“Um dia, todos seremos estrelas no firmamento divino”
A selva que se inicia em cada um de nós
Ontem no exato momento que caía uma forte e contínua chuva, sem perceber que os anos se passaram e que envelheci, parei de ler, fechei o livro, e me pus a observar o direito aparentemente sagrado do ir e vir das estrelas, durante a noite.
Um desenho animado e multicolorido nos céus. Parecendo uma chuva de meteoros.
Aflito, resolvi fazer à mim mesmo uma pergunta:
– Por que os nossos direitos de ir e vir, não são assim, como o das estrelas?
Ninguém me respondeu. Não obtive resposta alguma. Nem mesmo de mim mesmo, à quem perguntei. Fiquei calado, pois não tinha mesmo o que responder.
Aliás, não sabia o que responder.
– Por que as estrelas, tão brilhantes e cintilantes, podem passear, ir e vir, e nós humanos, não?
Eis que uma voz distante, que provavelmente somente eu ouvia, respondeu trombeteando:
– Pois, transforme-se numa estrela, ora!
Me bastou a resposta da minha imaginação. Me bastou o campo ocupado do meu tempo – e assim, tudo me bastou.
Reabri o livro. Voltei à leitura.
Mas, ainda com o pensamento viajando – sempre para o passado efervescente da juventude – voltei a fechar o livro. Agora, deixando-o cair no chão de forma proposital.
Voltei o pensamento para a primeira namorada. Corpo bonito. Limpo de muitas coisas ou quaisquer outros problemas. Corpo jovem, viçoso, enfim. Seios rijos, dentes alvos e limpos, boca bonita protegida por um buço que, de tão real, precisava olhar com a lupa para ser percebido.
A beleza da terra e da noite de lua
Por que envelhecemos?
Que razão há para isso?
Por que, não permanecemos eternamente jovens?
Eis que, distante dali, aquela mesma voz que interferira noutro momento, mas ainda longe, e agora em tom mais suave, voltou a sugerir:
– Pois, transforme-se numa estrela!