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Um folheto de José Soares – A MORTE DO BISPO DE GARANHUNS
Garanhuns está de luto:
numa bisonha manhã
foi morto dom Expedito,
um bispo de alma sã,
pelo revólver dum padre
partidário de Satã.
Um padre matar um bispo
quase não tem fundamento;
maculou com sua fúria
dos dez, este mandamento:
‘Não Matarás’, disse Deus
no sagrado sacramento.
Quantas vezes esse padre
lá no púlpito a pregar
repetiu nos seus sermões
que Deus não manda matar,
quando ele próprio faz
su’alma se condenar.
É lamentável leitores
mas tudo se comprovou
e desse drama de ontem
que a todo o mundo abalou
vou contar em poucas linhas
como tudo se passou.
O padre Hozana Siqueira,
vigário de Quipapá
não cumpria pela regra
a lei de Deus Geová,
ligando pouco os deveres
de ministro de Alá.
Porque ele, sendo padre
estava no seu critério
defender e pugnar
pelo santo presbitério,
combater e condenar
qualquer ato deletério.
Mas o padre assim não fez
e fugindo da rotina
seguindo outro endereço
fora da casa divina
desrespeitando sem medo
a lei da santa doutrina.
Seus atos precipitados
lhe tiram toda razão
prova que ele abraçara
os atos do Deus pagão
repudiando sem asco
a cristã religião.
Se ele não tinha fibra
pra ser ministro de Cristo,
renunciasse à igreja;
hoje estava fora disso:
talvez não fosse assassino,
odiado e mal visto.
Pois bem, esse dito padre
coração de caifaz
achou que tudo fazia
e depois saísse em paz,
dando uma vela a Deus
e outra pra Satanaz.
Foi quando dom Expedito,
o bispo de Garanhuns,
sabendo daqueles fatos
por rumores e zunzuns
resolveu tirar o padre
dos seus atos incumuns.
Fez ciente ao padre Hozana
que este fazia jus
à condenação de Deus
por ser um padre sem luz
ficando o mesmo suspenso
da igreja de Jesus.
O bispo fez o ofício
confiado em Geová
e mandou ao padre Hozana,
vigário de Quipapá,
pra esse ficar suspenso
de fazer sermões por lá.
O padre Hozana ficou
bastante contrariado;
consigo mesmo dizia
‘o bispo está enganado;
eu sou padre na igreja
mas fora sou um danado’.
De rato este padre Hozana
tinha vida dezabrida;
de púlpito da matriz,
a sua doce guarida,
ele espancava a pessoa
que falasse de sua vida.
Descompunha os infelizes
que iam lá na matriz;
espancava até menores
com sua fúria infeliz;
dentro lá de Quipapá
sempre fez o que bem quis.
Então esse dito padre,
ao par da intimação,
disse que dom Expedito
iria pedir perdão
a ele, por ordenar
logo sua suspensão.
Com o revólver na cinta
e no coração o mal,
o padre Hozana seguiu
pra difusora local
tentando manchar o bispo,
nessa hora seu rival.
Chegando na difusora
lá não foi bem recebido;
pra usar o microfone
ele não foi atendido;
então saiu furioso
já bastante decidido.
Chegando na diocese,
quando a porta se abriu,
o bispo Expedito Lopes
na sua frente surgiu;
o padre como um demônio
contra a vítima investiu.
Sacando de seu revólver
nessa triste ocasião,
três estampidos soaram
foi tremenda a explosão,
e logo dom Expedito
ferido tombou no chão.
O primeiro que ouviu
dos estampidos a zuada,
soldado José Cordeiro,
que, não sabendo de nada,
foi entrando no palácio:
ali cismou da parada.
Pois, o padre vinha louco
correndo desembalado,
entrando logo num jeep
ali estacionado,
saindo em velocidade
com destino ignorado.
O soldado então entrou
no palácio episcopal;
seus olhos se depararam
com um quadro sepulcral:
dom Expedito jazia
em sangue ali no local.
Dom Expedito gemia
se contorcendo de dores;
ele, sendo tão pacato,
nunca pensou em horrores;
estava em leito de espinhos
quem tanto cuidou de flores.
Foi levado ao hospital
dali a dado momento
pois a notícia espalhou-se
do triste acontecimento,
e no Hospital Dom Moura
parou o seu sofrimento.
Pois, não suportando as dores
sua vida foi passada
às duas horas e quinze
de uma triste madrugada,
deixando o povo tão triste
e a cidade enlutada.
O mundo é um vale de lágrimas
a morte temos por certo;
nossa vida é por enquanto,
nosso túmulo vive aberto;
contente o bispo vivia
porque ainda não sabia
que a morte estava tão perto.
Terminarei, caros leitores,
nada mais tenho a dizer;
o triste acontecimento
estou disposto a vender;
de um jornal escrevi
porque lá não assisti:
melhor não pude fazer.