Era um dia feriado, consagrado ao Exército Brasileiro. Um dia de laser, dentro do Quartel do 16 RI, em Natal, com várias competições esportivas, inclusive um jogo de futebol, disputado por dois times formados por Oficiais.
Na plateia, estavam presentes Tenentes, Capitães e o General Mendes Rosa, um homem careca, bonito e simpático, muito querido pelos oficiais e por toda a Corporação. Deficiente visual de um olho, em consequência de um acidente em serviço, esse General, optou por permanecer em atividade, mesmo tendo direito à transferência para a Reserva Remunerada. Para ele, era um orgulho continuar fazendo parte do serviço ativo do Exército Brasileiro.
As torcidas dos dois times de futebol já estavam a postos, esperando o início do jogo, que iria decidir um campeonato interno. Um deles seria o campeão do torneio e receberia uma taça relativa àquela data.
O jogo começou cheio de emoção, e somente no final do 2º tempo, foi que um dos times conseguiu fazer um gol sensacional, o chamado gol de placa. O autor foi o Tenente Luz, Oftalmologista do Corpo Médico do Exército, que, num assomo de euforia, não se conteve e disse para os colegas:
– PORRA!!! Este gol eu quero dividir com o General Carequinha!!!
A gargalhada dos colegas foi geral. Acontece, que o General Mendes Rosa, ouviu isso e entendeu que era com ele, que nunca admitiu ser chamado de careca ou carequinha por ninguém, principalmente por um Oficial que lhe era subalterno na carreira militar. O General, que estava assistindo ao jogo com alguns amigos e com eles tomava seu Whisky, não gostou nada do que ouviu. Sentiu-se ridicularizado, como se fosse um palhaço. Fechou a cara e se retirou.
O Tenente Luz, que não imaginava que o General tivesse ouvido o que ele falou para os colegas, arrependeu-se desde o dia em que nasceu e perdeu o fim de semana, nervoso e com dor de barriga, só em pensar na punição que deveria receber na segunda-feira. Sabia que seria punido por aquele desrespeito e podia até pegar uma cadeia.
O General Mendes Rosa gostava muito do Tenente Luz, e às vezes se consultava a ele. Não esperava nunca ser desrespeitado logo por esse Oficial a quem tanto prezava.
Na segunda-feira, logo cedo, o Tenente Luz chegou ao Quartel, e, imediatamente, foi chamado à sala do General. Levou um chá de espera de uma hora, no sol quente, até que recebeu a ordem para entrar. Quase tremendo de medo do que iria acontecer, foi recebido grosseiramente pelo General, que sempre o tratava por Dr. Luz, mas, dessa vez, limitou-se ao “Bom dia, Tenente Luz!”
E num tom grosseiro e autoritário, o General perguntou-lhe:
– O senhor pode repetir as palavras que proferiu no campo de futebol, sexta-feira, logo que fez o gol da vitória?
O Tenente, visivelmente nervoso, mas com toda altivez, respondeu:
-Antes de repetir o que eu disse, confesso que me arrependi tremendamente e jamais repetiria aquelas palavras. Na euforia do gol, quis homenagear o senhor, sem imaginar que iria lhe magoar. O que eu disse foi:
“Porra! Esse gol eu divido com o General Carequinha! “
O General, com sua voz estridente, respondeu:
-O senhor me faltou com o respeito e me expôs ao ridículo, como se eu fosse um palhaço. Sempre o respeitei como médico, tratando-o por Dr. Luz, dando-lhe sempre um tratamento especial. Mas o senhor não correspondeu.
O Tenente Luz, bonito e vaidoso, não cortava os cabelos à moda militar. Tinha uma cabeleira negra e sedosa, o que era uma liberalidade que gozava junto ao seu superior.
O General não disse mais nada. O Tenente Luz foi entregue ao ajudante de ordem, para ser encaminhado à barbearia da corporação, onde teve a cabeleira raspada, sendo preservada, apenas, uma pequena trunfa na parte superior.