Avó transmite ao neto a sabedoria do viver
O encontro não tinha nada mais, nem nada menos, do que um daqueles encontros que Deus põe nos nossos caminhos – o encontro casual para a transmissão da sabedoria e da experiência que a vida tatua em nós.
Uma rara peça no teatro da vida. Uma sombra, de onde se podia ver a mutação do humano na beleza que o sol nos impõe. Um diálogo repetido entre a Avó e o neto, na linha paralela, e no mesmo momento que duas borboletas desenhavam a vida com seus voos leves e invisíveis – os voos das vidas delas.
– Vó, espia aquelas duas borboletas – diz o neto, em êxtase visual!
– É. São muito bonitas – diz a Avó, aquiescendo.
– O que elas estão fazendo, vó? – indaga o pequeno.
– Elas estão conversando – responde a Avó.
– Como você sabe, vó? Você está escutando alguma coisa? O que elas estão conversando? – insiste o neto.
– Eu sei por que Deus me ensinou a ouvi-las, e a compreender o que elas falam – diz a Avó.
– Vó, um dia eu também vou ouvir e entender as borboletas? – pergunta o neto!
– Vai, sim! A gente só ouve bem, quando fica velho, e quando aprende a falar e a ouvir com o coração – dia a Avó.
Viver é melhor que sonhar
Viver é melhor que sonhar
“Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa”
Muitos, durante a vida inteira, estão sempre querendo ir para a cidade. Morar na cidade, trabalhar na cidade, estudar na cidade – ainda que enfrentando os problemas que estão na vida da cidade, em detrimento da paz e do sossego que encontramos todas as manhãs, depois de sermos acordados pelo cantar do galo.
Na cidade você (e acho que ninguém) não pode ter um galo. Ninguém aceita, na cidade, ser acordado todos os dias pelo cantar do galo. É um incômodo a mais acordar com aquele conhecido e tradicional co-co-ró-có. Ainda que o galo só cante uma vez, toda manhã.
Ou, em outros casos, com o glu-glu-glu do peru em resposta ao assovio. Com o relincho assoprado do jumento em “conversa” de namoro com a viçosa e “pronta” jumenta.
Polodoro que o diga!
E foi com base nessas teorias que, o sobralense Belchior, pela experiência vivida no interior cearense, escreveu:
“Viver é melhor que sonhar, eu sei que o amor é uma coisa boa”, parte da música eternizada por Elis Regina, “Como nossos pais”.
Elias, apenas 11 anos de idade, podia não ter a inteligência desenvolvida como os que estudam e colam grau em Harvard, mas sabia perfeitamente para que lado o vento sopra, por que a água evapora e, principalmente, por que a “vida na roça” é melhor e diferente da vida na cidade.
Profeticamente repetindo Belchior, Elias afirma: “Viver é melhor que sonhar.” Para Elias, quem vive na cidade grande nos dias atuais, apenas “sonha”. E repete: “viver é melhor que sonhar”.