Quase sempre, a palavra “mania” é utilizada para se referir a um mau hábito, vício ou esquisitice, ou ainda superstição, que algumas pessoas apresentam, como só usar roupas de determinada cor, roer unhas, fumar, viver com o dedo no nariz etc.
Entretanto, as “manias cotidianas” das pessoas, ou seja, os hábitos repetitivos e, em muitos casos, extravagantes, só podem ser classificadas como algum tipo de transtorno mental, quando se tornam prejudiciais às diferentes esferas da vida do indivíduo. Neste caso, as manias podem ser consideradas transtornos obsessivos-compulsivos (TOC).
Todo homem tem suas manias, mesmo sem ser doido. Há homem que só dorme de meia; mulher que só dorme de touca; outros tem mania de assobiar; alguns são cantores de banheiro, pois só tomam banho cantando; e ainda há aqueles que só se servem do vaso sanitário, lendo jornais, ou usando o celular.
Pois bem. Um rico fazendeiro do nordeste, “coronel” Josias, era um homem virtuoso, chefe de família exemplar, que nunca havia passado uma noite fora de casa. Evitava qualquer viagem, se não pudesse voltar no mesmo dia.
A posse do Sr. Manoel Soares, no cargo de ministro do governo federal, implicou numa quebra de rotina na vida do bem conceituado “coronel” Josias. Compadre e correligionário do ilustre político, não poderia faltar à importante cerimônia da sua posse. A esposa, D. Mafalda, mãe dos seus dez filhos, e sua companheira de cama há dezesseis anos, não quis acompanhá-lo. A viagem, apesar de tentadora, seria muito incômoda para ela, que nunca passara uma noite fora de casa, deixando os filhos entregues às serviçais.
O fazendeiro mandou preparar duas malas de mão, e viajou para o Rio de Janeiro para a posse do amigo.
A primeira noite de capital, para ele, foi uma tortura. Habituado à vida caseira e doméstica, não conseguiu dormir. A falta da esposa na cama o incomodou, além da saudade da casa e dos filhos. Não conciliou o sono e viu o dia amanhecer.
Sentiu tanta saudade de casa, dos filhos e, principalmente, da esposa, que um empregado do hotel onde estava hospedado, ao levar-lhe o café da manhã no quarto, perguntou-lhe se estava doente, e ele lhe contou da insônia que tivera.
Durante o dia, saiu para a posse do amigo, encontrou outros conhecidos e as boas conversas fizeram com que se divertisse.
Entretanto, à noite retornou ao hotel, e, mesmo cansado, a saudade e a insônia voltaram a lhe perturbar. Fechava os olhos e apertava as pálpebras para ver se dormia, mas a simples lembrança de que estava muito longe de casa o torturava. O sono lhe fugia e a saudade aumentava. Ficava a remexer-se aflito, na larga cama, e não conseguia dormir.
Após duas horas de martírio, deitado na cama, mas sem conseguir dormir, o fazendeiro levantou-se e começou a andar de um lado para outro, num estado de nervos, que hoje seria chamado de “crise de pânico”. Apavorado, teve uma ideia “sui generis”. Tocou a campainha, chamou o empregado do hotel e falou:
– O senhor pode me arranjar uma escova de cabelo, mesmo usada?
– Posso sim, senhor. – Respondeu o empregado, assustado, achando que o hóspede só podia ser doido.
– Traga-a aqui, por favor! – Ordenou o hóspede.
O empregado, rapidamente, trouxe a escova, recebeu uma gorjeta e saiu. O fazendeiro a segurou pelo meio, do lado do pelo, com a mão aberta, e, apagando a luz, deitou-se na cama e dormiu o “sono dos justos”, até de manhã. Adormeceu, segurando os pelos da escova, como se tivesse tomado um calmante.
Cada doido, com sua mania…