José Ramos
Maracanã superlotado ao fundo – torcedores privilegiados assistem Garrincha “matando” Jordan
Tardes de domingo, Maracanã superlotado. Áreas externas sem espaços para estacionamento de veículos, e as torcidas continuavam entrando pelas duas rampas de acesso.
Dia de clássico. Dia de Mané. Dia de duelo entre Mané e Jordan – os dois mais diletos e respeitosos adversários que o futebol já mostrou no mundo inteiro. Mané, vestido com o manto do “Glorioso” Botafogo; e Jordan, vestido de Flamengo, como um touro “sofrendo” espetadas em Madri.
Garrincha nunca foi um atleta na acepção da palavra. Era uma pessoa que gostava de brincar com a bola, de se divertir com os amigos, de passar o tempo entre os amigos de Pau Grande, povoado onde nasceu e continuou por anos, morando, criando passarinhos e fazendo filhas. Fez uma reca delas – nem sei quantas.
Aos domingos “descia” para General Severiano, onde se juntava ao compadre Nilton Santos, ao Bob, ao Manga, ao Pampoline e ao Quarentinha, para descerem para o Maracanã e encontrar o amigo Jordan, de quem mais uma vez “roubaria” o bicho da feira da semana seguinte.
De um lado, Valdir Amaral, e do outro, Doalcey Bueno de Camargo, nas narrações radiofônicas afirmavam:
– Lá vai Mané com a bola para cima do Jordan. Hoje ele é só alegria. Balança, faz que vai, mas não vai. Volta e dá outra balançada… e Jordan dança, hora na frente, hora de lado, mas na maioria das vezes, atrás. Levanta, e volta a cair com novo drible. Esse Mané não tem jeito!
Era esse, sempre, o “script” do duelo que mais tinha de magia e beleza plástica, como se fora uma cena do cinema mudo de Chaplin. Tudo calmo, todo mundo observando e ao mesmo tempo rindo! Rindo sem que houvesse um palhaço fazendo graças.
Era apenas um gênio se divertindo, e brincando de jogar bola no Maracanã, diante do compadre Jordan.