O NINHO
Adelino Fontoura
És como a doce juriti da mata,
Ligeira, esquiva, tímida e medrosa:
Foges de mim tremente e suspirosa,
Como quem de um perigo se recata.
Mas não sei, afinal, criança ingrata,
Porque foges: não sei porque amorosa
Tua alma casta, angélica e bondosa,
Com tão doce esquivança me maltrata.
Abre as asas à luz serenamente
E vem fugindo aos gelos do deserto
Buscar o sol do meu amor ardente.
Dirige para mim teu voto incerto,
Pois tens meu coração, pomba inocente,
Como um tépido ninho sempre aberto.