"Foi o caso que uma boba domesticou de sua cadeira de rodas uma pombinha. Onde ia ela, ia a pombinha, só se afastava para ligeiro vôo ao redor do pátio - a paralítica estalava os dedos de aflição. Trazia uma vara na mão, sebosa de tanto a alisar: a ave prisioneira no círculo de alguns metros. Da varinha saltava para seu ombro, as duas beijavam-se na boca. As meninas faziam roda assustadas com a aleijada e deslumbradas com o bichinho pomposo, a cauda enfunada em leque, exibindo-se de galocha vermelha. De manhã, a pombinha morta. A paralítica gemeu sem sossego: a ave guardada numa caixa de sapato, não queria que a enterrassem. Para a acalmar, deram-lhe outra pombinha branca, e o que fez? Cravou-lhe no peito as agulhas de tricô."