No centenário de 'A montanha mágica', João Pedro Cachopo lança 'O escândalo da distância', mostrando o que o clássico de Thomas Mann diz ao século XXI
Em novembro de 1924 foi publicada A montanha mágica de Thomas Mann. O romance cuja magnitude e complexidade seguem desafiando a maioria dos leitores como um dos livros mais importantes e fascinantes da história da literatura. João Pedro Cachopo, professor de filosofia da Universidade Nova Lisboa, se aventurou nas cerca de mil páginas do clássico e a partir delas escreveu O escândalo da distância: uma leitura da montanha mágica para o séulo XXI. O livro recém-lançado pela Tinta-da-China Brasil integra a coleção Ensaio Aberto que reúne publicações de autores que unem literatura e filosofia.
Nesse ensaio Cachopo relata a trajetória de Thomas Mann durante a escrita do livro, entre 1912 e 1924, em especial a sua relação complexa com a Primeira Guerra Mundial. O autor discute se a obra é ou não é um romance de formação e destaca a importância da tecnologia, seja na arte (com o gramofone, a fotografia e o cinema), seja na medicina (com a radiografia), que transforma o modo como se imagina o corpo, o desejo, a vida, o tempo e o espaço. Ele também reflete sobre as vantagens da distância para o pensamento e mostra que o livro de Mann ainda tem muito a dizer sobre o século XXI, uma era de aceleração tecnológica e a radicalização política.
O escândalo da distância: uma leitura da montanha mágica para o século XXI, de João Pedro Cachopo
“Devemos ouvir atentamente o que nos recomenda o ‘murmurante evocador do passado’, o narrador desse monumental romance, que buscava compreender a distância abissal entre um presente que mal acabava de começar e um passado tão recente quanto distante. É sobre distância este belo livro de João Pedro Cachopo, escrito com prosa elegante, avessa aos rodeios, determinada a buscar a profundidade da análise sem se render ao hermetismo acadêmico. O olhar distanciado permite que o autor evite o caminho das identificações prontas para o consumo: ao assumir as distâncias, é capaz de propor pontes entre épocas, sem que nos esqueçamos do abismo criado por mundos que não sabemos se mal acabaram de começar e ou se começaram a acabar.” — Pedro Caldas
Sobre o autor:
João Pedro Cachopo leciona Filosofia da Música na Universidade Nova de Lisboa, onde é membro do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical e colaborador do Instituto de Filosofia da Nova. Os seus interesses, atravessando os domínios da musicologia, da filosofia e dos estudos de media, incluem o impacto da revolução digital na cultura contemporânea, a relação entre as artes e questões de perfomance, dramaturgia e remediação. É o autor de Callas e os Seus Duplos (Sistema Solar, 2023), A Torção dos Sentidos (Sistema Solar, 2020; Elefante, 2021), traduzido para inglês como The Digital Pandemic (Bloomsbury, 2022), e Verdade e Enigma: Ensaio sobre o Pensamento Estético de Adorno (Vendaval, 2013), que recebeu o Prémio do PEN Clube Português na categoria de Primeira Obra em 2014. Co-editou Rancière and Music (Edinburgh UP, 2020), Estética e Política entre as Artes (Edições 70, 2017) e Pensamento Crítico Contemporâneo (Edições 70, 2014). Traduziu para português Georges Didi-Huberman, Jacques Rancière e Theodor W. Adorno.
Sobre a coleção Ensaio Aberto
Coordenada por Tatiana Salem Levy e Pedro Duarte, a coleção Ensaio Aberto é resultado de uma parceria originada no âmbito do Programa de Internacionalização da Capes (Capes-Print) entre a Universidade NOVA de Lisboa e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Os livros são publicados pela Tinta-da-china, em Lisboa, e pela Tinta-da-China Brasil, em São Paulo. Apoio: Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT - Portugal). A coleção é um exercício aberto de escrita que faz a filosofia e a literatura encontrarem-se.
Em outra obra recém-lançada da mesma coleção, O mar, o rio e a tempestade: sobre Homero, Rosa e Shakespeare, o professor, pesquisador, ensaísta e ficcionista Pedro Süssekind oferece novas leituras da Odisseia, de Grande Sertão: Veredas e de Rei Lear, tendo a filosofia como ponto de partida.
