Em 27 de junho deste ano, minutos depois de noticiada a absolvição de João Vaccari Neto pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, os devotos de Lula anteciparam o Carnaval para festejar o que o companheiro Rui Falcão qualificou de “uma vitória do PT e da verdade”. Condenado pelo juiz Sergio Moro a 15 anos e quatro meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-tesoureiro nacional do partido se livrara da punição no julgamento em segunda instância.
Para os desembargadores do tribunal baseado em Porto Alegre, faltaram provas que confirmassem as revelações feitas em delações premiadas. “A revisão da pena mostra o cuidado que deveria ser tomado pelas autoridades antes de aceitar delações premiadas que não são acompanhadas de provas”, ensinou Gleisi Hoffmann.
Em 26 de setembro deste ano, com o mesmo argumento, o TRF encarregado de revisar as sentenças da Lava Jato anulou outra condenação sofrida por Vaccari. O PT ignorou o aumento da pena aplicada a José Dirceu – de 20 para 30 anos de cadeia – e recomeçou imediatamente o Carnaval temporão.
“A segunda absolvição do companheiro Vaccari mostra que o Judiciário pode sim corrigir os erros cometidos pela Vara de Curitiba”, declarou Gleisi. Nesta semana, ao examinar um terceiro processo protagonizado pelo inventor do pixuleco, o tribunal resolveu corrigir o que lhe pareceu mais um equívoco de Moro.
Para os desembargadores, o juiz da Lava Jato errou ao condenar Vaccari a dez anos de cadeia. E aumentaram para 24 anos o tempo em que o delinquente irrecuperável terá de fazer parte da população carcerária. Pronto para a continuação da festa, o PT demorou sete horas para comentar a péssima notícia.
Numa nota oficial, o partido declarou que “está solidário com Vaccari e sua família e confia que a Justiça ainda será feita”. A forma e o conteúdo indigentes sugerem que o texto foi produzido por redatores reservas. Os titulares já devem estar preparando o palavrório sobre a confirmação em segunda instância da condenação de Lula por corrupção e lavagem de dinheiro.
Gleisi Hoffmann, que ao celebrar as duas absolvições de Vaccari se tornou avalista das decisões do TRF, está proibida de incluir os desembargadores na conspiração internacional forjada para engaiolar o chefão. É tarde para escapar do castigo.
A condenação de Lula será confirmada em segunda instância. O que pode mudar é o tamanho do castigo. Os desembargadores talvez entendam que Lula merece mais que nove anos e meio de cadeia.