Zequinha era um sapateiro “lambe-sola”, bom no ofício, mas dominado pela bebida. O que ganhava gastava com cachaça. Bebia diariamente, e dizia que não parava de beber, com medo de ter ressaca e não poder mais trabalhar. Tinha certeza de que ficaria acamado, se deixasse a bebida. Todos os dias, tinha que tomar algumas chamadas de cana. Era um homem inofensivo, humilde e simpático.
Conformado com a sua vida solitária, Zequinha havia desistido de casar, pois nenhuma mulher quis se sujeitar à sua bebedeira e à sua vida desregrada.
Também era viciado em jogo de bicho, e diariamente fazia uma fezinha. Quando ganhava, era pouco dinheiro, no grupo.
Um certo dia, Zequinha jogou no bicho e, dessa vez, acertou no milhar. Ganhou um bom dinheiro, que lhe garantiria a sobrevivência por algum tempo, se não torrasse todo em cana. Foi logo receber o prêmio e guardou no bolso, com todo o cuidado.
Muito feliz com o dinheiro ganho no jogo do bicho, dirigiu-se logo à Loja “Guararapes”, e comprou uma muda completa de roupa. Noutra loja, comprou um par de sapato “Conga”. Dirigiu-se ao barraco precário onde morava e tomou um banho de cuia, para trocar os trapos com que andava vestido.
Depois que se aprontou, pôs de molho num tanque com água e sabão a roupa velha que usava, e que daria de esmola. Saiu, então, todo faceiro, para festejar sua sorte num bar de gente rica, que nunca pôde frequentar. Nesse bar, às vezes, ele ficava somente pitigorando os petiscos e bebidas caras que os ricos consumiam.
A notícia do prêmio de Zequinha, entretanto, já havia se espalhado. Entrou no Bar da Jia, de cabeça erguida, pediu logo whisky e uma refeição para matar a fome. Logo se embriagou, fez discurso, disse que agora estava rico, e que, . finalmente, a sorte tinha olhado para ele.
Já tarde da noite, pôs a mão no bolso para pagar a conta, coisa que nunca tinha podido fazer na vida, e o bolso estava vazio. Pensou logo que havia sido roubado. A confusão foi grande. Depois, adormeceu na mesa do bar e só acordou pela manhã. Veio-lhe, então, à memória, as roupas velhas que tinha posto de molho em água e sabão. Empalideceu e correu para casa. A sua decepção foi grande. O dinheiro que ganhara no milhar e que guardara no bolso da calça velha, estava de molho junto com toda a roupa. Todas as notas haviam perdido a cor e não houve jeito de recuperar.
Dizem que o “bicho” dá e o bicho “come”. Mas, nesse caso, quem comeu mesmo foi água e sabão.