O mar, o rio e a tempestade: sobre Homero, Rosa e Shakespeare, de Pedro Süssekind
Há críticas que nos colocam em um diálogo com os mortos, no qual eles parecem vivos como nós, ou até mais. Isso é o que faz Pedro Süssekind ao interpretar as obras de Homero, Shakespeare e Guimarães Rosa em O mar, o rio e a tempestade. Reconhecido pesquisador de filosofia e estética, com artigos e livros publicados sobre esses três clássicos, Süssekind não apenas os dá a ver na força que tiveram em nossa tradição e em seus contextos históricos ou no modo como lidam com os gêneros literários; ele também permite, graças à fluidez de uma prosa clara, que surjam surpresas sobre a verdade e a narração na Odisseia, sobre a política, a matemática e o nada em Rei Lear ou sobre medo e coragem em Grande sertão: veredas. Em contraste com modismos literários que já nascem velhos, este livro mostra, pela leitura filosófica, como o arcaico pode permanecer novo, e como o clássico, conforme a definição do escritor italiano Italo Calvino, é “um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”.
“Uma viagem pelo mar de versos de Homero, pela tempestade da dramaturgia de Shakespeare e pelo rio de literatura de Guimarães Rosa.” — Pedro Duarte e Tatiana Salem Levy, coordenadores da Coleção Ensaio Aberto
Sobre o autor:
Pedro Süssekind Viveiros de Castro (Rio de Janeiro, 1973) é professor no Departamento de Filosofia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Doutorou-se em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2005, após estágio de pesquisa no Departamento de Literatura Comparada da Freie Universität, em Berlim. Entre suas publicações, destacam-se os livros Shakespeare, o gênio original (Zahar, 2008), Teoria do fim da arte (7Letras, 2017) e Hamlet e a filosofia (7Letras, 2021). Também é autor de três obras de ficção: o livro de contos Litoral (7Letras, 2004) e os romances Triz (Editora 34, 2011) e Anistia (HarperCollins Brasil, 2022).
FICHA TÉCNICA
O escândalo da distância: uma leitura da montanha mágica para o século XXI
João Pedro Cachopo
ISBN: 978-65-84835-35-1
Formato: 18,5 X 13 X 2,45 cm
Número de páginas: 176 páginas
Preço: R$ 64,90
Lançamento: novembro de 2024
O mar, o rio e a tempestade: sobre Homero, Rosa e Shakespeare
Pedro Süssekind
ISBN: 978-65-84835-32-0
Formato: 18,5 X 13 X 2,45 cm
Número de páginas: 216 páginas
Preço: R$ 74,90
Lançamento: novembro de 2024
Conheça outros títulos da Coleção Ensaio Aberto no catálogo da Tinta-da-China Brasil:
A Parte maldita brasileira, de Eliane Robert Moraes
Com os olhos voltados para a literatura brasileira desde o final do século XIX até hoje, a autora reúne os ensaios que marcam sua notável trajetória de crítica literária. Machado de Assis, Hilda Hilst, Nelson Rodrigues, Roberto Piva e Reinaldo Moraes são alguns dos nomes aos quais a ensaísta dedica sua reflexão, inspirada pelas concepções de Georges Bataille em torno da falta e dos excessos. “É este o tipo de obra de que necessitamos, mais do que nunca — aquele que nos convida a lidar com o caráter imaginativo da literatura em seus extremos mais gozosos e horripilantes”, escreve Amara Moira na orelha do volume.
Não Escrever [com Roland Barthes], de Paloma Vidal
Paloma Vidal acompanha os passos de Roland Barthes, investigando a obra do famoso crítico francês e questionando a sua própria escrita. O que levou Roland Barthes a não escrever o romance que desejava, no fim de sua vida? Uma reflexão poética sobre como a rotina, os medos, o corpo e as dúvidas se entrelaçam na criação de uma obra. “A obra formalmente mais inquieta de Vidal, ao implodir fronteiras entre os gêneros literários”, Leonardo Gandolfi, revista Quatro Cinco Um.