As eleições para renovação da Câmara e recomposição do Senado se aproximavam e atemorizavam o velho senador politiqueiro, que não queria perder sua poderosa máquina eleitoral. Para isso, sempre se conduziu bem, não hesitando em atropelar amigos e se contemporizar com certos adversários. Sentia-se vitorioso e forte, como um homem que nunca se curvou a ninguém e a todos esmagou pelo caminho.
Enquanto ouvia as informações, trazidas pelo “formigueiro” que lhe garantia o prestígio, entrou no seu gabinete, com intimidade, um antigo senador, afastado das lides partidárias. Era um velho companheiro, que preferiu gozar em sossego os proventos da sua aposentadoria, e que continuava desfrutando de considerações especiais.
– Você, por aqui?!!!- exclamou o “Poderoso Chefão”, tirando o charuto cubano da boca, cheia de enormes dentes, que lembravam um animal feroz.
O visitante sentou-se satisfeito e aguardou sua vez de conversar com o velho amigo, confidencialmente.
Até que o senador lhe perguntou o motivo da sua visita, e ele entrou no assunto:
– O que me traz aqui, amigo, é a situação de Josivaldo, meu afilhado. Ele precisa entrar para a Câmara e o seu apoio é fundamental. Se ele contar com o seu apoio, já é meio caminho andado. Conto com você.
O senador, acostumado a esse tipo de pedidos, lançou para o teto uma baforada do charuto que fumava e perguntou se o protegido do amigo tinha vocação para a política e se era um homem íntegro.
A resposta foi “sim”.
O senador continuou:
– Então, creio que não há nada contra ele. Vamos fazer o que for possível para que ele seja eleito.
Olhando nos olhos do velho companheiro, o senador percebeu uma certa preocupação e perguntou qual a razão do seu temor de que Josivaldo, seu protegido, não consiga se eleger para deputado.
Encabulado, o velho companheiro falou:
– O problema, amigo, é que ele é casado com uma mulher feia como um bicho!!! É de assombrar!!!
Com essa informação, a fisionomia do senador, que até então se mostrava risonha e satisfeita, mudou de expressão. O homem franziu a testa, unindo o bigode com a cabeleira, acendeu outro charuto, e, com ar preocupado, falou:
– Amigo, agora deu o diabo!!! Mas vamos ver!!!