O CINE ÉDEN
Violante Pimentel
Paulo Bezerra era o retrato vivo da generosidade. Foi um dos maiores empreendedores de Nova-Cruz, na metade do século passado. Nessa época, na cidade, não havia agência bancária, e os financiamentos para instalação de empresas eram uma utopia.
Paulo Bezerra era baixinho, (1,55m) e franzino, mas dono de um grande coração. Era um sonhador e acreditava no futuro. Suas ideias eram ímpares, e ele não contava com assessoria técnica, para lhe dar orientações. Foi o dono do 1º cinema de Nova-Cruz, o “CINE ÉDEN”, cujo palco também serviu à apresentação de peças teatrais e shows. Nesse palco, houve encenação da peça O Avarento, de Moliére, com a troupe do grande artista Procópio Ferreira, além de apresentações de outras companhias de teatro, conhecidas nacionalmente…
Além de ter sido o dono do primeiro cinema de Nova-Cruz, Paulo Bezerra também foi dono de uma Gráfica, a única da redondeza, e de um enchimento de bebida, onde ele mesmo fabricava, artesanalmente, Vinho de Jurubeba, que, na época, tornou-se famoso na região.
O Cine Éden possuía um prefixo musical, que anunciava o início do filme. “Estrondava” no recinto a Ópera “O Guarany”, de Carlos Gomes. A plateia fazia silêncio total, igual ao que deveria ser feito durante a execução do Hino Nacional. O filme, propriamente dito, era antecedido de episódios de seriados, como TARZAN e JIM DAS SELVAS.
A torcida e a gritaria da plateia infantil e juvenil eram grandes. Eufóricos, todos torciam pelos seus heróis.
Os projetores não passavam o filme inteiro, e havia intervalos, para que o “rolo” da fita fosse trocado. Fora a troca normal dos rolos de filmes, havia interrupções da projeção, porque a toda hora as fitas se quebravam, A gritaria da plateia era grande, e Ernesto, o encarregado da projeção dos filmes, era xingado de fdp a toda hora. Quando recomeçava a projeção, Ernesto era louvado e aplaudido.
Os filmes de Carlitos e os de “O GORDO E O MAGRO”, além dos clássicos com John Wayne, Gary Cooper, Bette Davis, Robert Mitchum e outros, garantiam a frequência dos amantes do cinema
Lindalva, esposa de Paulo Bezerra, era a vendedora dos “ingressos”, ou “bilheteira”. A ordem do marido era de que a bilheteria fosse fechada, logo que acabasse a fila de compradores. Simultaneamente, era aberto o portão lateral, que dava acesso à plateia 2, para que a turma da pracinha, que ficava ao lado da Igreja Matriz e em frente ao cinema, pudesse entrar, gratuitamente. Era a “hora dos lisos”, que ocupavam a plateia 2, mais perto da tela, e onde assistiam o filme sentados em bancos, ao invés de cadeiras. A intenção de Paulo Bezerra era beneficiar os pobres e descamisados. Entretanto, a afluência maior, na “hora dos lisos”, era de “pirangueiros”, que preferiam se arriscar a saírem do cinema com torcicolos, por ficarem mal sentados e olhando para cima, do que pagar ingresso para a Plateia!, onde havia cadeiras.
Nova-Cruz teve a honra de ter sido berço de Paulo Bezerra, um homem generoso e preocupado com os pobres, que poderia muito bem ser cognominado de “Pequeno Grande Homem”.