Já disse reiteradas vezes, que não sou poeta. Não entendo de poesia nem sei fazer poesia. Vez, por outra, enquanto espero a hora passar – para onde e para que, não sei – faço uns rabiscos sem rima nem sentido.
Vejamos, o que consegui dizer:
O espelho cruel
Um rosto que demonstra cansaço e trabalho
Rugas no rosto são marcas indeléveis
Da passagem dos tempos na vida
Contam dias, contam meses, contam anos
Não escolhem gêneros nem tamanhos.
Rugas no rosto são marcas indeléveis
Da passagem dos tempos na vida
Embranquecem bigodes e sobrancelhas
Derrubam pálpebras, olhos e orelhas.
Rugas no rosto são marcas indeléveis
Da passagem dos tempos na vida
Anunciam Parkinson ou Alzheimer
Juntos, te levam para a coma na cama.
Rugas no rosto são marcas indeléveis
Da passagem dos tempos na vida
Não existe oração ou magia negra
Que te faça exceção da regra.
As mãos e seus calos
Mãos e calos que não aprenderam roubar
Olho para minhas mãos,
Grossas de calos e de trabalho.
Sinto o pulsar do coração,
E até escuto o correr do sangue
Pelas artérias que parecem pétalas
Renovadas pelo amor pulsante.
Olho para minhas mãos,
Grossas de calos e de trabalho.
Mãos que cavaram os chãos da vida
E alimentaram o pulsar do coração
Envelhecido pelos dias amargos
Entremeados nas escolhas bifurcadas.
Olho para minhas mãos,
Grossas de calos e de trabalho.
Calosas, enrugadas, traumatizadas
Pela dignidade do fazer e do servir.
Preparadas para um dia colher
O que os calos ajudaram a semear.