenta os sintomas de gripe, e frascos de álcool em gel, eficaz na prevenção. Escolas têm recomendado a alunos que viajaram ou tenham tido contato com pessoas que viajaram a países afetados pela epidemia que fiquem em casa. Empresas idem. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu de 2,9% para 2,4% sua projeção de crescimento global para este ano em função do surto de Covid-19, que afeta primordialmente a China, país que há três décadas puxa o indicador para cima.
Uma onda de pânico e desinformação é mais perniciosa do que os efeitos do coronavírus por atribuir à doença uma gravidade muito maior do que a que ela tem na realidade. O diagnóstico de coronavírus não é uma sentença de morte, bem longe disto. Na esmagadora maioria dos casos, os sintomas são semelhantes aos de uma gripe simples (febre, tosse, coriza). Os casos fatais foram observados em pacientes que já eram suscetíveis a problemas respiratórios mais sérios, o que explica a baixa taxa de mortalidade da nova cepa do coronavírus, entre 2,5% e 3%. Neste sentido, a mídia profissional, a comunidade científica e a administração pública brasileiras vêm agindo muito bem até o momento para evitar que à epidemia se acrescente o pânico.
Até aqui, também merecem destaque as ações proativas dos Ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia. A pasta da Saúde tem se mostrado uma fonte de informação preciosa em relação à doença e às formas de prevenção. Em meio à disseminação de fake news – até uma xícara de água morna aparece como forma de “matar” o coronavírus, o que é uma grossa mentira –, tanto o site do Ministério da Saúde como o portal da pasta no YouTube são bastante esclarecedores. Pena que, pelo que mostram os números, pouca gente os acesse. Também é positiva a ação do Ministério da Saúde de antecipar a campanha nacional de vacinação contra a gripe Influenza para o próximo dia 23. Ela não imuniza contra o coronavírus, mas evitará que os casos não relacionados ao Sars-CoV-2 sobrecarreguem o sistema público de saúde.
Já o Ministério da Ciência e Tecnologia, em parceria com a pasta da Saúde, criou uma rede de pesquisadores de alto nível oriundos de entidades científicas e universidades federais a fim de decifrar a nova doença e estudar formas de imunização. Ou seja, o País tem os seus melhores cientistas debruçados sobre um problema que preocupa o mundo inteiro, o que há de dar algum conforto aos cidadãos mais aflitos.
Igualmente tranquiliza, ao menos por ora, ouvir de especialistas como o imunologista Dráuzio Varella que o Sistema Único de Saúde (SUS) está preparado para atender os casos de coronavírus no Brasil. Oxalá esta capacidade não precise ser testada.