A vida imita a arte, muito mais do que a arte imita a vida… (Oscar Wilde)
“A Escolinha do Professor Raimundo”, programa do saudoso e genial humorista cearense, Chico Anysio, durante anos encantou os telespectadores brasileiros. Nesse programa, entre outros personagens hilários, havia um que se destacava: “Seu Rolando Lero”. As reações desse personagem, coincidentemente, eram idênticas às de algumas pessoas, arroladas como testemunhas, em processos criminais.
Esse caso ocorreu há várias décadas, numa Comarca do interior do Rio Grande do Norte.
Foi cometido um homicídio em Serra Negra do Norte (RN), em plena via pública e em frente à principal Barbearia da cidade, frequentada por fazendeiros ricos, chefes políticos e outras pessoas importantes da comunidade. Ali, era o ponto de encontro, onde tudo que acontecia na cidade, de bom ou de ruim, era comentado.
O barbeiro Manoel Divino, proprietário da barbearia, foi arrolado como principal testemunha do crime, no inquérito e na denúncia, para ser ouvido em Juízo.
No dia da audiência de instrução e julgamento, o barbeiro compareceu ao Fórum, visivelmente nervoso. Aguardava, com ansiedade, a sua vez, para relatar ao Juiz, na presença do Promotor de Justiça, do Advogado e do Escrivão, e de todos os interessados no processo, o que sabia informar sobre o fato criminoso.
Iniciada a audiência, o Juiz perguntou à testemunha:
– O que a testemunha sabe dizer, sobre o crime ocorrido em frente à sua barbearia, e a morte de Antônio Bento da Silva, na tarde de 10 de março do corrente ano?
Demonstrando uma grande surpresa, o barbeiro respondeu, com voz trêmula:
– Doutor, o senhor está dizendo que o meu compadre Antônio Bento morreu? Mataram o meu compadre???– Juro que estou sabendo desse acontecimento infeliz, agora. Pode acreditar, Dr. Juiz, que eu não sabia dessa tragédia! Então, o meu compadre, amigo e melhor cliente morreu e eu não fui avisado?!!!
Ato contínuo, a testemunha puxou um enorme lenço do bolso da calça e disparou num choro compulsivo, abrindo as torrentes e ensopando o lenço de lágrimas.
O barbeiro, principal testemunha arrolada, não teve mais condições psicológicas para dar o seu depoimento, indispensável na elucidação do fato criminoso. .
O Juiz dispensou a testemunha, marcando outra data para ouvir o seu valioso depoimento, sem tanto nervosismo.
A cidade inteira sabia que Manoel Divino tinha sido testemunha ocular do crime. Seu depoimento seria de suma importância nos autos.
Essas cenas imprevistas, em que as testemunhas são acometidas de surtos nervosos, são comuns, quando elas são ameaçadas pela parte contrária ou, praticamente, são obrigadas a depor. Ninguém gosta de ser testemunha, principalmente em processos criminais. Por isso, é fato comprovado, que, mesmo jurando dizer a verdade, é comum as testemunhas omitirem, nos depoimentos, detalhes importantes por elas testemunhados, e que, por si só, bastariam à elucidação do crime… Essas omissões prejudicam o julgamento dos processos, e tornam a justiça mais lenta..