O desejo de gravar nos Anos 1960 e período da Jovem Guarda, pelo guitarrista do Big Brasa,
João Ribeiro (Beiró)
João Ribeiro da Silva Neto
Este texto destina-se às pessoas que desejam saber mais sobre os processos de gravação nos Anos 60 e anos da Jovem Guarda, particularmente quando fundamos o Conjunto Big Brasa, em Fortaleza, em abril de 1967. Na atualidade os recursos digitais favorecem muito os processos de gravação. Um músico pode fazer um disco inteiro em sua própria casa, em um estúdio moderno, que o trabalho final terá uma qualidade muito boa, a depender logicamente das qualificações de quem manuseia os equipamentos. Mas nem sempre foi assim. É o que eu gostaria de relatar.
Desejo de gravar
Sempre tocando desde criança e na juventude fazendo parte de um conjunto musical, o nosso Big Brasa, com ensaios e experiências musicais sempre frequentes eu imaginei gravar uma música tocando todos os instrumentos. E mesmo com os recursos muito limitados assim fiz e deu certo, na medida do possível. Gostaria de ter ainda o áudio da primeira gravação, mesmo com todas as imperfeições existentes, naturalmente em boa quantidade. Na época podíamos gravar em estúdios com tecnologia analógica e que cobravam preços totalmente fora de nosso alcance.
A fita com estas primeiras gravações foi presenteada a um tio meu, que morava em São Luís do Maranhão. Ele ficou muito admirado com a proeza e disse que desejava mostrar as músicas para amigos.
O complicado processo de gravação caseira
Eu usava dois gravadores, daqueles pequenos e bem simples. Primeiramente coloquei um microfone para a bateria e gravei em um gravador de fita cassete, cerca de três ou quatro minutos. Depois, colocava um dos gravadores para reproduzir, ligando-o ao amplificador e gravava com o outro mais um instrumento, por exemplo, uma guitarra, que também usava a entrada do mesmo amplificador. Então tínhamos no final a bateria e a guitarra. E o processo continuava. Voltava a segunda gravação, com dois instrumentos e eu gravava mais outro. E assim sucessivamente. A qualidade do som ia se perdendo a cada gravação, mas era o jeito. Fazer o que?
E assim consegui gravar algumas músicas utilizando este artifício mecânico e dois simples gravadores de áudio, com as fitas cassete. A vontade de gravar e o gosto pela música foram preponderantes para o sucesso destas simples gravações, hoje perdidas no tempo e totalmente superadas pela tecnologia, conforme veremos a seguir.
Tecnologia mais avançadas, mas ainda com o uso de fitas magnéticas
Alguns anos depois voltei à música, desta vez convidado pelo amigo, músico e compositor Cesar Wagner Barreto para fazer umas participações de guitarra em um dos discos que ele produziu. Pois bem, o estúdio era o Proaudio, do também amigo, músico e competente sonotécnico Marcílio Mendonça. Nas inserções de guitarra durante uma das faixas eu errei em um dos trechos e estava ciente que teria que repetir tudo. E o que aconteceu: o Marcílio, calmamente, disse: “Beiró, treina aí um pouco que a gente faz novamente”. E eu fiquei com a guitarra repetindo e tentando aprimorar aquele trecho da música, totalmente concentrado na técnica para tudo sair certinho. Passados alguns instantes o Marcílio me chamou e disse, sorrindo: “Pronto, Beiró, ficou bom!”. E eu perguntei se poderíamos começar a gravação de novo, ao que ele disse: “Já está gravado, rapaz, disse sorrindo e apontando para uma fita DAT em que ele tinha gravado o trecho e inserido na gravação original! E então o Marcílio reproduziu a gravação por inteiro, quando pude constatar que os meus novos solos tinham sido inseridos de forma perfeita, sem precisar repetir nada. Com minha admiração o Marcílio sorria muito e me explicava como os processos estavam sendo feitos.
E assim fizemos mais outras gravações de forma bem eficiente e rápida do que aquelas de como iniciamos.
As gravações digitais
Recentemente temos um pequeno e modesto estúdio no qual aproveitamos para tocar um pouco e relembrar os tempos do Conjunto Big Brasa e compor um pouco também. Com a vantagem de poder reunir os amigos em torno de um mesmo objetivo, a Música. Com a tecnologia moderna, o uso de computadores, placas de som, mesas modernas e programas muito bons conseguimos gravar várias pistas de uma mesma música, mixar todos os sons, editar os trechos de forma digital com muita facilidade. Mas como as inovações não cessam de vez em quando eu preciso de dicas do Marcílio sobre como gravar ou empregar recursos variados. E ele, como eterno Big Brasa que é, me ajuda com a maior boa vontade.
Por João Ribeiro (Beiró)
Guitarrista-solo do Conjunto Big Brasa
LIVROS DE MINHA AUTORIA:
Espetacular a formatação no Almanaque Raimundo Floriano. Parabéns.