O DESTINO DAS FLORES
Júlio Dinis
Um dia em que ambos nós, sobre a mesa do estudo
Numa noite hibernai, da lâmpada ao clarão,
Ele curvado a ler, eu a escutá-lo mudo,
Seguíamos com pausa, atentos, a lição.
Inda me lembro bem ! Falávamos das plantas, De sua curta vida e sua amena
cor,
Tantas pelos vergéis e pelos montes tantas, Que vivem, fenecendo após
aberta a flor!
— «Triste destino o seu», disse ele com voz lenta, Pousando
com tristeza a fronte sobre a mão,
— «Deus as manda florir, de seiva as alimenta, Mas cedo com as flor’s
caem murchas no chão.»
Triste destino o teu, ao delas semelhante, Pobre alma de poeta! On! que destino
o teul Deus te mandou cantar e o canto vacilante
Na Terra principiado acabaste-o no Céu.