O MENINO E O CAVALO
O menino açoitava o cavalo, berros altos, na avenida àquela tarde interditada para carros. Além da gente que por ali passava, o menino, o cavalo e outros passantes, a pé. Parecia estar perdido o menino, só ele e o animal. Doeu-me vê-lo chorar e chamar por seu pai. Depositava toda sua amargura naquele animal, indefeso, ali à vista de todos. Doía-me o choro do menino e o maltrato que ele impunha ao cavalo que, por alguma razão, empancou e não quis seguir, não lhe deu ouças, não lhe obedecia. Pareciam estar perdidos, os dois, menino e cavalo. Quis ir até lá, tentar ajudá-los, ainda que sem saber como. Um homem da rua, morador próximo, antecipou-se explicou-me que tudo não passava de um golpe, bem planejado e objetivo. Consistia em atrair o passante até o reduto onde moram, menino e cavalo, favela próxima, para ali encontrar seus cúmplices de maior idade, roubando todos os pertences do incauto. E aí, tive pena do menino, muito mais que do cavalo.
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