Anos atrás, Mariana se inscreveu para participar de um Congresso de Direito Administrativo em Fortaleza, que ocorreria no Hotel Vila Galé, na Praia do Futuro. Como não havia mais vagas nesse hotel, sua filha Sílvia, que também participaria do evento, fez uma pesquisa na Internet, a fim de conseguir hospedagem num hotel que também ficasse na Praia do Futuro, e nas proximidades do hotel do evento. Sílvia terminou encontrando uma pousada, que se enquadrava, perfeitamente, às pretensões de sua mãe. A diária estava em promoção, ao preço de 60 reais, enquanto o preço da diária no hotel “5 estrelas” era quase 500 reais. Mariana lembrou-se do ditado “esmola grande, cego desconfia” e não quis nem saber.
Mais tarde, de cabeça fria e sem outra opção, Mariana terminou cedendo, e autorizou a filha a fazer as reservas de três diárias na tal pousada, e transferir os 50% de praxe, do valor da hospedagem.
Saindo de Natal, num voo executivo da Varig, às 14 horas de uma terça-feira, uma hora depois já estavam Mariana e a filha Sílvia, desembarcando no aeroporto de Fortaleza, onde um taxista as aguardava, exibindo um cartaz com o nome das duas, para levá-las ao “hotel”.
O táxi velho tinha escrito na porta o nome da pousada. O motorista, quase idoso, tinha aparência de sujo e vestia roupa visivelmente surrada.
A “pousada”, apesar de usar como referência de localização a Praia do Futuro, ficava num descampado, onde não se via viva alma, nem casas na vizinhança.
Muito desconfiadas, Mariana e Sílvia preencheram as fichas no balcão de entrada e perguntaram a uma atendente se havia muitos hóspedes ali, para participar do Congresso de Direito Administrativo, cuja abertura se daria na manhã seguinte. A resposta da funcionária foi positiva, e, além de já haver muitos hóspedes, segundo ela, outros estavam para chegar ainda naquela tarde.
O taxista permaneceu na portaria, conversando com as atendentes, enquanto Mariana e Sílvia foram encaminhadas à ”suíte” para elas reservada. Ficaram decepcionadas com a simplicidade e o desconforto do pequeno cômodo.
A pousada era uma casa térrea, antiga, e simples. No jardim havia uma pequena piscina, mas não se via nenhum movimento de hóspedes, parecendo mais que as duas estavam hospedadas num convento.
Mariana e Sílvia deixaram a bagagem no quarto e contrataram o mesmo motorista para levá-las ao Hotel Vila Galé, na esperança de que houvesse surgido alguma vaga. Em lá chegando, pediram que ele aguardasse um pouco, para, em seguida, deixá-las no melhor Shopping de Fortaleza.
Como por milagre, o hotel Vila Galé informou-lhes que no dia seguinte, logo cedo, iria desocupar uma suíte. Mariana não pensou duas vezes, e pagou logo a reserva das três diárias, no hotel do evento, como se as duas tivessem alcançado uma graça. De lá, o taxista as deixou no Shopping, cobrando-lhes um preço exorbitante, sem que elas contestassem.
O bonito Shopping havia passado por uma grande reforma e ali naquele templo de consumo, as duas lancharam, olharam as lojas e se descontraíram, por saber que no dia seguinte estariam no Hotel Vila Galé.
Voltaram para a pousada às 21 horas, e não viram movimento nenhum, fora as duas moças da “recepção”, onde tinham preenchido as fichas de entrada.
Dormiram assustadas e preocupadas em se levantar cedo, tomar café e se transferir para o hotel Vila Galé, antes da abertura do evento.
Foram as primeiras a chegar à sala de refeições. Pareciam ser as únicas hóspedes. do “hotel”.
Uma mulher morena e gorda colocava numa mesa de alvenaria, que separava essa sala, da cozinha, um bolo em fatias, uma bandeja pequena com fatias de queijo, uma bandeja com alguns pães do tipo “francês”, dormidos, uma garrafa térmica com café e outra com leite. Fora isso, açúcar e adoçante dietético.
Mariana e Sílvia esperavam, pelo menos, um café da manhã reforçado. Enquanto mãe e filha se entreolhavam, demonstrando insatisfação por estar ali, levaram um susto horrível. Uma voz estridente partiu da cozinha, dirigindo-se às duas:
-VOCÊS VÃO QUERER OVO???
A resposta das duas soou uníssona:
-Não! Obrigada!
A pergunta partira da mulher morena e gorda, que parecia ser a cozinheira do “hotel”.
Uma crise de riso se apoderou de Mariana e Sílvia, que se limitaram a se servir do que já havia na mesa.
A vontade era sair dali correndo.
Foram pegar as malas no quarto e pediram a conta. A “recepcionista” não perguntou nem o que tinha havido.
O mesmo taxista já estava na recepção. Foi quem levou Mariana e Sívia ao Hotel Vila Galé.
Essa arapuca serve de lição, para que ninguém acredite 100% nas ofertas da Internet.