– Josimar você não tem vergonha? Só faltava essa, casar com a filha de sua terceira ex-esposa, uma menina mais nova que você quase 40 anos. Você tem vergonha não? Hoje ela está com 20 anos, novinha bonita, atraente, os homens gostam da juventude, mas quando você chegar aos 70 anos ela ainda estará no auge dos 30 anos. É uma ponta certa do tamanho de um bonde.
Repreendia Virgínia, a irmã mais velha de Josimar, solteira, invicta, ligada à Igreja de São Pedro, autêntica filha de Maria, cheia de preconceitos e dogmas, reza todos os dias pela alma de Josimar, seu único irmão, seu último parente, mas fica estarrecida com sua vida de mulherengo incorrigível.
Há alguns anos quando o irmão casou-se a primeira vez, Virgínia comemorou, afinal o mano querido sairia da vida pecaminosa de solteiro, cheio de raparigas e amantes. Foi difícil para Josimar acostumar-se com a vida de casado. Nas sextas-feiras, ao meio dia, saía direto para o Bar do Pontal, ponto de encontro de suas amizades, inclusive algumas garotas de programa. Mesmo com o nascimento de seu filho, Josimar continuou sua vida de boêmio. O casamento durou cinco anos, a separação foi até um alívio para esposa. Josimar nunca deixou faltar nada na casa da ex-mulher e do filho. Ele tem um bom emprego arranjado por um amigo de infância, deputado, uma sinecura federal, aparece uma vez por semana, é um tremendo funcionário boa vida.
Certa vez apareceu uma prima da Bahia, toda frajola, morena da cor de melaço, encantou nosso herói, saiu com ele várias vezes, ficava nas preliminares, mas nada do jogo principal. Marta, a baiana, dizia que ali só entrava casando. Muita cantada, muita lábia gasta pelo boêmio, porém Marta resistiu bravamente. Quem não resistiu foi Josimar que terminou casando-se na Igreja de São Joaquim na cidade baixa de Salvador, com uma alegre recepção na casa dos primos. Sua família e amigos viajaram para Bahia num ônibus fretado. Quem mais ficou alegre foi Virgínia pensando que a prima consertaria a vida do irmão mulherengo. Nos primeiros meses o casal vivia de mãos dadas em lua-de-mel, aparecia em todos os lugares, enamorados. Os amigos comentavam, quem diria? Como uma mulher pode transformar um homem.
Certo dia chegou um recado de Brasília do deputado mandando Josimar resolver uma questão em Delmiro Gouveia, sertão alagoano. Ele não é advogado, mas tem conversa convincente, sabe defender pertinentemente seus pontos de vista, mesmo que esteja errado. No sertão ele resolveu a questão mais cedo que pensava e retornou ao lar pensando nas noites de amor com a baiana do rabo grande, sua digníssima esposa. Ao entrar no apartamento ouviu um barulho estranho, no quarto deparou-se com uma imagem que até hoje está fixada em sua mente e em sua alma. A bela Marta deitada na cama com um dos funcionários do prédio. Deu-lhe uma dor no coração, saiu do apartamento, foi para um bar encher a cara de cachaça. Terminou o casamento com um chifre enorme que ainda hoje dói. Prometeu nunca mais casar na sua vida, dedicar-se apenas às raparigas.
Anos depois conheceu, por intermédio da irmã, Mariluce, uma viúva, madura, bonita coroa, com uma filha de 16 anos, Maria da Penha. Josimar se encantou, andava cansado da vida solteira, os amigos casados, ele já não conseguia uma conversa adequada à sua idade nas noitadas cheias de jovem. Com certo tempo acertou formalmente e casou-se pela terceira vez. Mãe e filha foram viver no apartamento de três quartos do jovem coroa Josimar. Ele ficou feliz com seu novo casamento e deu-se às maravilhas com Maria da Penha, dizia que a enteada era a filha que não teve. Matriculou e custeou a moça na Faculdade de Direito. Quando podiam viajavam os três. Maria da Penha tinha o padrasto como confidente sobre seus namorados. Josimar dava-lhe vestidos, perfumes, até um carro seminovo a enteada ganhou. A mãe ficava com ciúmes pelo tratamento dado à sua filha, achava que ela também merecia. O tempo foi passando até que estourou a bomba. Josimar apaixonado por Maria da Penha deixou a mulher e foi viver com sua filha, um escândalo. Ele está feliz da vida diz que o futuro é hoje. Nem ligou com a espinafração que a querida irmã Virgínia estava lhe dando naquele momento.