– Comprou meu presente?
Nervoso, Genésio respondeu:
– Que presente? É seu aniversário?
– Não é meu aniversário, mas eu lhe pedi um chapéu…
Sem graça, Genésio respondeu:
– Daqui a alguns dias, eu comprarei. Vá se arranjando com o antigo, por enquanto. Ando gastando muito…
Friamente, os dois adormeceram.
Desapontada, Josina acordou cedo e foi cuidar dos afazeres domésticos, inclusive do café da manhã. Usando o chapéu velho, foi levar as filhas à Escola.
Essa rotina se arrastava com muita compreensão. Josina e as filhas sentiam a falta de Genésio na hora do jantar, mas acabaram se acostumando.
Genésio ganhava bem, e há dez anos tinha uma amante, teúda e manteúda, com casa por ele montada, bem melhor e mais moderna do que a casa onde vivia com a esposa e filhas.
Antigamente, na linguagem arcaica, chamava-se “teúda e manteúda”, a amante sustentada pelo companheiro. A expressão sobrevive no “juridiquês”.
Por economia, Josina não tinha empregada. Mas, agora, com 50 anos, sentia-se cansada e resolvera arranjar uma boa cozinheira. Vivia pedindo ao marido que arranjasse uma, nos classificados do jornal onde trabalhava, mas ele lhe devolveu a tarefa.
Por outro lado, Zilda, a teúda e manteúda, tinha uma cozinheira excelente, que também cuidava da casa.
Muito vaidosa, a amante frequentava academia e se cuidava muito. Tinha 45 anos, mas parecia menos.
Pois bem. Num fim de tarde, ao chegar à casa da outra, Genésio a encontrou chorando. Não havia jantar preparado. A empregada pedira as contas, sem mais nem menos.
Genésio, de táxi, chegara com um pacote na mão, para levar para sua casa, e pôs em cima de uma cadeira. Era o presente de Josina, Zilda, sem perguntar nada, abriu o pacote e se deparou com um chapéu muito cafona, cheio de laço de fita. Genésio não teve coragem de dizer que não era para ela, e sim para Josina, a esposa, a quem ele prometera..
Pediram sanduíche pelo telefone e Zilda se acalmou. Às 11 horas em ponto, Genésio pediu um táxi, saindo sutilmente, para não acordar a filial.
Como sempre, chegou em casa, cansado e com sono. A esposa disse que tinha arranjado uma cozinheira, que já viria pela manhã cedo.
“Para variar” , depois de um beijo na testa, adormeceram de costas, um para o outro.
Pela manhã, Genésio tomou um susto, ao ver a cara da empregada que a esposa havia arranjado. Era a ex-empregada da teúda e manteúda, que lhe preparava o jantar todas as noites.
Aproveitando a saída de Josina, para deixar as filhas na escola, ele indagou à empregada o motivo que a fizera sair da casa de Zilda. Muito franca, ela confessou que não aguentava mais, ver a ex-patroa, abrindo a porta para um rapaz, que todas as noites dormia com ela. Esse namorado era antigo e ela o sustentava.
Genésio só acreditou na empregada, após pegar Zilda em flagrante.
Depois dessa decepção, Genésio acabou o relacionamento com Zilda e passou a jantar em casa.